Adversários de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) avaliaram que a renúncia do deputado à presidência da Câmara, representa mais uma manobra do parlamentar para evitar a cassação do seu mandato. Embora tenham comemorado a saída definitiva de Cunha do comando da Casa, líderes da oposição estão atentos aos próximos passos do peemedebista, pois acreditam que ele influenciará fortemente na escolha do seu sucessor. A minoria também se articula para escolher o seu candidato à eleição, prevista para ocorrer na próxima semana.
Os oposicionistas consideram que a renúncia de Cunha à presidência da Câmara tenha sido anunciada hoje como uma tentativa de sensibilizar os seus aliados e de desviar o foco do processo que tramita na Casa contra ele. Na próxima segunda-feira, 11, os parlamentares devem votar o parecer do relator Ronaldo Fonseca (PROS-DF), na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), que acatou um dos 16 recursos da defesa de Cunha. O parecer de Fonseca defende a anulação da votação do Conselho de Ética que decidiu pela cassação do mandato do deputado. A votação final do processo de Cunha será feita no plenário.
Para o deputado Ivan Valente (SP), líder do PSOL, um dos autores da denúncia contra Cunha, a renúncia do deputado à presidência foi a “primeira grande vitória do partido” e a segunda vitória será a “cassação e a prisão” do parlamentar. “A saída de Cunha da presidência é a última tentativa de se salvar. Mas eu acho que a situação dele está insustentável, seja no plenário, seja na CCJ, e ele será cassado”, declarou. “Cunha não comove ninguém, ele dizer que está sendo expulso por vingança é um vexame, um escárnio (…) As lágrimas de Cunha não comoveram nem os crocodilos”, ironizou. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), afirmou que a carta da renúncia de Cunha em tom emotivo foi um ato totalmente político.
O líder da Rede, deputado Alessandro Molon (RJ), avaliou que o objetivo da renúncia de Cunha é “confundir e desviar o foco de sua cassação”. “Esse é um hábito dele, transformar derrotas em manobras.” Segundo Molon, o peemedebista pretende trocar o ato da renúncia pela salvação do seu mandato de deputado. “Não tem nenhuma possibilidade de Cunha se salvar no plenário. Isso (a renúncia) é fruto de uma sequência de derrotas, ele vem caindo um degrau após o outro”, disse. O deputado considerou também que o parlamentar “não renunciou a nada”, pois, após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de afastá-lo, todos sabiam que ele não tinha mais condições de voltar ao poder.
Ao ser questionado sobre o fato de ser um dos possíveis candidatos da minoria à presidência da Casa, Molon desconversou. “A principal tarefa para a semana que vem é a cassação de Eduardo Cunha”, ponderou. Na avaliação do líder, Cunha não se sustentou na presidência por causa da opinião pública, e a sua permanência prejudicou a imagem do Congresso Nacional como um todo. “A Câmara precisa eleger um nome que resgate a credibilidade da Casa (…) Pensar na presidência da Casa antes de haver uma decisão na CCJ é colocar o carro na frente dos bois”, concluiu.