Dilma admite parcela de culpa em desgaste de Joaquim Levy

Por VALDO CRUZ
Da Folha de S. Paulo

A presidente Dilma Rousseff reconheceu, em conversas no últimos dias, que contribuiu para o desgaste do seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ao impor a ele seguidas derrotas dentro do governo em torno principalmente do ajuste fiscal.

Na avaliação da presidente, esses reveses não só enfraqueceram Levy como fizeram com que ele começasse a perder serventia para o governo como avalista perante o mercado financeiro.

O enfraquecimento transformou Levy em alvo de pressões dos que desejam mudar a política econômica, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tenta derrubá-lo para colocar no seu lugar o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.

Como resiste à troca, apesar de já não descartá-la, Dilma disse a aliados que sua intenção é começar a tomar decisões para fortalecer seu ministro para recuperar sua força no comando da economia.

Na semana passada, ela tomou duas medidas defendidas por Levy, combatidas por outros setores do governo: meta fiscal de 2016 sem abatimento e veto à liberação de mais recursos para o PSI (Programa de Sustentação de Investimentos), que é subsidiado pelo Tesouro Nacional.

A dúvida de Dilma, segundo assessores, é se Levy conseguirá recuperar força a tempo de dar uma nova “esperança” sobre a retomada da economia, como Lula pede. Caso contrário, ela admite que terá mesmo de trocá-lo.

Levy, segundo amigos, encaixou-se no perfil ideal de ministro de Dilma nesse momento. Um nome apoiado pelo mercado, mas que não exigia dela acatar suas posições, permitindo que a presidente adotasse posições mais flexíveis na área fiscal.

DERROTAS EM SÉRIE

Ao longo do ano, Levy foi perdendo disputas, derrotado em questões cruciais. Inicialmente, no tamanho do primeiro corte de gastos. Depois, na redução da meta fiscal. Por último, no envio ao Congresso de um Orçamento com previsão de deficit em 2016.

Interlocutores da presidente dizem que Levy precisa buscar uma agenda pró-crescimento paralela à do ajuste. Um deles diz que ele não precisa inundar o mercado com crédito, mas pode adotar medidas pontuais que possam impulsionar alguns setores.

Se isso não acontecer, assessores da presidente avaliam que sua permanência ficará inviável, ganhando força o nome de Meirelles para substituí-lo no início de 2016. Eles lembram que até o mercado e o empresariado já não enxergam Levy como essencial, se for trocado por um nome com o mesmo perfil.

Sinal de que hoje não descarta um convite a Meirelles, Dilma tem perguntado a alguns aliados se eles consideram mesmo que o ex-presidente do BC de Lula seria uma solução para seu governo.

Como resposta, ouviu de alguns deles que sim, desde que ela dê a ele as condições para fazer seu trabalho.

Na avaliação de amigos de Levy, um de seus erros foi ter aceitado sofrer derrotas dentro do governo e, mesmo assim, achar que se preservava deixando circular que era contra as medidas.

Situação semelhante, segundo aliados de Lula, não aconteceria com Meirelles. O ex-BC deixaria claro que se fosse derrotado respeitaria a posição da presidente, mas não ficaria no governo.

Meirelles confidenciou a amigos que está disposto a aceitar um convite para ser ministro de Dilma, mas colocaria algumas condições, como ter autonomia no comando da política econômica.

Segundo ele, isso não é uma predisposição contra a presidente Dilma, mas uma filosofia de trabalho adotada por ele em todos os convites que recebeu em sua carreira profissional.

Levy adere ao plano Serra e sugere abrir o pré-sal

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Ministro afirmou ainda que é preciso rever benefícios e transferências sociais (Foto: Valter Campanato/ABr)

Da Reuters

O Brasil pode mudar as regras para a obrigatoriedade de presença da Petrobras em todas as áreas do pré-sal, instituindo maior “liberdade”, disse o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ao participar de evento em Marrakech, no Marrocos, neste sábado.

