OPINIÃO: O tempo passa…

Por MENELAU JÚNIOR

Caruaru está envolvida numa nova polêmica que envolve as ações da prefeitura. Agora, o assunto é a retirada de um relógio que fora erguido no coração da cidade, em frente à catedral, na famosa rua da Matriz.

O relógio não era nenhuma obra arquitetônica. Pelo contrário, apenas um conjunto de blocos quadrados cheios de publicidade. No alto, traindo quem buscava a hora certa, o imponente relógio, quase sempre atrasado.

Compreendo quem se lamente pela retirada do danado. Temos uma dificuldade enorme de nos livrar de memórias – e o relógio já fazia parte da rua da Matriz. Por outro lado, a cidade se moderniza e o espaço publicitário já não era conveniente.

Penso se nós tivéssemos de carregar no pulso o mesmo relógio durante décadas. Quase ninguém faz isso! Por que a cidade, então, teria de manter uma “obra” que nada tem de histórica, a não ser o fato de estar naquele lugar havia 15 anos?

Há outras questões bem mais importantes a tratar neste momento. O relógio podia até ser um símbolo, mas não vejo nenhum motivo – além do saudosismo – para que lamentemos sua ausência. Caruaru está mudando porque o tempo passa. Até para os relógios.

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: Nosso Governador

Por MENELAU JÚNIOR

lyraAmanhã, 4 de abril, um fato político mais que especial marcará a política de nossa cidade: teremos o Governador.

O empresário João Soares Lyra Neto vem de uma família de políticos. Na década de 70, em plena ditadura militar, lutou junto com os mais importantes líderes políticos pela resistência democrática durante todo o período do regime militar. Filiado ao MDB (Movimento Democrático Brasileiro), chegou a ser presidente do partido em Caruaru. No início dos anos 80, começou a participar ativamente de campanhas políticas e fez parte da coordenação estadual pela retomada das Diretas-Já no país. Sua trajetória política teve início em 1988, quando, seguindo os passos do pai, João Lyra Filho, foi eleito prefeito de Caruaru, cargo que voltou a assumir em 1997, para um segundo mandato. Foi ainda líder do governo Miguel Arraes na Assembleia Legislativa durante seu mandato de deputado estadual. Lyra Neto já tem seu legado: como a geração precisa continuar, já preparou sua aguerrida filha para trilhar também o caminho do respeito e da dignidade neste mundo tão corrompido da política brasileira.

Lyra agora é o Governador de Pernambuco. E assim será nos próximos nove meses. Alicerce do agora ex-governador Eduardo Campos em seus dois bem-sucedidos mandatos, João Lyra é caso raro na política: tem o respeito e a verdadeira admiração até de seus opositores políticos. De estilo apaziguador, ele agora tem nas mãos os destinos de um dos estados que mais se desenvolveram nos últimos anos.

Prefeito de Caruaru duas vezes, João Lyra recebe de Eduardo Campos um estado que ele também ajudou a moldar. Para os caruaruenses, ter um filho no posto maior do estado deve ser motivo de esperança em dias ainda melhores. Mais que isso, para nós é motivo de orgulho saber que um homem de conduta irretocável estará à frente das decisões políticas de Pernambuco no momento em que o ex-governador se lança no maior desafio político da sua carreira.

O Brasil, infelizmente, não é referência de ética e honestidade quando se pensa em política. Há mais de uma década, escândalos de corrupção se sucedem ininterruptamente – mascarados por resultados animadores da economia. Neste momento difícil, em que indicadores econômicos mostram a fragilidade do país e a inépcia governamental impede o crescimento, Lyra tem a difícil missão de terminar bem um mandato de sucesso do qual ele sempre foi parte indissolúvel.

Como caruaruense apaixonado por esta cidade, sinto-me orgulhoso por ter João Lyra Neto como governador. Antes de um político de sucesso, Lyra é um homem ético, honesto e comprometido com as verdadeiras causas populares. No país da demagogia e do populismo desavergonhado, ter um governador como João Lyra Neto é uma honra e um privilégio.

Até a próxima semana.

