OPINIÃO: Socioambiental

Por MENELAU JÚNIOR

Poucas coisas neste mundo são tão incômodas (para não dizer chatas) quanto o uso do hífen na língua portuguesa. Acertar a grafia de palavras hifenizadas é, para a maioria, tão difícil quanto encontrar um torcedor do Sport humilde e realista ou mesmo um “jovem rebelde” que não idolatre o assassino Che Guevara. Enfim, o hífen é uma pedra no sapato. Quando se usa o elemento “socio-“, são frequentes os desvios de grafia. No dia 6 de fevereiro, comemora-se o dia do Agente de Defesa Ambiental. Aproveitando, pois, a oportunidade, vamos esclarecer: deve-se escrever “socioambiental” ou “sócio-ambiental”?

O elemento de composição “socio-“ não precisa vir seguido de hífen quando se liga a um outro vocábulo – a não ser nos casos em que este comece com a letra “h”. Portanto, devemos escrever sem hífen: “socioambiental”, “sociocultural”, “sociobiologia”, “socioeconômico”, “socioeducativo”.

Já no caso da palavra “sócio-histórico”, o hífen deve ser empregado, uma vez que o segundo elemento começa com “h”. Não confunda com a palavra “sócio-gerente”, que é um substantivo composto. Nesse caso, a palavra “sócio” nada tem a ver com “sociedade”, como nos casos supracitados.

Também é bom observar a grafia de “social-democrata” (com hífen), que, segundo o dicionário Houaiss, é “doutrina revolucionária socialista e marxista que se difundiu especialmente na Alemanha, Rússia e países escandinavos a partir da segunda metade do século XIX, até as vésperas da revolução de outubro de 1917, na Rússia”.

Cuidar da grafia não faz mal a ninguém.

Até a próxima semana.

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: ‘Decapitar’ ou ‘decaptar’?

Por MENELAU JÚNIOR

Esta semana, o Brasil ficou chocado com as imagens divulgadas de um presídio no Maranhão. Detentos caminham sobre poças de sangue e depois exibem corpos de alguns presos mortos. O que choca é o tipo de morte: DECAPITAÇÃO. Nas imagens, os cadáveres aparecem com a cabeça arrancada. Há cortes profundos, demonstrando que deve ter havido tortura antes dos crimes. Num dos momentos, um preso diz “mostra esse desgraçado” enquanto ergue a cabeça do rival.

Muita gente, ao se referir ao ato de separar a cabeça do corpo, escreve “decaptação”, com “p” apenas. A palavra correta é DECAPITADO (com “pi”), e não “decaptado”, como muitos escrevem – provavelmente por influência de “captar”, que não tem nada a ver com DECAPITAR. DECAPITAR é palavra formada pelo prefixo “de-” (que significa “afastar”) e do radical latino “capitia” (cabeça). Portanto, tem “PI”: “decapitação”, “decapitar”, “decapitado”.

Embora brutal, a DECAPITAÇÃO não é coisa de detentos cruéis apenas. Basta lembrar que João Batista teve esse fim nas histórias bíblicas e que a guilhotina DECAPITOU muita gente na França.

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: Meus votos para 2014

Por MENELAU JÚNIOR

Já que esta é uma época de desejar um 2014 “maravilhoso” e “repleto de felicidades e realizações”, também tenho algo a desejar não apenas aos meus amigos do dia a dia, deste blog e das redes sociais, mas, de uma forma geral, a todos os brasileiros. Por isso, desejo que em 2014…

  • aprendamos a ser mais pacientes com aqueles que precisam de nós;
  • devolvamos o troco que nos passam a mais – mesmo que sejam apenas centavos;
  • deixemos de furar filas como se nada estivéssemos fazendo;
  • sejamos mais honestos nas provas do colégio, da faculdade e dos cursos de idiomas;
  • bebamos menos;
  • não sejamos irresponsáveis dirigindo depois de ter ingerido bebida alcoólica – mesmo que “apenas um copo de cerveja”;
  • consumamos menos e poupemos mais;
  • respeitemos mais nossos pais e mães;
  • não votemos pensando nos nossos interesses particulares, mas em nossas convicções sobre quem pode ser melhor para a sociedade;
  • sejamos mais frequentadores de livrarias do que de academias;
  • sejamos capazes de perdoar a quem nos ofendeu, o que não significa fazer de conta que não fomos ofendidos;
  • deixemos de usar o Facebook para nossas lamentações amorosas ou para nossas “indiretas” infantis;
  • sejamos capazes de parar para ouvir os mais velhos;
  • não compactuemos com a desonestidade, seja de quem for;
  • exijamos mais responsabilidade de nossos jovens, principalmente quando o assunto é estudo;
  • combatamos o uso de drogas a qualquer custo;
  • deixemos de usar o nome de Deus em vão ou em nome do dinheiro e dos milagres fabricados;
  • combatamos os maus políticos com as urnas, e não com a destruição dos patrimônios públicos e privados;
  • sejamos mais tolerantes dentro de casa, cuidando de cada palavra que sai de nossa boca;
  • saibamos que o mundo só muda quando nós mudamos.

