Caruaru na contra- mão dos festejos juninos de raiz.
Esse título de Caruaru ” A capital do forró” que foi batizado por Jorge de Altinho em sua composição na década de 1980, levou a nossa cidade ao patamar midiático, atraindo grandes multidões de turistas todos os anos.
Naquela época, Caruaru tinha grandes palhações de festejos, as caravanas de rádio puxado pelos radialistas; Lídio Cavalcanti, Ivan Bulhões, os Irmãos Almeida, as festas na rua 13 de maio feito pelas irmãs Liras, o festival de fogueteiros, concurso de ruas ornamentadas, palhoças nos bairros, as fogueiras esquentando o ritmo do forró tradicional nas calçadas e nos sítios das pessoas, as nossas drilhas, tudo isso,fazia da nossa cidade um universo de entrega e valorização da cultura popular. O tempo foi se passando e a nossas tradições foram aos poucos sendo engolida pela cultura de massa.
Sei que o tempo não volta, mais precisamos entender o que é autenticidade cultural e modernismo copitado.
Esse modelo atual de festa de São João não conduz mais com o nosso título “melhor e maior São João do Mundo” a realidade enfrentada é cruel e enganadora. O São João de Caruaru, precisa de outros olhares e formas de fazê-lo.
O festejo junino nasceu da essência do povo, dos costumes e das tradições. Esse modelo atual está defasado, totalmente descaracterizado, mercadológico, uma festa feita para agradar a quem? Precisamos combater esse “forró” sem conteúdo, esse “forró de plástico”, esses shows que expõem as mulheres, que falam em apologia ao álcool, a traição, a ostentação, a festa parece mais um festival de axé, e músicas de cantores sertanejos universitários, e por aí vai a bagaceira…
Precisamos de um novo modelo de São João que tenha chamamento público para que os artistas possam mandar suas propostas, precisamos de um desfile cultural unindo todas as linguagens artísticas, precisamos quebrar com esse conceito ridículo de “palco principal” precisamos de palcos específicos com estruturas dignas para as bandas de pífanos, os grupos de Bacamarteiros, os trios pé de serra, palco do repente, palco alternativo com estrutura de fato, precisamos descentralizar a festa com palcos espalhados na cidade, é preciso fortalecer o Alto do Moura nesse período, é preciso o conselho de políticas públicas ser ouvido fato que não aconteceu até porque ele é (deliberativo, consultivo e normativo), precisamos de uma audiência pública de verdade para ser ouvido e debatidas as novas propostas, e que elas de fato saiam do papel e se transforme em práticas, precisamos de diálogo com a cultura coisa que essa gestão insiste em não fazer, é preciso que os nossos artistas forrozeiros estejam nos palcos e nas vitrines. Precisamos de políticas públicas de estado.
A nossa sorte são as festas das comidas gigantes nos bairros que envolve toda a sociedade, também na programação oficial que foi anunciada alguns bons artistas locais e nacionais estão presentes no “palco principal” sei que existem outros espaços e apresentações dentro dos festejos juninos que os nossos artistas estão participando, mais todo artista local que faz um trabalho decente sonha em se apresentar no palco de maior projeção.
E dentro dessa proposta atual, sentimos a falta de grandes artistas nesse cenário cultural, nomes como: Fagner, Zé Ramalho, Maurício Ramalho, Genival Lacerda, Alcymar Monteiro, Assisão, Nádia Maia, Biliu de Campina, Waldones, Salatiel Camarão, Herbert Lucena, Amelinha, Trio Nordestino, Chambinho, Heleno dos Oito Baixos, Banda de pífanos Dos Bianos, Cristina Amaral, Caxeado, Humberto Bonny, Totonho, Marlene do Forró, Zui e seu Forro de mais, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Gil,Quinteto Violado,Paulo Matricó, Anchieta Dali,Vates e Viola, Savinho, entre tantos outros fazedores de cultura no “palco principal” que tem a raiz da cultura popular nordestina no sangue.
O São João de Caruaru é um patrimônio da cultura nordestina.
Hérlon Cavalcanti
Jornalista