O anúncio do primeiro casamento LGBT surdo foi feito no Centro de Apoio LGBT Surdo – vinculado à Superintendência Estadual de Apoio à Pessoa com Deficiência (Sead) e que também é ligada à Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude (SDSCJ). A união Luan Pereira Andrade, de 20 anos e Israel dos Santos França, 33 está marcada para esta sexta-feira (20), às 14h, no Cartório Arnaldo Maciel – Centro do Recife.
A história do casal não é marcada apenas pelo ineditismo da união entre surdos no Estado. Mas, também, por terem enfrentado barreiras que vão além da dificuldade de comunicação pela Língua Brasileira de Sinais (Libras). Luan é natural de Araripina (Sertão do Araripe), morou com a avó desde o falecimento da mãe, sentiu-se deixado de lado pelo pai desde então e sempre teve interesse por aprender a língua de sinais. “Estudei em escola de inclusão básica em Ouricuri e comecei a procurar cursos para me comunicar melhor com as pessoas e viver”, diz o jovem rapaz, que não encontrou forma mais clara para informar à sua família que a diferença também morava na sua orientação sexual. “Minha família não aceitou quando expus que era gay. Usavam a religião como pretextopara me proibir de ser quem eu era e isso era muito doloroso pra mim. Me sentia excluído.”
Mas, ao conhecer Israel dos Santos, durante um curso que fez em Recife, Luan decidiu que gostaria de afirmar e assumir sua orientação pessoal. Após dois anos de compromisso e com a rejeição da família para a condição de homossexualidade e, no caso de Israel, aliado ao fato de ele ser negro, o araripinense não suportou a distância do companheiro e, doente e sem se alimentar, viu a possibilidade de dar continuidade à vida ao lado de seu companheiro, na capital do Estado. “Luan estava sem se alimentar, doente e queria vir para Recife, para vivermos juntos. Foi, então, que decidimos realizar nosso casamento e sermos felizes”, disse Israel.
Israel trabalha como auxiliar de produção em uma fábrica da Cidade e recebe o apoio da família para tocar sua vida. “Minha mãe não fala libras. Durante um tempo, isso foi um problema. Desde meus 15 anos de idade ela soube que eu era gay. No começo, não foi fácil. Hoje em dia, ela me aceita e me apoia.”
Quando se encontraram em Recife, os dois procuraram o Movimento LGBT Surdo – criado no ano de 2010, com o apoio do então deputado estadual, Isaltino Nascimento. “Hoje, funcionamos vinculados à Sead e tentamos apoiar o público LGBT surdo nas questões judiciais, retirada de documentos, com a vida social deles de modo geral. Porque o surdo é autônomo e tem condições de viver como ou ouvintes, porém, com a especialidade de falar uma outra língua. É essa interação com a sociedade que tentamos facilitar para eles”, explicou a coordenadora do Movimento LGBT Surdo, Jaqueline Martins.
Sobre a barreira da comunicação, Jaqueline ressalta que se torna um problema quando ameaça a estabilidade da vida das pessoas. “No caso do Luan, ele estava em casa, deprimido, as pessoas não o deixavam sair de casa e não havia ninguém para intermediar uma comunicação dele com as pessoas de sua casa.”
Luan e Israel se dizem felizes e satisfeitos por poderem estar juntos, dividindo a vida e planejando os próximos passos para a vida a dois. Luan deve continuar os estudos em Recife e pretende se tornar professor de letras-libras.