Análise: Crises no governo ameaçam imagem do legado lulista

Por MAURO PAULINO
Diretor-geral do Datafolha
Por ALESSANDRO JANONI
Diretor de Pesquisas do Datafolha

O recorde de reprovação a Dilma Rousseff (PT) revela um fenômeno curioso de homogeneização da opinião pública. O resultado produz um quadro simetricamente oposto à curva de aprovação de seu padrinho político no último ano de mandato. Ao longo de 2010, Lula pavimentava a vitória de sua ministra sobre patamares históricos de popularidade que variavam de 73% a 83%.

Taxas tão altas em universo tão heterogêneo ocorrem apenas quando os vetores que as compõem têm impacto abrangente e alcançam diferentes segmentos da população. A característica aguda da crise política e econômica anulam o discurso ostensivo da inclusão social, marca do lulismo, mesmo junto aos estratos que mais se beneficiaram das ações do governo.

Para melhor compreender essa tendência, o Datafolha replicou na pesquisa de 4 e 5 de agosto método desenvolvido para dividir a população em classes socioeconômicas com base em renda familiar mensal, posse de itens de conforto e escolaridade.

A clivagem foi uma das variáveis que demonstraram maior grau de correlação com o comportamento do brasileiro na última eleição presidencial. Percebia-se claramente a preferência das classes alta e média-alta por Aécio Neves (PSDB) e das classe média-baixa e dos chamados excluídos por Dilma. A classe que mais cresceu nos governos petistas –média-intermediária– mostrava-se dividida. Filhos da inclusão da era Lula, acabaram, no final, pendendo à candidata do PT.

Como a expectativa era positiva, os estratos que mais apoiavam a presidente na ocasião são hoje os mais frustrados. De outubro de 2014 até aqui, a aprovação a Dilma caiu 44 pontos percentuais entre os excluídos contra 34 na média da população. Apesar de ser o subconjunto que menos reprova a petista, o crescimento de sua insatisfação perde apenas para a classe média-baixa, onde a popularidade caiu 40 pontos e a rejeição subiu 63 (doze a mais que a média).

Na classe média-intermediária, a reprovação cresceu 53 pontos e a aprovação caiu 38. Nas classes mais altas, a queda de avaliação de Dilma também é importante, mas não tão elevada quanto nos outros segmentos nos quais sua imagem era melhor.

Mais dependentes do governo, especialmente na educação e na assistência social, esses estratos temem o retrocesso que tentaram evitar ao reeleger Dilma. No final do governo FHC, por exemplo, 17% dos brasileiros pertenciam à classe média-intermediária (hoje são 32%). Entre eles, 22% eram assalariados registrados (hoje são 30%).

Por enquanto, mesmo com poder aquisitivo menor, esses estratos ainda “não perderam a classe”. Mas há de se perguntar se a impopularidade de Dilma hoje é maior do que o medo do que pode acontecer a partir de agora.

Aulão do Cursinho Popular Professor Edilson de Góis é sucesso em Caruaru

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Centenas de alunos puderam tirar suas dúvidas e ficar por dentro de dicas sobre o Enem (Foto: Divulgação)

O auditório da Fafica ficou lotado, neste sábado (8), durante as aulas do Cursinho Popular Professor Edilson de Góis, promovido pela Secretaria de Educação.

Centenas de estudantes puderam tirar suas dúvidas e ficar por dentro de dicas que irão facilitar a compreensão nas quatro áreas do conhecimento que constarão nas provas do Enem deste ano, que acontecerá nos dias 24 e 25 de outubro.

Os professores Newton, Veridiano e Daniel estiveram à disposição da turma para tirar dúvidas sobre ciências humanas. Marcelo Bezerra e Marco Aurélio ministraram as aulas referentes a ciências da natureza. Já questionamentos de matemática foram esclarecidos por John e os de língua portuguesa, por Menelau Júnior.

Os alimentos não perecíveis que foram arrecadados durante o encontro serão doados, posteriormente, a instituições de caridade.

O próximo aulão do Cursinho Popular está marcado para o dia 29 deste mês.

Dilma aguarda nova lista de Janot para iniciar reforma ministerial

Do Blog do Gerson Camarotti

Apesar da pressão que deve ser reforçada hoje na reunião de coordenação política, a presidente Dilma Rousseff quer aguardar a nova lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, desta vez com os políticos denunciados da Operação Lava Jato, para deflagrar uma reforma ministerial.

