OPINIÃO: A dor da injustiça

Por GABRIEL CHALITA*

Há algum tempo, escrevi um artigo sobre a dor da injustiça. Uma reflexão a respeito de valores éticos fundamentais para a harmonia nas relações humanas. O tema, no entanto, é atual e válido de ser repensado.

Diariamente, aprendemos e ensinamos. Estamos todos matriculados na escola da vida. E, nessa escola, com humildade, amadurecemos. Basta que prestemos atenção no outro, em sua dor e em sua capacidade de superação. E que prestemos atenção em nós mesmos e na necessidade de sermos justos.

Certa vez, ouvi o depoimento de uma cozinheira acusada de ter furtado uma pulseira de ouro. Entre lágrimas, ela tentava convencer a patroa de que jamais havia cometido aquele delito. A mulher, por sua vez, dizia que as lágrimas eram uma forma de esconder o furto.

Em dado momento, a funcionária não mais insistiu. Na solidão da injustiça, entrou no quarto para arrumar suas coisas. Chorou sua história de dor e de necessidade. Enquanto a patroa afirmava que não a denunciaria desde que ela não a atormentasse na Justiça, entrou a filha pedindo um sanduíche. No pulso esquerdo, a pulseira. Foi quando a funcionária chorou ainda mais. Como dói a injustiça! A patroa, rispidamente, disse a ela que parasse com o choro e voltasse ao trabalho. Fora apenas um mal-entendido. Recomposta, a cozinheira agradeceu e disse que nada mais tinha a fazer naquela casa.

Sem muito alarde, ela saiu e, no dia seguinte, arrumou emprego num restaurante. Tudo aconteceu em um grupo de oração. O padre pediu que as pessoas se cumprimentassem e se apresentassem. A senhora ao lado disse que tinha um restaurante, e ela contou que era cozinheira. Uma nova vida começou.

Assim como ouvi esse testemunho, ouço muitos outros que servem de inspiração para que aprendamos a ser justos. A história dessa mulher nos ensina a ter mais delicadeza nas relações. É triste sofrer a dor da injustiça. Todos nós erramos, mas, se tomarmos um pouco de cuidado, nosso erro não será tão doloroso ao outro nem a nós mesmos.

* Gabriel Chalita é deputado federal pelo PMDB-SP. Texto publicado originalmente no Diário de S. Paulo.

OPINIÃO: O difícil encontro do meio-termo

Por GABRIEL CHALITA*

A educação começa em casa. Esse conceito está pacificado. Os pais são os educadores por excelência. São as primeiras referências na vida de uma criança. Depois, vem a escola. E a vida em sociedade. É essa a definição clássica. Só que, agora, há outro grupo de influência poderoso: a sociedade virtual.

Dia desses, uma mãe me perguntou o que fazer com o filho, que perde boa parte do tempo diante do computador: “Ele não conversa, não gosta de almoçar comigo, não sai de casa. Quando eu cobro, ele diz: ‘Enquanto as mães ficam preocupadas com os filhos porque não voltam para casa, você briga comigo porque não saio de casa’”.

O que fazer para chegar ao meio-termo, conceito filosófico defendido por Aristóteles, que, dentre outras razões, dizia ser esse o caminho para a felicidade? Nada de exageros, afirmaria o filósofo. Nem a falta. Nem o excesso.

Proibir os filhos de usarem o computador não é o caminho do meio-termo. Deixá-los o dia todo diante dele também não. Há um fator que precisa ser resgatado: o diálogo. Os pais conversam pouco com os filhos. A razão pode ser a falta de tempo ou, pior, de assunto. Os mundos são diferentes e, como não há muita disposição para compreender o desconhecido, a prosa fica empobrecida: “Tudo bem, filho?”, “Tudo”; “Tudo bem na escola?”, “Tudo”;  “Almoçou?”, “Já”.

O diálogo começa na infância, quando os pais contam histórias para os filhos, quando brincam com eles. É desde cedo que se educa para o “sim” e para o “não”. É desde cedo que os limites são recebidos. Mesmo contrariada, a criança vai aprendendo. E a presença dos pais é fundamental. Muitas vezes, a família acha que é a escola que tem a obrigação de ensinar os valores essenciais para a criança. Por melhor que seja uma escola, ela nunca preencherá a lacuna de uma família ausente.

Em tempos de tecnologia, vale lembrar a boa imagem de quando a criança dormia no colo do pai ou da mãe ouvindo histórias. Isso faz bem para os afetos e para a inteligência.

* Gabriel Chalita é professor, escritor e deputado federal pelo PMDB-SP. Texto publicado originalmente no Diário de S. Paulo