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OPINIÃO: O mérito de Almério

Por MENELAU JÚNIOR

Caruaru tem sido brindada, vez ou outra, com bons álbuns de artistas locais. Curiosamente, quase nada de forró – numa terra que se intitula a Capital desse ritmo. Recomendo uma audição cuidadosa do álbum “Almério”, do artista homônimo.

Lançado no fim de 2013, o trabalho conta com 14 faixas, sendo nove músicas autorais e outras cinco composições de grandes nomes regionais, a exemplo de Valdir Santos, Isabela Moraes, Vertin Moura, Ícaro Tenório, Luciano Queiroga e Lula Queiroga. É possível observar influências da musicalidade local, mas nem de longe o trabalho de Almério pode ser classificado como regional. Com influências de vários artistas da MPB, Almério trouxe para nós um disco bonito, envolvente e suave.

A excelente “A busca” abre o álbum, com uma levada que lembra Djavan nos primeiros acordes. Mas é na parceria com Isabela Moraes, em “São João do Carneirinho”, que temos um dos melhores momentos do disco. A quarta faixa, “Além-homem”, é daquelas canções para ouvir à beira-mar, num fim de tarde. É uma linda canção de amor, sem a pieguice que normalmente acompanha esse tipo de composição.

Em “Não há muito o que fazer”, Almério fala com criatividade sobre dor, solidão e desolação de forma muito interessante. A ironia dos versos “Quando a bebida esgota/ e a sobriedade volta/ Sinceramente não há muito o que fazer” foi uma excelente sacada. Em “Minha casa de você”, quase todas as estrofes começam com “Não quero mais ficar em casa”, para terminar com a desconcertante declaração “Foi maldade preencher/ Minha casa de você/ Depois ir embora”.

Mas o álbum não é só lirismo. Em “Quantos homens têm o mesmo nome”, Almério escreve sobre um ex-mecânico que passou 19 anos preso por engano.

Em entrevista recente, Almério disse que “fez um disco para o mundo” e que pensa em “levá-lo para outros lugares e expandir o trabalho”, pois não quer “olhar para trás um dia e perceber o erro de não ter tentado. Muito menos olhar para o espelho e enxergar um músico que não deu certo”. Este primeiro álbum é um bom cartão de visitas. Precisa melhorar algo? Claro! Quem não precisa? O sotaque excessivamente marcante pode irritar pessoas menos tolerantes ao jeito nordestino de falar. Se quiser voar mais alto, Almério vai precisar amenizar seu sotaque, deixá-lo menos identitário. Talento, voz e boas composições ele tem de sobra. Quem gosta de boa música deve conhecer o trabalho dele.

Até a próxima semana.

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OPINIÃO: Blitz da língua

Por MENELAU JÚNIOR

Em sua edição de 11 de fevereiro de 2012, o Jornal do Commercio publicou, no caderno “Cidades”, matéria com o seguinte título: “Mais força e agilidade em blitzes da lei seca”. A questão é a seguinte: qual o verdadeiro plural de “blitz”?

Inicialmente, é preciso considerarmos que a palavra não pertence ao léxico da língua portuguesa – aliás, nem aparece no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras.

“Blitz” é uma redução de “Blitzkrieg”, uma união das palavras alemãs “krieg” (“guerra”) e “blitz” (“relâmpago”). A palavra passou a ser usada durante a Segunda Guerra Mundial para designar os devastadores ataques do exército alemão. Por extensão de sentido, passou a significar uma batida policial inesperada, geralmente mobilizando grande aparato.

Em alemão, existem duas formas de indicar o plural para essa palavra: “blitze” e “blitzen”. Aliás, dois dos mais importantes dicionários do país, o Aurélio e o Houaiss, registram como “blitze” o plural de “blitz”. Portanto, deveríamos escrever “duas blitze”.

O problema é que, para alguns autores, a palavra já estaria aportuguesada (ainda que seja muito estranho o encontro consonantal “tz”). Por causa disso, seu plural deveria obedecer às normas da língua portuguesa. No caso, pluralizamos as palavras terminadas em “Z” com o acréscimo de “-es”. “Juiz” tem como plural “juízes”; “raiz” tem “raízes” e “blitz”, portanto, “blitzes”.