Dilma tem sido cobrada por aliados petistas e até pelo ex-presidente Lula a refazer o desenho da Esplanada dos Ministérios e com isso recuperar apoio da base aliada no Congresso.

A presidente, contudo, quer ter um quadro mais claro das investigações sobre a corrupção na Petrobras para evitar nomeações de políticos envolvidos no esquema.

No final do ano passado, Dilma já havia feito isso quando deixou para a última hora o anúncio da equipe ministerial do novo governo e mesmo assim só anunciou Henrique Eduardo Alves para o Turismo depois que ele foi excluído da lista de investigados de Janot.

Já outro aliado, o ex-ministro Aguinaldo Ribeiro, do PP, ficou de fora do ministério, porque seu nome foi incluído nos inquéritos da Lava Jato.

A divulgação da lista é aguardada para este mês de agosto.

Pautas-bomba e contas marcam volta do recesso na Câmara

Da Agência Brasil

A volta do recesso parlamentar foi marcada por uma semana com temperatura elevada na Câmara dos Deputados, envolvendo o governo e a oposição na votação das chamadas pautas-bombas, a aprovação das contas de ex-presidentes e a definição do comando das Comissões parlamentares de Inquérito (CPIs) criadas pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

O primeiro round da batalha girou sobre a votação da proposta de emenda à Constituição (PEC) 443/09 que vincula o salário da Advocacia-Geral da União (AGU), dos procuradores estaduais e municipais e dos delegados das Polícias Civil e Federal à remuneração dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O governo não conseguiu o adiamento da votação, o que abriu caminho para aumentar a crise política.

O governo queria adiar a votação e tentou costurar um acordo com os líderes partidários para tentar construir uma alternativa à PEC que, segundo ele, prejudicaria as contas públicas da União, dos estados e dos municípios, em cerca de R$ 9,9 bilhões ao ano.

Sem conseguir fechar acordo, a proposta acabou sendo votada na quarta-feira (5) e aprovada por 445 votos a favor e 16 contrários. A proposta vincula o maior salário dessas categorias a 90,25% do subsídio mensal dos ministros do STF. No acaso da AGU, o salário em final de carreira do advogado-geral da União passa de R$ 22.516,94 para os R$ 30.471,10. “Fizemos várias reuniões discutindo a PEC 443. O governo considera que a opção de votar essa PEC é do Congresso”, disse o líder do governo na Casa, José Guimarães (PT-CE)

O processo de debate em torno da PEC foi tumultuado e fez com que o PDT deixasse a base aliada e o PTB se declarasse independente. Após perder a votação de um requerimento de adiamento da votação da PEC, Cunha afirmou que o governo perdeu o comando sobre a base aliada. “O governo perdeu absolutamente o comando do processo e não é por minha causa”, disse. A declaração de Cunha foi repercutida pelo aliado e líder do PMDB na Casa, Leonardo Picciani (RJ) que disse que o modelo da base aliada “se exauriu”.

Durante a votação, Cunha disse que não votará o segundo turno da proposta antes de incluir na Constituição o texto da PEC 172, que impede a transferência de encargos a estados e municípios sem a respectiva receita. “Fiz a minha parte. Já anunciei que não voto o segundo turno da PEC 443 enquanto não votar a PEC 172 e ela ser promulgada. Essa proposta impede que se transfira encargos sem a respectiva receita para entes federados. Se ela [PEC] estiver no texto da Constituição, podemos concluir a votação. Se não estiver, do jeito que está não votarei”, adiantou.

A aprovação da PEC não foi o único revés sofrido pelo governo que viu ainda o plenário da Casa aprovar as contas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, abrindo caminho para uma eventual apreciação das contas da presidente Dilma Rousseff. O Planalto esperava que a votação fosse iniciada na próxima semana.

A apreciação das contas pela Câmara, contudo, está sendo questionada no Supremo Tribunal Federal (STF) pela presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO), Rose de Freitas (PMDB-ES) com o argumento de que a análise de contas presidenciais é prerrogativa do plenário do Congresso Nacional (sessão conjunta da Câmara e do Senado), não das duas Casas em separado.

A definição do comando da CPI destinada a investigar empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), instalada na quinta-feira (6) também desagradou ao PT, que perdeu a relatoria após articulações do PR com o PMDB. Coube ao partido apenas a segunda vice-presidência da Comissão, ocupada por Carlos Zarattini, de São Paulo.