É SÓ ISSO QUE DESEJO A TODOS VOCÊS EM 2014.

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: Dez anos de empáfia

Por MENELAU JÚNIOR

livroAs férias estão aí. Uma boa oportunidade para ler e se informar um pouco. Recomendo esta semana o livro “Década perdida: Dez anos de PT no poder”, do historiador Marco Antonio Villa. Lançado no início do dezembro, a obra já estava esgotada antes mesmo de chegar às livrarias. Agora, já está na segunda edição.

Em suas quase trezentas páginas, Villa reconstrói, didaticamente, ano a ano, o festival de empáfias perpetrado – e engolido por muitos brasileiros – pela máquina petista. Impecável em seus dados, o historiador com mestrado em sociologia e doutorado em história revela como foi construído o conto de fadas em que se transformou a história do “operário que virou presidente”. Tudo está nas páginas do livro: a cooptação das centrais sindicais, os escândalos sucessivos e a defesa dos criminosos, a criação de cargos para garantir emprego aos militantes – e a consequente mesada aos cofres do partido. Villa mostra o apoio incondicional de Lula a Sarney e a Fernando Collor, bem como o apoio aos crimes cometidos pela ditadura cubana e ao programa atômico do Irã.

“Década perdida” é um livro imprescindível àqueles que não veem como normal o fato de um partido “sacar, corromper, infiltrar, aparelhar o Estado desde dentro e de forma que, progressivamente, não mais se distinga do partido – de jeito que, afinal, sirva ao partido, seja o partido”. Para o autor, o crescimento econômico brasileiro – bem inferior ao de outros países emergentes – foi muito mais fruto de condições internacionais favoráveis do que da competência petista de gerir o Estado.

Como promete o título, o livro esmiúça dez anos de PT no poder, de 1º de janeiro de 2003 a 31 de dezembro de 2012. Mostra como a imprensa – mesmo aqueles órgãos hoje demonizados pelo petismo – se encantou, no início do primeiro mandato de Lula, com a história do operário que, diga-se de passagem, trabalhou apenas 9 anos na função, uma vez que fez do sindicalismo sua “profissão”. Quando esta mesma imprensa começou a denunciar os descalabros do governo, recebeu a alcunha de PIG (Partido da Imprensa Golpista). Villa diz que, com dinheiro público, o PT trouxe para si vários jornalistas e financiou uma infinidade de blogs com a finalidade de dar cores ao conto de fadas vermelho e agredir adversários, vistos agora como “inimigos”.

Villa também não poupa críticas à oposição – inclusive a Fernando Henrique Cardoso, que foi contra o processo de impeachment quando cogitado na época do mensalão, em 2005. Para o autor, essa foi a maior falha na carreira de FHC. O PSDB, principal partido da oposição, é pintado por Villa como incompetente em seu papel de opositor, medroso, conivente com as falácias de Lula.

Enfim, uma obra que revela os bastidores de um projeto de poder que se valeu da certeza da impunidade, da miséria econômica e educacional de muitos brasileiros e do carisma de seu mais importante membro para dar certo. Como escreve o autor, “O Brasil de hoje é uma sociedade invertebrada. Amorfa, passiva, sem capacidade de reação. É uma República bufa, uma República petista”.

Até a próxima semana.

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: Meu filho reprovou

Por MENELAU JÚNIOR

O réveillon de muitas famílias não será muito agradável. Nas últimas semanas de dezembro, as escolas costumam divulgar o resultado de suas avaliações finais. E quando o resultado do jovem é a reprovação, “a casa cai”. O que fazer?

Como professor, sei o quanto uma reprovação pode mudar o destino de um jovem. Para melhor ou para pior. E isso depende muito mais da família – especialmente dos pais. Se eles não souberem como lidar com a situação, o que poderia servir de reflexão e posterior crescimento pessoal para o adolescente pode transformar-se em mais um motivo para o descaso e a falta de limites.

Primeiramente, parece-me equivocado buscar culpados. Em especial os professores ou a escola. Hoje, muito mais que antigamente, as chances de um aluno ser reprovado são remotíssimas. Além de quatro provas bimestrais, ele tem recuperações paralelas e, não consegundo, ainda há uma prova final. Traduzindo: nove provas (noventa pontos) para conseguir 28 pontos – ou menos, dependendo do cálculo da prova final. Convenhamos: exige-se muito pouco.

Jogar a culpa exclusivamente no jovem também é muito fácil. Existem adolescentes que fazem tudo para não estudar – e nisso a internet e os amigos de farra são grandes companheiros. Compensadas algumas exceções – raríssimas, diga-se de passagem – em que os alunos têm realmente muita dificuldade de aprendizagem, a maioria que chega à situação da reprovação está ali por falta de estudo mesmo, de compromisso com o conhecimento. E os pais, no fundo, sabem disso. Mas em alguns casos se abstêm de tomar atitudes mais rígidas com medo de contrariar os filhos. É cruel admitir, mas alguns pais se tornaram reféns dos filhos.