A forma usada pelo supracitado jornal recorre, pois, a um plural aportuguesado – talvez até mesmo porque não aparece o artigo antes da palavra. Para a maioria dos leitores, a forma “blitze” seria realmente estranha, já que não temos palavras pluralizadas com o acréscimo apenas da letra “e”. “Blitzes” tem mais a cara do nosso idioma.

Entretanto, no mesmo dia em que o Jornal do Commercio publicou o título acima, o Tribuna da Bahia escreveu em seu site: “Por conta da falta de policiamento, a Superintendência de Trânsito e Transporte do Salvador (Transalvador) suspendeu as blitze de alcoolemia…”. Já o site do G1 (Globo.com) publicara, um dia antes, matéria com o seguinte título: “Blitze da Lei Seca terão mais mobilidade no Grande Recife”.

Portanto, se você quer usar uma forma incontestável, use “as blitze”. É estranho, mas segue a etimologia da palavra. Quem escreve “as blitzes” pode até estar usando a forma adequada à língua portuguesa, mas é bom lembrar que esse plural contraria a recomendação de importantes dicionários e de boa parte da imprensa.

Até a próxima semana.

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OPINIÃO: Você escolhe a concordância

Por MENELAU JÚNIOR

menelau colunaVeja essa manchete do Jornal do Commercio: “Faltam estrutura e médicos no Cisam”. A frase merece uma análise mais cuidadosa no que se refere à concordância verbal.

No padrão formal da linguagem, o verbo deve concordar com o núcleo do sujeito. Entretanto, quando o aparece antes do sujeito, é relativamente comum que não ocorra a concordância, principalmente na fala. Por isso, ouvimos por aí frases como “Falta cinco minutos para começar o jogo” (deveria ser “faltam”), “Cabe cinco pessoas no carro” (deveria ser “cabem”) e “Morreu três pessoas no acidente” (deveria ser “morreram”).

Entretanto, quando o sujeito é composto (tem dois ou mais núcleos) e o verbo o antecede, há duas concordâncias possíveis: o plural, levando em consideração os dois núcleos, ou com o elemento mais próximo.

No caso do título sob análise, temos um sujeito composto: “estrutura e médicos”. O verbo está anteposto: “Faltam”. E agora? Bem, o Jornal do Commercio acerta quando emprega o plural, fazendo o verbo concordar com “estrutura e médicos” – aliás, essa é a concordância mais adequada, uma vez que leva em consideração todos os elementos que compõem o sujeito. Entretanto, a forma “Falta estrutura e médicos no Cisam” (com verbo no singular) também estaria correta, mas aí o verbo estaria concordando apenas com o núcleo mais próximo, que é “estrutura”.

Marisa Monte, em sua canção “Gentileza”, nos dá um exemplo dessa concordância com o elemento mais próximo: “Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza/ Só FICOU no muro TRISTEZA e tinta fresca”, canta a bela. Nesse caso, a forma “ficou” tem como sujeito “tristeza e tinta fresca”, mas se optou pelo singular fazendo-se a concordância apenas com “tristeza”.

Portanto, não se esqueça: nos casos em que o sujeito é composto e o verbo o antecede, você escolhe a concordância: no plural ou com o núcleo mais próximo.

Até a próxima semana.

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OPINIÃO: Carnaval brasileiro

Por MENELAU JÚNIOR

O Brasil é conhecido no exterior ou pelo futebol ou pelo carnaval. E só. Não temos universidades entre as melhores do mundo, nosso ensino fundamental é vergonhoso e matamos mais em um ano do que se matou na guerra do Iraque.

Os infantiloides ufanistas ainda querem acreditar que Deus é brasileiro. Imagina se não fosse!! Neste fim de semana, vamos mostrar ao mundo que nossas mulheres gostam de andar seminuas, que nossos jovens praticam sexo irresponsavelmente e que os homens exageram na bebida e vão dirigir alcoolizados. Traduzindo, é carnaval!

A maior festa brasileira é uma prova irrefutável de nossa mediocridade. Excetuando-se uma ou outra manifestação cultural, o carnaval brasileiro é um mistifório vulgar e banal. Mas nada que não possa ficar pior.