Na CPI que trata de crimes cibernéticos, o partido, que tem a segunda maior bancada na Casa, disputa com o PPS a vice-presidência, a definição deve ocorrer na próxima terça-feira (11). O partido também corre o risco de ficar de fora da relatoria da CPI destinada a investigar possíveis irregularidades nos fundos de pensão, a ser instalada na quarta-feira (12).

A semana foi marcada ainda pelo bate-boca na CPI da Petrobras entre o presidente da comissão, Hugo Motta (PMDB-PB), e o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), durante a reunião para colher o depoimento do presidente da Mitsui no Brasil, Shinji Tsuchiya.

A Mitsui e a Samsung Heavy Industry no Brasil foram citadas em depoimento do doleiro Alberto Youssef como tendo pago propina, intermediada pelo lobista Júlio Camargo, ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e seu partido em um contrato de aluguel de sondas celebrado com a Petrobras. Tsuchiya disse aos deputados desconhecer o pagamento e a propina. Ele, no entanto, admitiu que Camargo atuou como representante da Samsung e que pode ter havido reuniões com a participação de funcionários da Mitsui.

A CPI também fez uma reunião para ouvir o empresário Milton Pascowitch, que em delação premiada disse ter intermediado o pagamento de propina ao ex-ministro José Dirceu e ao PT e que o dinheiro foi usado em campanhas eleitorais. Durante toda a reunião, que chegou a ser fechada ao público, Pascowitch permaneceu em silêncio e não respondeu às perguntas dos integrantes da comissão.

Eduardo Campos, o superpai

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Por CAROL BRITO
Da Folha de Pernambuco

Para os pernambucanos morreu um líder, mas para a família morreu um pai e um marido, o companheiro de todas as horas. A tradução da admiração e união familiar ganhou dimensão nacional a partir de um vídeo divulgado poucos dias antes da morte do ex-governador Eduardo Campos. Uma família que começou a ser construída de um namoro entre dois adolescentes Eduardo, com 15 anos, e Renata Campos, com 13, e foi mantida como prioridade, mesmo diante da carga horária pesada da vida pública.

A solução encontrada pelo ex-governador foi integrar a família ao seu trabalho de forma harmônica. Espaços como a varanda da casa do gestor e os jardins do Palácio do Campo das Princesas acabaram virando uma espécie de extensão da vida familiar. Também não era rara a visita de aliados políticos, secretários e até populares batendo na porta do ex-gestor. A varanda virava, muitas vezes, um comitê. As conversas e reuniões se estendiam durante todo o dia na residência dos Campos, no bairro de Dois Irmãos, para o lamento da Imprensa que aguardava ansiosa do lado de fora pelas notícias que eram costuradas do outro lado do muro.

Nas demoradas reuniões nos fins de semana na sede do Governo do Estado, Renata Campos chegava, muitas vezes, com os filhos do casal para almoçar com o marido. Tanto que era comum encontrar o filho mais jovem, José, correndo e abrindo as portas das salas do Governo. O garoto era um dos mais apegados ao pai e protagonizava cenas inusitadas durante os atos administrativos. Ainda bebê, roubou a cena no anúncio da saída de Eduardo Campos do Ministério da Ciência e Tecnologia. Em plena coletiva no aeroporto de Brasília, o garoto chamava a atenção com brincadeiras no colo da mãe. Com bom humor, Renata Campos não deixou escapar: “Espera um minuto, minha gente. Ele está pedindo um aparte”, brincou, descontraindo os jornalistas presentes.

Mas não bastava ser pai, era preciso participar. A vida escolar dos filhos, por exemplo, era um capítulo à parte. Eduardo Campos fazia questão de estar presente e acompanhar o desenvolvimento das crianças nas atividades escolares. Todo o início de ano, era época de encapar o livro dos meninos. Não importava o cargo ou a missão que desempenhava. Ministro de Estado, governador, deputado federal ou presidente nacional do PSB. Eventos como as feiras de ciências do colégio, reuniões escolares ou dia dos pais tinham espaço certo na atribulada agenda do líder político. Como governador, fazia questão de levar o filho José ao colégio, pelo menos, uma vez na semana. Eduardo Campos também não se furtava de fazer as atividades recreativas, desde escalar paredões até se fantasiar nas brincadeiras.

