Por Maurício Assuero, economista e professor
O recente atentado terrorista contra uma revista parisiense vai além da constatação de que somos intolerantes. Profeta que se preza não manda ninguém matar em seu nome nem em nome de ninguém, muito embora a História seja recheada de assassinatos em nome de um “ser superior”, a exemplo das Cruzadas onde se matava em nome de Deus, apesar de se ter nos Dez Mandamentos um “não matarás”. Nos dias atuais tem-se uma guerra santa. Qualquer crítica a Maomé (e olhe que ele é só um profeta, imagine se fosse Alá!) é fruto de atentados. Na outra ponta é bom lembrar que humilhamos, torturamos e crucificamos Jesus e Ele ainda teve forças para dizer “Pai, perdoai-lhes! Eles não sabem o que fazem!” e ainda deixou máximas revolucionárias como “ama ao próximo como a ti mesmo, perdoa teus inimigos, quem não tiver pecados que atire a primeira pedra”. Enfim: vamos falar de religião ou de economia? Vamos falar de um segmento chamado economia da religião.
Em qualquer parte do mundo a religião atrai turistas. Seguidores do Islã são obrigados a visitar Meca, pelo menos uma vez na vida, e a quantidade de pessoas é, simplesmente, inimaginável. Não é diferente do que se faz no Juazeiro do Padre Cícero, em Aparecida, no Círio de Nazaré ou no Santuário de Fátima em Portugal. Em torno desses locais se forma uma cadeia econômica envolvendo hotelaria, gastronomia, sem contar com o mercado de artigos religiosos. Em Aparecida, por exemplo, há um projeto que visa a construção de um hotel, com centro de convenções, que possa ser utilizado durante o ano inteiro e não apenas na data comemorativa a santa. É necessário proteger as pessoas que buscam na fé um alento para suas dores.
Em contrapartida o terrorismo é o principal instrumento para afugentar turistas. Há estudos que mostram o impacto do terrorismo na economia. A atuação do grupo separatista basco ETA na Espanha foi durante muitos anos uma pedra no calcanhar da economia espanhola (veja, por exemplo, o trabalho de Walter Enders no livro Applied Times Series, sobre este assunto) tanto quanto na Irlanda o grupo IRA se notabilizou por suas ações e todas as pessoas sensatas evitavam estes países para não correr riscos desnecessários. O turista bem tratado volta e traz com ele novos turistas. Por isso, é importante que se mantenha políticas voltadas para o fortalecimento do turismo. Isso implica também na adequação devida dos residentes com oferta de produtos e serviços de qualidade. Um exemplo claro de mudanças que fizemos e que foram muito bem dimensionadas teve lugar na Copa do Mundo de 2014. Taxistas procuraram aprender o mínimo de inglês suficiente para entender nossos visitantes. Falhas sabemos que aconteceram, mas ficou uma lição importante que nos capacita a fazer melhor no dia a dia.
Intolerância religiosa é como uma praga na plantação. Acaba tudo que se plantou e se não tiver ações enérgicas vai influenciar nas plantações e colheitas futuras. Qualquer outro tipo de intolerância, também, é fato indesejável. Uma economia cresce quando todos estão comprometidos com isso.