Críticos da obrigatoriedade de participação de ao menos 30 por cento da Petrobras nos campos do pré-sal afirmam que essa exigência engessa a companhia, que tem achatado seu plano de investimentos e buscado vender ativos em meio à investigação de um bilionário esquema de corrupção apurado pela operação Lava Jato.

Questionado sobre o tema durante sessão de perguntas e respostas da “Atlantic Dialogues”, Levy saudou a iniciativa da estatal de dar foco aos seus principais negócios, também afirmando que o fato de a Petrobras ser operadora dos blocos do pré-sal não significa que ela opera sozinha, já que conta com a participação de outras companhias como Shell e Total.

“Podemos rever isso, podemos dar mais liberdade a isso. As coisas mudam e o Brasil sabe como se adaptar”, afirmou Levy sobre a política da Petrobras como operadora única.

Durante sua participação no evento, o ministro da Fazenda defendeu o ajuste fiscal como ferramenta essencial para o país voltar a crescer, criando um ambiente em que as taxas de juros possam cair.

Ele lembrou que parte do ajuste depende do Legislativo, acrescentando que a votação de algumas medidas está “tomando um pouco mais de tempo do que as pessoas pensavam por algumas razões específicas”.

“Mas acho que está seguindo em frente”, completou.

Levy afirmou ainda que é preciso rever benefícios e transferências sociais e a efetividade de alguns benefícios fiscais.

Perguntado especificamente sobre o Bolsa Família, contudo, ele defendeu o programa como ferramenta “valiosa” de inclusão social.

“É uma coisa que não custa muito dinheiro. Cresceu um pouco nos últimos anos, mas mesmo agora representa cerca de 0,5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB)”, disse o ministro.

Mantega defende ajuste fiscal proposto por Joaquim Levy

Da Agência Brasil

O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega defendeu hoje (27) o ajuste fiscal proposto pelo atual ocupante da pasta, Joaquim Levy. Em audiência pública na Comissão Parlamentar (CPI) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que durou pouco mais de quatro horas, ele declarou ser necessário que o país passe por um reequilíbrio das contas públicas ao fim de um ciclo de crescimento.

“Reconheço que há necessidade de fazer um ajuste. Todos os países, depois de determinado ciclo, têm de fazer um ajuste, procurar diminuir despesas, procurar fôlego para um novo ciclo”, disse Mantega.

Para o ex-ministro, a crise econômica no Brasil, que atravessa uma fase de baixo crescimento, inflação alta e aumento do desemprego, decorre do prolongamento da crise internacional. “A crise atrapalhou tudo. A gente não esperava que ela se prolongasse. Seguindo a projeção do FMI [Fundo Monetário Internacional], o mundo já teria se recuperado em 2013”, afirmou. Mantega, no entanto, ponderou que o Brasil tem condições de superar a crise, principalmente porque mantém um grande estoque de reservas internacionais, atualmente em torno de US$ 371,5 bilhões.

O ex-ministro da Fazenda disse ainda que 2015 será o ano mais difícil dos países emergentes, marcado pela desvalorização cambial, pela queda do preço das commodities (bens primários com cotação internacional) e fuga de capitais. Para ele, a crise econômica iniciada em 2008 está na terceira fase, com impacto sobre os países emergentes, como o Brasil, a China e a Rússia. Segundo Mantega, a crise teve como epicentro os Estados Unidos, na primeira fase, e a União Europeia, na segunda.

Opinião do presidente do PT não é a do governo, e Levy fica, avisa Dilma

Da Folhapress

A presidente Dilma Rousseff afirmou neste domingo (18) que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fica no cargo e disse discordar do discurso do presidente do PT, Rui Falcão, sobre uma possível saída dele do governo.

“Eu acho que o presidente do PT pode ter a opinião que quiser, mas não é a opinião do governo. A gente respeita a opinião do presidente do PT, mas isso não significa que seja a opinião do governo”, afirmou a presidente, em entrevista coletiva em Estocolmo, na Suécia.