“Mesmo na época em que ele era ministro e estava mais ocupado com demandas do País todo, nas datas especiais do colégio dos filhos, dava um jeito de participar. Tinha uma foto dele com Maria Eduarda escalando um muro, ele sempre foi muito participativo”, afirmou o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Marcos Loreto, cuja a filha estudava no mesma escola que a filha mais velha do gestor.

Eduardo Campos não separava a hora de ser pai de família e ser governador. Foi a forma que ele encontrou para conciliar a política e a vida pessoal. O conhecido estilo “trator para o trabalho” do bastidores do Palácio das Princesas era replicado no convívio familiar. “Ele podia chegar de viagem pesada do Interior mas, se José pedisse para jogar bola, ele entrava em casa, trocava de roupa e ia naturalmente”, revela o jornalista Evaldo Costa, secretário de Imprensa durante os oito anos da gestão de Campos.

O dia de hoje não será fácil: será o primeiro Dia dos Pais sem ele e amanhã, o primeiro aniversário de um superpai que fazia questão de estar presente nos principais momento da sua família. Uma ausência que certamente supera qualquer representação que o líder político tenha tido em sua vida pública.

Manifestantes pró e contra governo ganham as ruas

Por ANDERSON BANDEIRA
Da Folha de Pernambuco

No momento em que o tensionamento entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional começa a ficar cada vez mais acirrado e o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) volta a ser um tema recorrente nos círculos políticos e conversas de populares, duas mobilizações prometem agitar agosto.

A primeira será realizada no próximo dia 16, em todo o Brasil, e tem um tom contrário ao governo da petista e está sendo organizada pelo movimento Vem Pra Rua. O grupo tem usado as redes sociais para divulgar a ação e aposta na participação maciça da população. Na pauta, o pedido do fim do governo petista e o repúdio ao projeto de ajuste fiscal elaborado pelo governo.

“É o Brasil inteiro e unido, contra o abuso do PT. Ninguém vai ficar de fora, todos estão convocados para irem para a rua!”, conclamam os militantes do movimento num post no Facebook. Até a última sexta-feira mais de 100 mil pessoas em todo País haviam confirmado presença no ato através da rede social.

O Movimento Brasil Livre (MBL) também encabeçará as manifestações contra o Governo Federal nas principais capitais do País. Em Pernambuco, a mobilização acontecerá na Avenida Boa Viagem, na zona Sul da cidade, a partir das 9h30. Essa é a terceira vez que a manifestação acontecerá na capital pernambucana, desde que a presidente Dilma foi reconduzida ao Palácio da Alvorada, em 2014.

“A pauta é fora corruptos, fora Dilma. O sentimento é muito positivo. As pessoas têm se envolvido cada vez mais e isso já dá um indicativo de que a mobilização vai ser muito boa”, avaliou Gustavo Gesteira, representante do movimento Vem Pra Rua em Pernambuco. Tentando capitalizar votos da população contrária ao governo petista, o PSDB também vem conclamando a população para ir as ruas. Diferentemente das primeiras mobilizações quando pediram o impeachment da chefe do Executivo federal, o mote dos tucanos, desta vez, será defender a renúncia de Dilma e a imediata convocação de novas eleições.

Já no dia 20 de agosto, será a vez dos movimentos (sociais e populares) simpáticos ao Governo Federal irem às ruas, em defesa da gestão petista. Entre as organizações que já confirmaram participação estão o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra (MST), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a União dos Estudantes do Brasil (UNE). A ideia, segundo os movimentos pró-governo, é dar uma resposta aos protestos do dia 16. Mas apesar de defender a gestão de Dilma, as críticas ao ajuste fiscal terão espaço na pauta da mobilização.

A mobilização ocorrerá na proximidades do parque 13 de maio, área central do Recife. A expectativa é de que a concentração aconteça a partir das 15h para, em seguida, percorrer as principais ruas do centro da cidade. Diversas caravanas do interior e cidades da Região Metropolitana do Recife são esperadas, assim como ocorreu no início do ano, quando outra mobilização deste tipo foi realizada.

Sucessão: a largada no Recife amanhã

Por DENISE ROTHENBURG
Do Correio Braziliense

As homenagens póstumas aos 50 anos que Eduardo Campos faria nesta segunda-feira reunirão vários dos potenciais candidatos à sucessão de Dilma Rousseff.