São jovens que passam a madrugada “mexendo” no celular e dormem durante as aulas. Passam os fins de semana na farra, bebendo com amigos. São adolescentes que não aceitam a reprovação porque não são contrariados dentro de casa. Mimados e com todos os seus caprichos realizados, não conseguem compreender que a sociedade – e , portanto, a escola – reprova o descaso e a falta de compromisso.

Nessa hora difícil, apenas punir o adolescente também não é o caminho. A reprovação já é, para eles, uma punição. Talvez seja o momento de sentar, conversar, refletir sobre os passos errados dados durante o ano letivo. Aceitar transferência de responsabilidades não fará o jovem crescer como pessoa e como estudante. Ele precisa reconhecer que estudou pouco – ou que estudou muito apenas nos últimos dias de aula.

Pergunto aos pais: o que acontece quando um funcionário é faltoso, não cumpre suas responsabilidades, faz “corpo mole” durante todo o ano e decide trabalhar apenas no mês de dezembro? Fatalmente será demitido. Na escola, ocorre mais ou menos a mesma coisa. Quem deixa para estudar depois da terceira unidade deve saber o risco de sua negligência. Às vezes, com uma filinha do colega ou mesmo com a ajuda do próprio sistema, que sempre favorece os pouco estudiosos, dá para passar. Às vezes não. E quando “a casa cai”, os pais têm o dever de mostrar como se constrói um edifício de alicerce seguro. Culpar a escola ou os professores é isentar aqueles que tinham a obrigação de pôr os tijolos: os alunos, nossos filhos. Na hora do recomeço, uma conversa franca faz bem. Limitar as baladas e o uso da internet também.

Até a próxima semana.

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OPINIÃO: Chancela da mediocridade

Por MENELAU JÚNIOR

A pedagogia vigente em muitas escolas brasileiras é a chancela da mediocridade. Funciona assim: o aluno é muito fraco e não apresenta requisitos aceitáveis para ser aprovado. Mas, como suas notas melhoraram de 3,8 para 3,9 – um “avanço” de aproximadamente 3% –, ele deve receber crédito e seguir adiante. É essa a pedagogia adotada pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ao comentar o vergonhoso resultado do Brasil no Pisa, uma prova aplicada em 65 países pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).

O resultado deste exame em sua versão de 2012 saiu há poucos dias. O Brasil está, entre os 65 países, em 57º lugar. Caiu 4 posições em relação ao exame anterior, de 2009, mas, para os homens de Brasília, o resultado foi bom. Em relação a 2009, o Brasil melhorou em Matemática (passou de 386 pontos para 391), estagnou em Ciências (405 pontos) e piorou em Leitura e Interpretação (passou de 412 pontos para 410). Mas Mercadante comemorou.

Sob a análise da OCDE, 67% dos alunos brasileiros não sabem o mínimo do mínimo. Repito: 67% dos alunos brasileiros não têm conhecimento mínimo do que deveriam saber. Mínimo. Ou seja, seriam reprovados em qualquer teste que levasse em consideração as competências exigidas para a série. Só para se ter uma ideia, em Xangai (China), esse percentual é de ínfimos 3,8%. No outro extremo, o dos alunos com excelente desempenho, temos apenas 1,1%, o mesmo percentual que há uma década.

A lista do Pisa tem, nas seis primeiras posições, apenas asiáticos. Explica-se: lá, existe uma obsessão pelo conhecimento. Nada de “notas por criatividade”, “trabalhos para acrescer pontos”, “ajuda para quem é comportadinho”. Não. Lá se exige esforço e dedicação extrema aos estudos sob a pena da humilhação pública. Os pais não admitem resultados medíocres, as escolas não aprovam incompetentes e os melhores professores são reverenciados e exaltados na sociedade – o que significa muito mais que excelentes salários, que eles também recebem. No mundo asiático, prevalece a meritocracia – para alunos e professores. Por aqui, conformamo-nos com pouco e chancelamos a mediocridade.

O Pisa também mostrou que existem diferenças significativas entre as regiões brasileiras. Sul e Sudeste apresentam resultados melhores que a pífia média nacional. Já no Norte e no Nordeste, o ensino é uma vergonha: nove estados dessas duas regiões estão na lista dos dez piores lugares do planeta no ensino de matemática. Foi isso mesmo o que você leu: dos dez piores lugares do planeta no ensino de matemática, nove são estados brasileiros do Norte e do Nordeste. Mas Mercadante comemorou.

O governo, claro, já arrumou a solução para esse desastre: as cotas! A cada ano, mais e mais vagas das universidades federais são destinadas aos cotistas – alunos que teriam todo o direito a uma educação de qualidade, mas que terão de se contentar com esses resultados, pois “lá na frente” serão beneficiados com as cotas. Afinal, para os padrões brasileiros, subir de 3,8 para 3,9 é um sucesso. Mercadante comemorou. Vamos comemorar também.

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