Questionada então pela reportagem sobre as chances de Levy deixar o governo, Dilma respondeu: “Se eu lhe disse que não é opinião do governo (a de Rui Falcão), o ministro Levy fica”. E a presidente continuou: “Se ele fica, é porque concordamos com a política econômica dele.”

Em entrevista à Folha, publicada neste domingo, o presidente do PT defendeu mudanças na política econômica e afirmou ainda que, nesse cenário, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deveria sair do governo se não concordar.

Dilma negou ainda que tenha discutido com Levy sua demissão em reunião na sexta-feira (16) antes de embarcar para a Suécia. “Vou falar uma coisa para vocês: há um nível de invenção de conversas que não é verdade. É absurdo dizer que nós tratamos disso na reunião. O que nós conversamos foi fundamentalmente sobre quais são os próximos passos e qual é a nossa estratégia no sentido de garantir que se aprove as principais medidas que vão levar ao equilíbrio fiscal. Nem tocou nesse assunto (saída), não tinha nenhuma insatisfação dele, até porque essa entrevista (Rui Falcão) não tinha ocorrido, não sei como saem essas informações, e que são danosas, porque de repente aparece uma informação que não é verdadeira”, afirmou.

Dilma negou ainda que o ex-presidente Lula tenha feito a ela qualquer pedido para trocar o ministro da Fazenda. “Ele nunca me pediu nada. O presidente Lula quando quer alguma coisa não tem o menor constrangimento em falar comigo”, afirmou.

Levy deve sair caso resista a mudanças, diz presidente do PT

Rui Falcão acredita que, para recuperar o crescimento, Dilma tende a fazer algumas alterações (Foto: ABr)

Da Folha de S. Paulo

O presidente do PT, Rui Falcão, defendeu mudanças na política econômica da presidente Dilma Rousseff. Ele acredita que, para recuperar o crescimento, Dilma tende a fazer algumas alterações na economia, liberando crédito para alguns setores cruciais. Afirmou ainda que, nesse cenário, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deveria sair do governo se não concordar.

“Acho que ela [Dilma] vai determinar a liberação de crédito com responsabilidade”, disse. “Se o Levy não quiser seguir a orientação da presidente, deve ser substituído.”

Ele ressalvou que o regime é presidencialista e que os ministros devem acatar as determinações da presidente.

*

Folha – Joaquim Levy é o ministro do crescimento?
Rui Falcão – É importante mudar a política econômica. É preciso que se libere crédito para investimento, para consumo. É uma forma de fazer a economia rodar. Da mesma maneira, é insustentável manter a atual taxa de juros.

O ministro da Fazenda descarta a liberação de crédito agora.
É a opinião dele. Pensamos diferente. Não estamos sozinhos. Muitos economistas e especialistas estão falando na mesma direção, em relação à taxa de juros e ao crédito. Está errada a política de contenção exagerada do crédito. Precisamos devolver esperança para a população.

Lula quer mesmo o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles na Fazenda?
Sei que precisamos mudar vários pontos da política econômica.

Inclusive o ministro?
A política. Quem nomeia e substitui ministro é a presidente.

O sr. gaguejou… Joaquim Levy é capaz de conduzir essa política que o sr. defende?
Um ministro da Fazenda não pode ficar na berlinda porque isso provoca consequências na economia. Se a presidente tiver a decisão de amanhã ou depois substituí-lo, isso não se anuncia previamente nem serei eu que sairei pedindo a substituição.

Mas o sr. defende mudanças, e Levy pensa diferente.
A lógica do regime presidencialista é que os ministros devem seguir a orientação do presidente da República. Se ela entender que essa política que está sendo realizada deve ter correções, no todo ou em parte, ela determina isso.