Basta olhar os mais recentes números da violência no Brasil. Por ano, são mais de 50 mil assassinatos. 50 mil. Isso significa que, por dia, aproximadamente 137 pessoas são mortas. São quase 6 por hora. Uma a cada 10 minutos.

Os números são alarmantes também quando o quesito é morte no trânsito. E depois do alarde Lei Seca, tudo já voltou ao normal. A polícia não tem bafômetros suficientes, e o cidadão pode se recusar a fazer o teste. Ou seja, é lei para inglês ver.

Só para se ter uma ideia da selvageria brasileira, em 2008, enquanto os Estados Unidos obtiveram uma taxa de 12,5 mortes a cada 100.000 habitantes, o Brasil apresentou uma taxa de 30,1, sendo que a frota de carros norte-americana é o triplo da brasileira. Matamos muito mais com muito menos!!

O Brasil é conhecido no exterior ou pelo futebol ou pelo carnaval. Nosso futebol já não é o melhor do mundo faz algum tempo. Nosso carnaval é grandioso em mortes, em exploração sexual, em consumo de bebidas alcoólicas. De fato, temos muitos motivos para comemorar. Já pegou sua fantasia?

Até a próxima semana.

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OPINIÃO: Qual a melhor escola para seu filho?

Por MENELAU JÚNIOR

Existem vários parâmetros  a ser considerados na hora de escolher a escola do seu filho. Há quem pense naquela que fica mais perto de casa – e o comodismo fica acima da qualidade. Existem os que pensam no valor da mensalidade – e a “economia” fica acima da qualidade. Há quem procure saber o resultado da escola no Enem – e apenas uma nota fica acima de todo o resto.

A melhor escola não é a que fica mais perto de casa, nem a de menor valor (no caso das particulares), nem a que obteve a maior nota no Enem – esta, aliás, já está sendo “fabricada” por escolas que possuem redes e inscrevem os melhores alunos numa unidade específica, só para “inflar” a nota. Basta olhar os primeiros lugares no Brasil e ver que muitas escolas gigantescas aparecem com pouquíssimos alunos inscritos – o que lhes garante médias bem maiores, uma vez que os alunos são escolhidos “a dedo”.

Então, se o Enem já não pode ser “o” referencial, o que fazer?

Uma boa escola é aquela que tem professores renomados e experientes, que investe em tecnologia (mas não se deixa encantar por ela), que se preocupa com a formação do aluno (mas não coloca isso acima das competências exigidas no mundo do conhecimento), que tem um corpo técnico sempre atualizado e antenado às mudanças educacionais  e, obviamente, que tem comprovados resultados significativos no Enem e nos vestibulares.

Mas a escola ideal para seu filho deve, além das qualidades elencadas, ser aquela em que ele se sente bem. De nada adianta o rigor acadêmico se o educando se sente oprimido; de nada adiantam as aulas em excesso se o aluno não tem tempo para estudar em casa; de nada adianta a média obtida no Enem se ela é fruto de “seleções” nada honestas.

Instigar os jovens a ter curiosidade e a querer aprender já não é muito fácil. Num ambiente em que ele não se sinta querido, motivado e acolhido isso será mais difícil ainda. Aos pais, deixo um conselho: acompanhem de perto os estudos de seus filhos, tratem a escola como aliada – nunca como inimiga. E jamais – jamais! – deixem para a escola as obrigações que, como pais, competem a vocês. Quem tem o dever primeiro de ensinar lições de civilidade, respeito, honestidade – entre outras virtudes – são os pais. À escola cabe cobrá-los e reforçá-los.

Boas escolas são, antes de tudo, bons centros de estudo, reflexão e conhecimento. Boas escolas ensinam para dar autonomia, não para criar papagaios. Uma nota apenas como referencial não diz muita coisa sobre elas.

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OPINIÃO: Raquel e o ‘marginalzinho’

Por MENELAU JÚNIOR

A jornalista Raquel Sheherazade esteve, mais uma vez, no meio de uma polêmica. No “Jornal do SBT” de 4 de fevereiro, Raquel comentou o caso de um “marginalzinho” de 16 anos que foi preso pela população e amarrado nu a um poste.

