A cidade do Rio de Janeiro, o coreógrafo Fernando Pamplona, que morreu em 2013, e o país da Guiné Equatorial foram os grandes homenageados no segundo dia desfile das escolas de samba do Grupo Especial do carnaval carioca, que terminou no fim da madrugada de hoje (17), no Sambódromo da Marquês de Sapucaí.
A primeira escola a se apresentar, a São Clemente, homenageou Fernando Pamplona, um dos grandes nomes do carnaval do Rio, com o enredo A incrível história do homem que só tinha medo de Matinta Perera, da tocandira e da onça pé de boi. A escola de Botafogo mostrou no Sambódromo caveiras, bruxas e animais nada amigáveis, representando os medos da infância do carioca, que se mudou para o Acre ainda pequeno.
Depois de monstros mitológicos da Amazônia, as figuras assustadoras viraram brincadeira, com a entrada do carro alegórico Ensaiando na Quadra, que retratou um trecho da autobiografia de Pamplona, que, além de coreógrafo, foi carnavalesco. No Salgueiro, ele praticamente inovou, a partir dos anos 1960, o desfile das escolas de samba. Nessa época, Pamplona teve como assistentes Joãozinho Trinta, Maria Augusta e Renato Lage – que mais tarde se destacram como carnavalescos, enfluenciados pelo trabalho de Pamplona.
Os carnavais de Pamplona estrearam em desfiles com o enredo Quilombo dos Palmares, em 1960, no Salgueiro. Outro personagem retratado por Pamplona, destacado pela São Clemente, foi Xica da Silva, escrava que se casou com um contratador de diamantes e entrou para a alta sociedade.
Depois de destacar diversos desfiles do carnavalesco no Salgueiro, a escola encerrou sua apresentação com uma alegoria em que o mestre do carnaval curte a folia no céu. Para a carnavalesca da São Clemente, Rosa Magalhães, que desenvolveu o enredo sobre Fernando Pamplona, o sentimento traz satisfação: “Foi uma sensação muito boa. Antes, estava até preocupada em fazer um desfile à altura do Fernando Pamplona, mas estou feliz com o resultado.”
O aguardado desfile da Portela, a segunda escola a entrar na avenida, homenageou os 450 anos da cidade do Rio de Janeiro. A agremiação de Madureira, começou sua apresentação com muita ousadia: além de drones que simularam bolas de futebol quando a azul e branco mostrou o Estádio Mario Filho, o Maracanã, quatro paraquedistas saltaram de um helicóptero e desceram em plena Marquês de Sapucai, logo adiante da comissão de frente e do carro abre-alas.
A equipe reunida pelo paraquedista Gui Pádua se preparou durante sete meses e chegou a fazer um salto secreto no Sambódromo quatro dias antes do desfile no Sambódromo. “Dos 17 mil saltos que eu fiz na vida, este foi o mais especial”, disse. “Não era um salto perigoso, mas era um salto de muita responsabilidade. São 120 mil pessoas embaixo”, completou.
O carro abre-alas da escola de Madureira foi outra surpresa. A tradicional águia da agremiação entrou na Sapucaí deitada, levantou-se, abriu as asas e se transformou em um grande Cristo Redentor alado, de 26 metros. Na saída, já na área de dispersão, o gigantesco carro foi separado em duas partes para manobrar e deixar a Marquês de Sapucaí. “Na minha humilde opinião, esta será a escultura que vai marcar este carnaval”, disse o vice-presidente da Portela, Marcos Falcon.
Há 45 anos sem ganhar um carnaval, a azul e branco de Madureira foi saudada com gritos de “É campeã” ainda na concentração, na Avenida Presidente Vargas. Para tentar quebrar esse jejum, a escola veio cheia de símbolos do Rio, como as palmeiras do Jardim Botânico, as praias, os Arcos da Lapa e o Maracanã. O compositor e cantor Paulinho da Viola, tradicional portelense, desfilou em uma das alegorias e gostou do que viu. “A Portela veio muito animada e com um samba muito vibrante”, disse.
A Beija-Flor foi a terceira escola a desfilar, já na madrugada desta terça-feira (17). A escola de Nilópolis esbanjou sua tradicional riqueza de detalhes em um desfile sobre a Guiné Equatorial, lançando um olhar mais específico sobre a África.
Uma série de símbolos da cultura do país africano foi mostrada na Marquês de Sapucaí, como os griôs, anciãos da África Ocidental que tinham a responsabilidade de estudar e reproduzir os saberes do povo. A colonização europeia e a escravidão foram outros temas abordados pela escola, que encerrou o desfile destacando os laços culturais entre a Guiné Equatorial e o Brasil. O diretor da Comissão de Carnaval da escola, Laíla, ao final resumiu o que foi o desfile da Beja-Flor: “Cumprimos nosso papel. A escola não teve correria e conseguimos terminar em um bom tempo”.