E a presidente concorda com tudo o que Joaquim Levy diz?
Ela está preocupada com a crise política. Quer estabilidade para fazer o país voltar a crescer. E a preocupação dela é com emprego, manutenção dos ganhos de renda…

Em relação a crédito?
Acho que ela vai determinar a liberação de crédito com responsabilidade. Há mecanismos para isso, desde crédito consignado, eventualmente mexer com o compulsório dos bancos para que os bancos privados possam liberar crédito. Mas é impressão minha, ela não disse isso. Se Levy não quiser seguir a orientação da presidente, deve ser substituído. Se ele não quiser, caso ela determine.

O PT vive hoje sua pior crise desde sua criação. É hostilizado. O partido se perdeu?
É inadmissível que a gente conviva com esse clima de ódio e intolerância, sendo seu ápice durante o velório do José Eduardo Dutra, em Belo Horizonte, onde esses fascistas panfletaram, num desrespeito à família, dizendo que ‘petista bom é petista morto’.

O sr. já foi hostilizado?
Vejo o Twitter diariamente. Tem baixaria contra todo mundo. Na rua, há olhares e uma pessoa passou correndo, xingou e foi embora.

Os petistas falam de intolerância mas não existe autocrítica.
Com ou sem autocrítica, nada justifica o ódio e a intolerância. Temos feito autocrítica, sim. O PT não deveria ter enveredado pelo financiamento empresarial, porque nos igualamos aos outros partidos. Não podemos ficar exclusivamente na disputa eleitoral. Ninguém combateu a corrupção como nós.

O ex-tesoureiro do PT e o ex-ministro José Dirceu estão presos, mas seguem filiados.
Nenhum deles foi condenado [em última instância]. Não há prova contra o Vaccari. A não ser delações.

Se forem condenados, Dirceu e Vaccari sairão do partido?
Espero que, se isso ocorrer, tomem essa decisão.

Mas e a desfiliação?
O Vaccari não tem acusação de desvio ético. Nada se comprovou contra ele.

E Dirceu?
Estamos esperando a defesa dele. Há acusações nessa direção. Ele deve avaliar se existe essa possibilidade de deixar unilateralmente o partido. A decisão de desfiliação é pessoal. A decisão de desfiliar é do partido.

Na sua opinião, há diferença entre Vaccari e José Dirceu.
Vaccari estava no exercício da secretaria de finanças. As tarefas exigiam que captasse recursos junto às empresas. Mas ele nunca usou qualquer contato para se beneficiar.

Há um acordão entre o governo e o deputado Eduardo Cunha para protegê-lo?
Quem tem acordo declarado com ele, fotografado e reconhecido, é a oposição. Que tipo de acordo poderíamos ter, se Cunha pode, a qualquer momento, acolher o pedido de impeachment e ele não sabe como vamos nos posicionar no Conselho de Ética? Ele é o presidente da Câmara até segunda ordem. Tem que haver uma relação institucional. Isso não significa blindar investigação.

Documentos comprovam que ele tem contas na Suíça.
Com a documentação apresentada pela Procuradoria, a situação de Cunha está cada vez mais insustentável.

“Não sei se teve evolução política”, diz Levy, sobre sua situação no cargo

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Da Folhapress

 

Ao comentar o discurso de 7 de setembro da presidente Dilma Rousseff, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou à reportagem que o momento é de “cooperação” e disse que não saberia dizer se houve “evolução política” sobre sua situação no governo depois da reunião que teve com a presidente na quinta-feira (3).

A declaração foi dada por Levy na noite desta segunda (7) ao chegar a Paris, onde participa de reuniões com empresários nesta terça (8).

Questionado sobre como vê sua própria situação no cargo após a última conversa com Dilma, Levy respondeu: “Eu estou no exterior, não sei se teve alguma evolução política. O resto a gente tem trabalhado para garantir essa ponte, uma ponte fiscalmente sustentável para a gente passar esse período e chegar com segurança, inclusive garantindo total reconhecimento da qualidade da nossa dívida pública, para fazermos essa ponte de garantia fiscal até a gente entrar com tudo pronto neste período de maior produtividade”.

