Por Menelau Júnior
O maior problema da educação no Brasil hoje é o ensino médio. É nele que os alunos, já não mais crianças, demonstram pouco interesse pelos livros. Pior: muitos chegam com sérias deficiências na aprendizagem. E diante do extenso conteúdo exigido, das aulas excessivamente teóricas e das cobranças mais rígidas, a catástrofe se revela.
É no ensino médio que ficam evidentes todos os problemas da educação brasileira. Nas séries iniciais, as crianças começam a ser aprovadas sem dominar realmente os conteúdos. Terminam o ensino fundamental sem saber ler, sem saber interpretar (estou falando de interpretar, e não copiar respostas que estão no texto!!!) e sem domínio das operações básicas da matemática. Quem vai ter de resolver o problema? O ensino médio. Por causa dos vestibulares e agora do Enem, todos os olhares se voltam para o ensino médio, que não consegue resolver os problemas criados nos 13 ou 14 anos anteriores de escolaridade.
Nem adianta chorar o leite derramado: o que chega ruim ao ensino médio só tente a piorar. Qualquer um que se debruce sobre números reais – e não sobre “teorias mirabolantes” – vai perceber que, à medida que os anos passam, o rendimento dos alunos cai. Cai pela dificuldade inerente aos conteúdos, cai pelo desinteresse, cai pelas lacunas deixadas e que não serão preenchidas. Diante de conteúdos extensos e, muitas vezes, desconectados com a realidade, os alunos se sentem perdidos e desinteressados. O Enem revela isso. Em 2013, apenas 10% dos que fizeram a prova tiraram notas acima de 7 em redação. E menos de 1% superou a nota 9.
Em 2012, segundo dados do IBGE compilados pela ONG Todos Pela Educação, apenas 51,8% dos jovens de até 19 anos haviam concluído os anos finais da educação básica brasileira. Quando se sabe que mais de 97% das crianças com 7 anos estão matriculadas, o desastre se evidencia: a maioria ficou no meio do caminho, sem completar sequer o ensino médio. Para o país, uma catástrofe social. Sem escolaridade, não há desenvolvimento, não há progresso. Em nossas universidades, temos apenas 11% dos jovens com idade entre 18 e 24 anos.
Mudar essa realidade leva tempo e empenho. É preciso rever currículos, atualizar práticas pedagógicas ultrapassadas, investir na formação de professores. Não se pode eximir as famílias também: se os pais abrem mão de acompanhar o estudo dos filhos quando eles chegam ao ensino médio e apenas exigem a “aprovação”, os alunos se desinteressam e passam a investir cada vez mais em métodos ilícitos para conseguir o que os pais querem: “aprovação”. Mas nada é tão importante quanto o fortalecimento da educação de base. Até os 3 anos, as diferenças cognitivas entre as crianças não são tão grandes. Mas estudos revelaram que, aos 15 anos, essas diferenças já se acentuaram de tal forma que se tornam praticamente irreversíveis. Ou seja, querer que o ensino médio resolva as incontáveis lacunas deixadas na vida estudantil dos alunos é querer “enxugar gelo”.
Menelau Júnior é professor de língua portuguesa.