Lá estarão Lula, Aécio Neves, Marina Silva e Geraldo Alckmin.

Sim, o governador de São Paulo já confirmou presença.

Chegará com o seu vice, Márcio França, que era um dos maiores entusiastas de Eduardo Campos.

Mesmo ausente, Eduardo não deixou de ser uma referência.

Crise agrava divisão entre ‘presidenciáveis’ do PSDB

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Do Brasil 247

A desintegração da base política da presidente Dilma Rousseff (PT) intensificou a disputa interna entre quatro dos principais nomes do PSDB com interesse em subir a rampa do Palácio do Planalto. Os senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), o governador Geraldo Alckmin (SP) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conspiram e articulam para manipular o cenário político em favor de seus projetos de poder.

Aécio aposta e estimula o agravamento da crise. Sua melhor chance está na realização de novas eleições para aproveitar o recall das urnas de 2014, que o colocam à frente nas pesquisas. É um cenário improvável. Para isso, tanto Dilma quanto o vice-presidente Michel Temer (PMDB) teriam de ser afastados ou renunciar. A cassação da dupla viria pela constatação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de que a campanha da aliança PT-PMDB foi financiada com dinheiro ilícito, endossando a tese da Operação Lava Jato.

Nesse rumo, Aécio manipula o mote das manifestações convocadas para o dia 16 de agosto, que passarão a reivindicar novas eleições. A tese do senador é de que só as urnas darão legitimidade para o novo presidente enfrentar a crise política e econômica. Ao seu esforço se soma o ultrarradical líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado, que verbaliza o tom mais forte, impróprio até para Aécio. Em outra trincheira, o mineiro estuma sua base tucana no Congresso, encabeçada pelo senador Cássio Cunha Lima (PB), contra a ideia autoproclamada por Temer de que é necessário alguém (ele próprio, como traiu-se) que consiga unificar o país.

A ESTRATÉGIA ITAMAR

Já José Serra, o menos ostensivo no jogo das conspirações, ensaia uma aproximação com Temer. O senador paulista antecipou-se aos correligionários no aceno ao peemedebista, vislumbrando a insustentabilidade da permanência de Dilma no poder, com a consequente assunção do vice. O movimento de Serra, ousado e perigoso, prevê uma de solução ao estilo Itamar Franco-FHC: Serra assumiria um ministério com a missão de recolocar a economia nos trilhos, cacifando-se para a disputa em 2018. O problema que se coloca é que, com ou sem Dilma, os próximos três anos serão de muito esforço, negociações nem sempre republicanas com o Congresso e impopularidade para implementar as medidas necessárias ao resgate da economia. Serra pode sair mais queimado do que entrou.

Mantendo a discrição, Serra tenta esconder suas intenções. Na Folha deste domingo (9), concede uma entrevista sem pé nem cabeça, despistando das perguntas da repórter que forçava a barra na tentativa de extrair, em vão, alguma confissão do senador. “O futuro não pode ser vítima de um presente de irresponsabilidades”, não disse. “O volume e a qualidade dos projetos que estão sendo apresentados não têm efeito apenas sobre o governo Dilma, mas principalmente a médio e longo prazo”. Hã?!

ALIANÇA SÃO PAULO-GOIÁS

A estratégia de Geraldo Alckmin é manter o governo e o PT nas cordas até 2018 para chegar em vantagem na disputa presidencial — pelo que aparenta, setores importantes da economia (Bradesco, Fiesp, Firjan) e da mídia (Globo) aderiram à ideia. Desde os primeiros sinais da crise política o governador paulista tem escalado seus aliados para a missão de manter o incêndio sob controle. O principal deles é o governador de Goiás, Marconi Perillo, que numa ocasião chegou a dizer que o PSDB foi derrotado nas urnas e que o resultado deve ser respeitado. Também não economiza nos elogios a Dilma, aproveitando para tentar beliscar alguma verba federal para reforçar o caixa do Estado, que, como os outros, sofre os efeitos da crise.