Na quinta-feira, Levy teve um encontro com Dilma e os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Nelson Barbosa (Planejamento) para conter a crise na equipe econômica e o risco de o ministro da Fazenda deixar o cargo em meio à sua divergência sobre o envio da proposta do Orçamento de 2016 com uma previsão de deficit de R$ 30,5 bilhões.

Levy não quis entrar em detalhes sobre o teor da conversa de quinta-feira, que quase levou ao cancelamento de sua viagem à Turquia, para uma reunião do G20, de onde foi para Madri e, agora, Paris. “A conversa (com Dilma) foi como sempre, sobre os temas relevantes, exatamente a nossa política fiscal”, disse.

COOPERAÇÃO
O ministro afirmou que é hora de “cooperação” ao comentar o discurso de 7 de setembro da presidente Dilma, em que ela defendeu “remédios amargos” para a crise e disse que o governo vai superar possíveis “erros” cometidos.

“Acho que é um momento de cooperação, um momento em que a gente se dá conta de que é importante tomar as medidas necessárias para a gente continuar o reequilíbrio da economia. A economia já está se reequilibrando, você vê a conta corrente diminuir e, a expectativa de inflação também tem caído, toda ela (economia) se reequilibrando”, afirmou Levy.

“Agora é importante a gente tomar outra medidas, particularmente na área fiscal, para que esse processo continue, também medidas estruturais para preparar o Brasil para esse novo momento com novas perspectivas de crescimento”, destacou o ministro.

ANÁLISE: Com anúncio, Joaquim Levy encolhe no cargo

Por IGOR GIELOW
Da Folha de S. Paulo

Se no mercado financeiro já havia sérias dúvidas sobre a capacidade de o ministro Joaquim Levy salvar a lavoura da economia com o ajuste que propôs até aqui, o anúncio deste começo de noite de quarta (22) parece enterrar de vez qualquer percepção neste sentido.

Politicamente, Levy sai derrotado triplamente. Dourando ou não a pílula ao sacar o argumento da credibilidade de previsões, o fato é que ao baixar a meta da economia que o governo vai fazer ele basicamente admite que seu ajuste não está funcionando.

Segundo, viu adicionada à receita uma espécie de gatilho de permissividade: se medidas que dependem de um Congresso conflagrado não forem aprovadas, a regra permite que um resultado ainda pior seja aceito.

Soa mais como desculpa antecipada do que “construção de expectativas”.

Por fim, a tesourada no Orçamento, que mesmo o Planalto via como essencial há poucas semanas para dar a sinalização sobre a seriedade das intenções do governo, ficou abaixo da metade do que Levy gostaria. Ponto para Nelson Barbosa (Planejamento), eterno opositor do aperto no cinto.

Com isso, Levy sai menor desta nova rodada de anúncios econômicos, ainda que venda a concordância com tudo o que foi anunciado. O PT vai comemorar a gradual debacle de seu antípoda “empoderado” a contragosto por Dilma Rousseff _já que ela nunca teve afinidade ideológica ou econômica com o ministro.

Sobe assim a cotação de Barbosa no governo, algo bem distantes de agradar os agentes econômicos neste momento. Se o PT conseguir emplacar mudanças na coordenação política do governo, aí a “retomada” terá sido completa, com um previsível agravamento na agenda de crise.

Além de criticar o ajuste proposto por Levy, setores do PT próximos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também gostariam de ver um nome como do petista Jaques Wagner (ora ministro da Defesa) na coordenação política do governo.

Aa equação aqui é mais complexa pois melindraria ainda mais o PMDB. O vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) foi colocado na função justamente para azeitar a relação com o partido, particularmente para facilitar a aprovação do ajuste no Congresso.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) já rompeu publicamente com Dilma, e Renan Calheiros (PMDB-AL) presidiu o Senado no primeiro semestre como um adversário do Planalto a maior parte do tempo.

