Os cortes orçamentários nas áreas de segurança pública tornaram as fronteiras brasileiras mais vulneráveis ao contrabando. Este ano, despencou o número de apreensões de cigarros ilegais que chegam principalmente do Paraguai. De acordo com estimativa do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteira (Idesf), em 2016 o volume de cigarros apreendidos deve ser 30% menor do que em relação a 2015. No ano passado, mais de 6 bilhões de unidades foram confiscadas antes do produto cair no mercado informal.
Para o Idesf, entidade que desde 2010 compila pelo menos 85% das apreensões realizadas pela Receita Federal, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e polícias militares estaduais, a falta de investimentos na segurança das fronteiras já está gerando sérias consequências. Inversamente à queda nas apreensões, o contrabando de cigarros está crescendo. O produto chega ao mercado sem passar por qualquer tipo de controle sanitário e de qualidade.
“Estamos andando para trás em relação ao combate ao contrabando do cigarro ilegal, assim como o de drogas e armas. No caso do cigarro, a curto prazo, o problema prejudica a arrecadação de tributos nas três esferas de governo e gera desemprego na indústria formal. A situação está bastante delicada. Apesar de uma leve recuperação em outubro, a queda nas apreensões continua também em novembro, quando devem ser retirados apenas 150 milhões de cigarros ilegais do mercado, um número verificado pela última vez em abril de 2012”, afirma Luciano Barros, presidente do Idesf.
Cigarro contrabandeado do Paraguai está mais sofisticado
O contrabando de cigarro do Paraguai para o Brasil avança e se sofistica. A última investida dessa indústria ilegal são os cigarros com cápsula de mentol, que já estão sendo vendidos por aqui, como este da foto (anexo).
Com a entrada de cigarros, o Brasil tem atualmente uma perda tributária de R$ 4,5 bilhões por ano em evasão de divisas, sendo que 60% do produto chega pela fronteira do Paraguai com o Mato Grosso do Sul. O cigarro está disparado no topo do ranking dos produtos mais contrabandeados nas fronteiras com o Paraguai, representando 67,44% do total, seguido dos eletrônicos, com 15,42%, e informática, 5,04%.
De olho no mercado brasileiro, a indústria paraguaia está investindo em máquinas de primeira linha, tendo como alvo novos nichos de consumidores. A cápsula dá autonomia para o fumante decidir quando quer apertar o filtro e liberar o sabor.
Os cigarros contrabandeados são de baixa qualidade e não sofrem qualquer controle sanitário. Mais de 80% apresentam algum contaminante – gramíneas, fungos, ácaros e insetos – acima do indicado pelas boas práticas de higiene da Anvisa. Uma pesquisa realizada para dissertação de mestrado na Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR) verificou que 65% das marcas de cigarros contrabandeados possuem elevadas concentrações de elementos químicos como níquel, cádmio, cromo e chumbo, e quase metade apresentam o dobro da concentração média de arsênio encontrado em cigarros legais.