Nas redes sociais, não se fala em outra coisa. Muita gente apoiando a polêmica opinião de Raquel, e muita gente condenando-a sob a alegação de que ela defendeu a “justiça com as próprias mãos”, ou seja, fez apologia ao crime.

É preciso olhar com cautela o texto da jornalista. Ela disse que “num país que ostenta incríveis 26 assassinatos a cada 100 mil habitantes, arquiva mais de 80% de inquéritos de homicídio e sofre de violência endêmica, a atitude dos ‘vingadores’ é até compreensível”.

“Compreensível” não é, em nenhuma acepção, “aceitável”; antes, significa “aquilo que pode ser explicado”. Em artigo publicado no dia 11 na Folha de São Paulo, a própria Raquel explicou isso. Os apressadinhos também nem observaram que a própria Raquel chamou os cidadãos que amarraram o bandido de “vingadores”, ou seja, ela reconhece que o que foi feito foi uma espécie de vingança. “Vingança” não é algo bom, mas pode ser explicada, certo? Se um pai, por exemplo, mata um homem porque este estuprou e matou sua filha, o assassinato não é aceitável – e é crime, óbvio – , mas é “explicável”. E Raquel explica a atitude da população: ela estaria cansada de ver a impunidade (80% dos homicídios nunca são esclarecidos) e revoltada com um “Estado omisso”, uma “polícia desmoralizada”, uma “Justiça falha”.

Raquel ainda classifica a atitude da população como “legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite”. E, com um riso irônico, critica os defensores dos direitos humanos propondo uma campanha: “Façam um favor ao Brasil. Adote um bandido!” A ironia, claro, revoltou os “defensores dos direitos humanos”. Curiosamente, a morte de um cinegrafista da Band não gerou a mesma comoção quanto o “marginalzinho” amarrado ao poste…

A questão é a seguinte: Raquel Sheherazade disse o que a maioria dos brasileiros pensa e acha feio falar. Raquel Sheherazade disse que, se estamos partindo para a ‘justiça com as próprias mãos”, isso é reflexo da inércia do Estado, que não consegue pôr um freio na violência desembestada. Raquel Sheherazade disse que muitos defendem com unhas, dentes e ideologias os direitos dos bandidos, mas se calam diante dos casos de pais de família mortos, mulheres estupradas e crianças violentadas.

Raquel Sheherazade não é inocente, assim como também não somos. Entretanto, não deixemos que nossas ideologias nos impeçam de discutir o que realmente interessa: POR QUE, CADA VEZ MAIS, AS PESSOAS ESTÃO PARTINDO PARA A VINGANÇA COLETIVA? O que a violência dos cidadãos constantemente violados quer dizer ao Estado brasileiro, que assiste a um homicídio a cada 15 minutos?

Repito: desviar a atenção e crucificar Raquel é muito fácil – e até “politicamente correto”. Mas o que está em discussão não é isso. É saber POR QUE, CADA VEZ MAIS, AS PESSOAS ESTÃO PARTINDO PARA A VINGANÇA COLETIVA…

O vídeo pode ser visto aqui.

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OPINIÃO: Não vai ter Copa?

Por MENELAU JÚNIOR

Já se espalha pela internet e pelas ruas do Brasil um movimento que promete impedir a realização de alguns jogos da Copa do Mundo. Intitulado de “Não vai ter Copa”, o movimento conta principalmente com a participação de estudantes do ensino médio e de universidades públicas. Ah, e com os “black blocs”, claro.

Semana passada, o site Congresso em Foco divulgou que mais de 80% dos gastos com a Copa estão saindo de onde qualquer cidadão não alienado pelo petismo sabia: dos cofres públicos. E já tem até analista político – devidamente financiado pelo petismo – dizendo que a quebradeira promovida contra a Copa pelos manifestantes é obra do PSDB e de Eduardo.