Com Cunha enfraquecido após ser acusado no âmbito da Operação Lava Jato, foi significativo ontem ver Levy visitar Renan e o senador Romero Jucá (PMDB-RR) antes da entrevista coletiva sobre o corte. E citar nominalmente a “presidência do Senado” como fator de apoio aos esforços do governo.

Tais agrados fazem parte de uma tentativa do Senado em apaziguar a relação com Renan, mas tal movimento já ocorreu sem sucesso em outros momentos.

Lógica de Levy: Meta menor vai impor um ajuste maior

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Ministro da Fazenda trava uma batalha interna sobre o tamanho do aperto nas contas públicas (Foto: ABr)

Do Brasil 247

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirma que a redução da meta fiscal não implicaria dizer que o ajuste acabou. Para ele, isso é uma ilusão e o efeito será exatamente o contrário. “Na verdade, se tiver de baixar, é porque o ajuste tem de continuar, tem de se aprofundar”, disse, em entrevista à Folha. Levy trava uma batalha interna sobre o tamanho do aperto nas contas públicas com o núcleo político do governo e o Ministério do Planejamento.

A meta hoje é economizar 1,1% do PIB. A ala política quer baixá-la para 0,6%, liberando 0,5% do PIB para gastar. Já o Planejamento alega ser impossível cumprir essa meta em ano de recessão. Mas Levy rebate dizendo que a fraqueza da economia advém exatamente das incertezas e indefinições em relação ao ajuste. “Não tem Fla-Flu. Os observadores às vezes têm uma ilusão. É importante as pessoas não terem essa ilusão. As pessoas pensam: ‘Ah, então baixou a meta porque acabou o ajuste’. Na verdade, se tiver de baixar a meta, é porque o ajuste tem de continuar, se aprofundar”, reforça.

Para ele, um cenário desastroso de retração de 2% do PIB não acontecerá se as medidas que propõe forem fielmente implementadas, pois teriam a capacidade de reanimarem a economia. O Brasil não perderia sua nota de bom pagador se conseguir concluir o ajuste: “Não estamos fazendo um ajuste colossal. A fraqueza da economia vem de incertezas, indefinições, de o ajuste não estar completo. As empresas estão reticentes. Se a pessoa não sabe quanto tempo vai demorar o ajuste, ela não tem condições de tomar decisões. Não tomando decisões, diminui o investimento, diminuindo a capacidade da economia.”

E insiste: “Todo o mundo está retraído. Vou comprar um carro? Melhor não, não sei o que vai acontecer, não sei quando o ajuste vai acabar. Aí está a discussão da meta, mas as pessoas devem entender que, se você baixa a meta, é porque não está conseguindo alcançar certos objetivos.”

Levy adianta que está tomando medidas para levantar receitas, que ajudam a economia, como a abertura do capital da Caixa Seguridade, que dará dinheiro ao governo e ajudará também a economia. O Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) deverá ser alvo de um lançamento inicial de ações. E também o leilão da folha de pagamento do setor público e a cobrança de R$ 70 bilhões que estavam parados no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf).

O ministro afirma que a economia não tem mais folga para aplicação de medidas anticíclicas e defende que será menos doloroso enfrentar o problema o mais rapidamente possível: “Nas outras crises, em 2009, você tinha um colchão. O problema é que você gastou o colchão nos últimos dois a três anos. Não há espaço para política anticíclica. Por isso as pessoas ficam assustadas com a atividade caindo mais do que o esperado. Temos de lidar com essas coisas. Se lidar, não dói tanto. Se não lidar, poderá vir a doer.”

Levy também rebateu os golpistas de plantão: “Em que bases haveria um impeachment? Não vejo. Parece um debate meio descolado. Com base em quê? Até agora não consegui ver bases para isso. Não tem nenhuma acusação contra ela (Dilma Rousseff) que possa justificar um impeachment.”