Quase um ano depois de serem presos e afastados dos seus cargos, os dez vereadores de Caruaru envolvidos na Operação Ponto Final resolveram contra-atacar. Nesta semana, eles adotaram o mesmo método em que foram acusados para se defender: utilizaram parte das provas colhidas pela Secretaria de Defesa Social, através da Delegacia Regional, e apresentaram à imprensa trechos de gravações liberadas pela Justiça com o intuito de apontar uma possível armação entre secretários e a cúpula da prefeitura.
“Não tenho dúvidas: essa operação foi criada para prejudicar a oposição, para acabar com a oposição em Caruaru”, disparou o vereador Val de Cachoeira Seca (DEM), que atualmente está afastado da Câmara Municipal devido à Operação Ponto Final 2. “Esse material só foi apresentado agora porque contratamos peritos para analisar e estávamos aguardando a liberação da Justiça. Aqui está a prova da armação”, completou o democrata.
A tática dos acusados foi a seguinte: eles entregaram trechos de gravações à TV Asa Branca na semana passada para que fossem divulgados. O material, porém, só foi ao ar na última segunda-feira (27) por causa do período eleitoral.
O blog também teve acesso ao conteúdo e detalha abaixo o passo a passo do que foi apresentado pelos parlamentares – muitas partes são inéditas. Ao todo, são 11 gravações com conversas entre o ex-secretário de Relações Institucionais, Marco Casé (PTB), e algumas pessoas envolvidas no processo, entre elas o prefeito José Queiroz (PDT), o deputado Wolney Queiroz (PDT) e assessores próximos. Também é possível ouvir indivíduos não identificados ligando para saber algo mais ou para parabenizar o petebista.
Na primeira gravação, o diálogo é entre Marco Casé e um assessor de gabinete do prefeito. Os dois teriam conversado sobre uma operação que estaria para ser deflagrada no dia seguinte. “Essa gravação é do dia 17 de dezembro, às 13h30 ”, ressaltou Val (DEM), líder da oposição.
Na segunda gravação, a conversa é entre Marco Casé e o prefeito José Queiroz. O primeiro informa sobre a aprovação do projeto do BRT na Câmara, lembrando que até a base votou a favor. Posteriormente, uma reunião é cancelada.
A terceira gravação envolve Marco Casé e Marcos Augusto (assessor de gabinete). Eles falam sobre a votação e lamentam que o projeto do BRT tenha sido aprovado por todos da base.
Na quarta gravação, Marco Casé e Augusto conversam por telefone minutos após a Operação Ponto Final ser deflagrada, por volta das 6h. O assessor é quem liga para o então secretário, que parecia estar dormindo.
A quinta gravação traz Marco Casé e Elialdo, um assessor da Secretaria de Relações Institucionais. O material, segundo a defesa, é do dia 18 de dezembro do ano passado. A conversa ocorre minutos após as prisões dos dez vereadores.
Na sexta gravação, Marco Casé fala com a esposa. Ele informa que os vereadores vão para o presídio e revela que está recebendo informações da polícia. Casé também diz que o fato está em segredo. O trecho é curto.
Na sétima gravação, a conversa é entre Marco Casé e Wolney Queiroz, que estaria em Brasília. Casé fala de sua preocupação com a família e se queixa de uma “depressão brava”. O deputado, por sua vez, diz que espera que seja o menos doloroso possível para todos. “Não fizemos isso do ponto de vista pessoal”, afirma.
Na oitava gravação, Marco Casé conversa com um empresário local sobre os fatos. Ele diz que a oposição foi destruída e que está acobertado pela Justiça.
Na nona gravação, o ex-secretário conversa com um amigo não identificado. Marco Casé fala da complicação e recebe conselho para deixar o cargo. “Já aconteceu, sou parte envolvida”, diz o petebista.
Na penúltima gravação, Casé fala com um advogado e ex-secretário de José Queiroz. Recebe elogios pela coragem e ainda um convite para “tomar uísque” quando a poeira baixar. “O resultado positivo disso vai escrever seu nome e o nome do prefeito com muito mais força do que esse pessoal preso”, diz o ex-secretário. Casé, no entanto, mostra-se preocupado com a família.
CLIQUE E OUÇA A GRAVAÇÃO Nº 10
A última gravação traz dois diálogos, em momentos distintos, entre José Queiroz e Marco Casé. Eles comentam sobre a saída dos vereadores da prisão e traçam estratégias para dar explicações à imprensa.
CLIQUE E OUÇA A GRAVAÇÃO Nº 11
OPERAÇÃO
A Operação Ponto Final foi deflagrada em 18 de dezembro do ano passado, quando dez vereadores de Caruaru foram presos sob a acusação de cobrar propina para aprovar o projeto do BRT (Bus Rapid Transit).
Dos dez detidos, seis integravam a bancada de oposição: Val (DEM), Neto (PMN), Jajá (ex-PPS), Evandro Silva (PMDB), Louro do Juá e Eduardo Cantarelli (ambos do SD). Já os demais eram da base governista: Cecílio (PTB), Val das Rendeiras (Pros), Sivaldo Oliveira (PP) e Pastor Jadiel (Pros).