Artigo: Igualdade é uma questão de gênero

Por Fernando Bezerra Coelho

Discutir políticas públicas que promovam a igualdade é, atualmente, uma das grandes exigências da sociedade brasileira. A consciência política e cidadã das pessoas aumentou, os debates foram ampliados e hoje qualquer governo conectado com as expectativas populares precisa estar atento e saber ouvir. O novo conceito de democracia envolve escutas permanentes aos mais diversos tecidos sociais, realização de conferências, fóruns e seminários, por exemplo. É um jeito diferente de administrar, com diálogo livre e empoderamento horizontalizado.

Algumas das mais bem sucedidas experiências brasileiras estão na política de gênero desenvolvida em Pernambuco. Nos últimos sete anos e meio as mulheres garantiram conquistas históricas e irrevogáveis, como a criação da Secretaria Estadual da Mulher, comandada desde 2007 pela Cientista Política e professora Cristina Buarque. Uma pasta voltada exclusivamente para a promoção da igualdade entre os gêneros, porque apesar de ser a maior parcela da população a mulher ainda ocupa menos espaços na sociedade. Durante toda a gestão foram realizadas dezenas de conferências regionais, com mulheres de todos os lugares do Estado podendo sugerir e apontar soluções. Deste ambiente democrático surgiram projetos como o Mãe Coruja, uma referência no Mundo para o acompanhamento às mães e recém-nascidos. O projeto, premiado recentemente pela ONU, está presente em todas as cidades de Pernambuco e atendeu a mais de cem mil mulheres e 50 mil crianças. Coordenado durante seis anos pela ex-primeira dama Renata Campos, o Mãe Coruja ajudou Pernambuco a reduzir um triste indicador que era a mortalidade infantil.

Os debates mostraram que as trabalhadoras rurais, em muitos casos, passaram a assumir o papel de único integrante adulto da família, sendo responsáveis pelo sustento integral da casa. Esta informação fez com que o a gestão tivesse a sensibilidade para criar o Chapéu de Palha Mulher, garantindo renda a milhares de pernambucanas que ficavam desempregadas durante a entressafra. Mais uma iniciativa reconhecida e premiada pela ONU.

A violência contra a mulher ainda é um tema que preocupa, mas com coragem e estratégia estamos enfrentando o problema. O primeiro passo foi criar as condições para que as vítimas pudessem denunciar e que a Justiça tivesse condições de punir os agressores. A rede de Delegacias da Mulher foi estendida por todo o Estado, junto com os juizados especializados. As denúncias aumentaram, as prisões e punições também e o número de crimes contra as mulheres caiu 38%. Porém, não podemos pensar apenas de maneira punitiva. É necessário tocar as consciências, para que a violência não esteja nunca mais na casa das nossas filhas. Entre 2007 e 2014 foram desenvolvidas campanhas importantes, estimulando as denúncias e, ao mesmo tempo, educando. Porque os homens de verdade devem ser parceiros nesta luta, que não é só das mulheres, mas de toda a sociedade. 

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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