Por Luiz Carlos Borges da Silveira
Foi realizado em Curitiba o 3° Fórum de Agricultura da América do Sul, com a participação de especialistas, representantes de instituições do setor e de governos de diversos países. Importante evento pela oportunidade do tema e do momento que vive a agroeconomia. Deve ser destacado que Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai respondem por 30% do mercado global de grãos; quase 30% da proteína animal (bovinos, suínos e aves) negociada no mundo tem origem no Cone Sul. Nas exportações brasileiras, oito dos dez itens da pauta ou segmentos que lideram os embarques nos portos nacionais são do agronegócio.
A dinâmica do mercado internacional requer, entretanto, que nosso país amplie as estratégicas e supere as dificuldades internas. A crise econômica no país afeta o agronegócio, mas não impede projeções otimistas, incluindo a contribuição do governo para criar ambiente favorável a investimentos e efetiva presença no comércio global. Como disse um técnico durante os debates, “sabemos produzir, mas ainda estamos aprendendo a vender. A disputa é acirrada, o ambiente internacional é uma oportunidade, mas também é dinâmico e muito competitivo. O Brasil precisa aprender a negociar, posicionar-se política e comercialmente, mostrar que não temos apenas escala, mas estratégia”.
O empresariado brasileiro do setor tem demonstrado capacidade, visão e empreendedorismo e o agronegócio é hoje o ponto alto da economia. Pesquisa, tecnologia e investimentos levaram a nossa produtividade a índices até superiores a países desenvolvidos. Apenas para ilustrar, a produtividade da soja brasileira saiu de 1,8 tonelada por hectare para 4,7 toneladas.
O Brasil tem enorme potencialidade, clima favorável, área para a produção agrícola com extensão ainda longe da saturação e por isso agrega condições para se consolidar não apenas como celeiro global, mas capaz de responder à demanda futura. Porém, um dos mais críticos problemas é interno e a melhoria depende da vontade política de governos, o que infelizmente tem faltado há muito tempo.
Esse problema é o binômio infraestrutura/logística, que começa exatamente na falta de investimentos públicos em armazenagem, portos, aeroportos, rodovias e ferrovias. O escoamento da produção brasileira de grãos ainda é uma das principais preocupações dos elos da cadeia produtiva do agronegócio. Diante dos gargalos logísticos e da ampliação da produção nacional nas últimas temporadas, existe a necessidade urgente de ampliar a oferta de modais de transporte, como o hidroviário. Um levantamento da Associação Brasileira de Exportadores de Cereais mostra que os produtores sofrem prejuízos anuais que chegam a US$ 4 bilhões em razão da situação caótica da logística para a exportação de soja e milho. Esse montante considera as perdas decorrentes das estradas esburacadas, falta de armazéns e burocracia nos portos, o que piora com seguidas greves setoriais. Atualmente, mais de 80% da safra brasileira de grãos percorrem o trajeto das fazendas até os portos em caminhões. Esse modal, além de consumir parte do lucro dos produtores, enfrenta problemas de entradas com asfaltos em má condição de conservação e congestionamento nas proximidades dos principais portos.
O benefício econômico e social gerado por cadeias produtivas do agronegócio e o papel estratégico para a garantia da segurança alimentar reforçam a relevância do campo para o meio urbano, mostrou a conferência de abertura do 3° Fórum de Agricultura da América do Sul. É oportuno lembrar a muito citada frase de que no futuro a nação que possuir água potável e produzir alimentos em abundância dominará. Certamente o Brasil não quer dominar, mas se não tomar providências corre o risco de ser dominado.