A verdade é que movimentos como o “Não vai ter Copa” não ajudam em nada. Há muitos brasileiros injuriados – com razão – com os gastos por causa do Mundial. Mas ir às ruas, promover rolezinhos, queimar ônibus, depredar bancos e incitar “movimentos sociais” não ajuda em nada. Não é mais a hora de reclamar da Copa.

O Brasil teve sete anos para se preparar. E os mesmos descerebrados que agora quebram tudo para que não haja Copa foram às ruas comemorar quando Lula moveu céus e terra para que o Brasil trouxesse a Copa. Sim, senhores, Lula quis o circo no lugar de educação, hospitais, infraestrutura, transporte público. Lula quis o circo e, como palhaços, comemoramos. Agora não é mais a hora de quebrar tudo. Aceitemos a Copa e permitamos que todos se divirtam no circo comprado pelo Lula.

“A gente não ataca a pessoa, o trabalhador, o manifestante. Se é para quebrar alguma coisa, é a propriedade do Estado que não nos representa, ou só representa uma parcela pequena da população e oprime a maior parte. A gente quebra um banco, que não nos representa também”, disse um “ativista” do “Não vai ter Copa”.

Em 2016, teremos as Olimpíadas. A dois anos do evento, não temos nada pronto – muito pelo contrário, tudo está atrasado. É mais um legado que o senhor Luiz Inácio deixou para o país. Mas promover baderna, quebradeira e vandalismo para protestar é apenas violência pela violência. Curiosamente, são os mesmos defensores do lulismo que agora criticam a polícia quando esta precisa ser enérgica para impedir os “militontos” de quebrarem tudo pela frente. Se há sete anos comemoramos o circo; agora, é hora de sentar no picadeiro e assistir ao show.

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OPINIÃO: As sílabas subtônicas

Por MENELAU JÚNIOR

Por que “táxi” tem acento gráfico e “taxista” e “mototaxista” não? Por que acentuamos “café”, mas não o fazemos em “cafezinho”? A resposta tem a ver com o que chamamos de sílaba subtônica.

Nas aulas de acentuação gráfica, aprendemos que os acentos são usados em algumas palavras – sempre na sílaba tônica, aquela que é mais forte. O que muitas vezes não sabemos é que as palavras derivadas possuem uma sílaba subtônica – que é, na verdade, a tônica da palavra primitiva. Por exemplo: em “pastel”, temos a sílaba tônica “tel”; em “pastelzinho”, “tel” é a sílaba subtônica – uma vez que a tônica passa a ser “zi”.

Com “táxi” ocorre o mesmo. A palavra é acentuada por ser uma paroxítona terminada em “i”. Mas quando escrevemos “taxista”, a sílaba tônica passa a ser “xis” – enquanto “ta”, que antes era acentuada, passa a ser a sílaba subtônica. O mesmo ocorre com “mototaxista”, que tem duas sílabas subtônicas, “mo” e “ta”, mas apenas uma tônica: “xis”.

Com “café” e “cafezinho”, o processo é o mesmo. Em “café”, acentuamos a última sílaba porque a palavra é uma oxítona terminada em “e”, a exemplo de “José”, “jacaré”, “ipê”, “Josué” e tantas outras. Mas, ao escrevermos as derivadas “cafezinho” e “cafezal”, a sílaba “fe” passa a ser a subtônica e, portanto, não deve ser acentuada. Em “cafezinho”, a sílaba tônica é “zi”, e em cafezal é “zal”.

Conhecer as regras de acentuação é importante, uma vez que nossa língua possui várias palavras acentuadas. Os acentos, na verdade, marcam apenas aquelas palavras que possuem pronúncia diferente da maioria. Por que acentuamos uma “oxítona terminada em ‘e’”? Porque quase todas as palavras que terminam em “e” são paroxítonas: “parte”, “fase”, “elefante”, “presidente”, “gerente” e milhares de outras. As oxítonas, portanto, são minoria – por isso passam a ser acentuadas. O mesmo ocorre com as palavras terminadas em “i” – mas nesse caso quase todas são oxítonas: “jabuti”, “aqui”, “ali”, “cariri”. Para marcar a diferença, as paroxítonas terminadas em “i” recebem o acento. “Táxi” é um exemplo disso.

Um abraço a todos.

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