Marconi, que faz um governo realizador em Goiás, tenta ganhar projeção nacional. Num jogo bem feito, vem se consolidando como líder de um blocão de estados das regiões Centro-Oeste e Norte. O goiano promove a ideia de que representa uma parcela importante do Brasil, que cresce e se desenvolve mesmo na crise. Sabe, contudo, das limitações de pertencer a uma região com eleitorado reduzido. Por isso, joga para ser o vice numa chapa pura com o colega paulista. Muito se especula sobre sua filiação ao PSD do ministro Gilberto Kassab, o que Marconi nega enfaticamente,

FHC COMEÇA A GOSTAR DO JOGO

A mais recente investida no PSDB é do tucano-mor, FHC, que resolver colocar as asas de fora. O ex-presidente diz ter sido procurado por Lula (que nega) para debater uma solução de unidade para a crise de modo a preservar o país. Com a manobra, FHC se veste com a toga de magistrado, incutindo a ideia de que ele seria uma espécie de salvador da pátria capaz de trazer a nação de volta ao caminho da institucionalidade. E isso pode ser agora, em eleições antecipadas, ou em 2018, com o PT mortalmente ferido. Por que não?

Ato contínuo, Fernando Henrique exige, para debater a solução da crise, que Lula admita os erros do PT e do governo. Na prática, significaria o resgate da imagem dos governos tucanos, triturados pela opinião pública. Quem melhor para fazer isso do que o principal adversário?

A estratégia henriquista arregimenta outro apoio importantíssimo chamado Marina Silva. Nos bastidores da Rede Sustentabilidade, agremiação que a ex-ministra de Lula quer transformar em partido, já é certo o pacto entre a líder seringueira e o sociólogo arrependido. Marina aceita assumir o encargo de ser vice numa eventual composição com o PSDB, desde que o cabeça seja FHC. Se não há declarações explícitas de ambos nesse sentido, existe farta literatura nos jornais do último ano com elogios mútuos. Com Marina no time, o ex-presidente tem argumentos de sobra para ser o ungido em qualquer tempo. E tem outro detalhe: ela continuaria no PSB, dando ainda mais peso à aliança.

Dilma Rousseff antecipa para hoje reunião com ministros

Do G1

A presidente Dilma Rousseff convocou para a noite deste domingo (9) uma reunião com a coordenação política do seu governo para avaliar o cenário político e definir estratégias para enfrentar a crise. O encontro com grupo integrado pelos ministros mais próximos está marcado para as 19h no Palácio da Alvorada, sua residência oficial, em Brasília.

Normalmente, essa reunião ocorre às segundas-feiras, mas foi antecipada porque na segunda (10) a presidente tem compromisso em São Luís (MA), onde entregará unidades habitacionais do programa Minha Casa, Minha Vida e participará da inauguração do Terminal de Grãos do Maranhão, no Porto de Itaqui.

Na pauta do encontro, a relação tensa com o Congresso, especialmente a Câmara, onde Dilma sofreu uma derrota na última semana e viu aliados como o PDT e o PTB se afastarem, deverá ser uma das prioridades. O governo luta para reunificar a base aliada, que se pulverizou e não é mais garantia para aprovação de matérias na Câmara e no Senado.

Também poderão ser discutidas uma eventual redução de ministérios e uma reforma ministerial. Na quinta-feira (6) à noite, Dilma recebeu o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para uma conversa, onde ele voltou a defender o enxugamento da máquina estatal.

Além de dificuldades na política, Dilma enfrenta um momento delicado na economia do país, com reflexos na sua popularidade, que vive o pior momento. Segundo o instituto Datafolha, o governo Dilma tem o maior índice de reprovação (71%) desde a redemocratização do país.

Impeachment: sem a pressão das ruas não sai

Por DENISE ROTHENBURG
Do Correio Braziliense

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tem feito as contas sobre os votos para o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Descobriu que hoje não tem os dois terços (343) necessários para abertura de processo contra ela.

Se não houver uma pressão popular forte, como foi a de 1992 contra Fernando Collor, o impeachment não sai. Geraldo Alckmin é contra, assim como, nos bastidores, o próprio Aécio Neves. Afinal, ninguém despreza a habilidade de Michel Temer em construir um governo de união nacional e conquistar apoios para o futuro.

O governo vai tentar ganhar tempo para a votação das contas de 2014 no TCU. A ideia é a de que algum ministro peça vistas ao processo, adiando o parecer final da Corte para meados de setembro. Assim, Dilma teria tempo para tentar recompor alguma musculatura, ver os efeitos da reforma ministerial que pretende colocar em curso e mais prazo para verificar os desdobramentos da Lava-Jato. Ou seja, saber se vem aí algo mais contundente contra o homem que conta os votos pró-impeachment.