OPINIÃO: Falou, mas não disse

Por RUY CASTRO*

Como diria o conselheiro Acácio, o bom da ficção é que ela não tem compromisso com a realidade. Descobri esse óbvio ululante há alguns anos, ao tirar férias das biografias para escrever dois romances, “Bilac Vê Estrelas” e “Era no Tempo do Rei”. Embora trabalhasse com personagens reais, respectivamente o poeta Olavo Bilac e o jovem príncipe D. Pedro, podia fazê-los falar o que eu quisesse. Mas, não sei como, em certo momento ganharam autonomia e passaram a falar por conta própria.

A presidente Dilma, ela, em si, um personagem de ficção –seu autor foi Lula–, já atingiu o estágio em que pode falar o que quiser, sem compromisso com a realidade e, muitas vezes, significando o contrário. Exemplo: em 2014, antes da eleição, foi à TV anunciar um corte de 18% nas contas de luz e que o Brasil era “o único país a baixar o custo da energia e aumentar a produção no setor elétrico”. Não ria.

Há meses, Dilma anunciou o programa “Brasil: Pátria Educadora”. Ato contínuo, decepou 31% do orçamento do MEC (o maior corte entre todos os ministérios), representando R$ 7 bilhões a menos em circulação no setor. Tal medida deixou de tanga professores, alunos, bolsistas, funcionários das universidades, terceirizados e fornecedores, além de apunhalar o setor editorial com a queda radical na compra de livros este ano e calote nas compras do ano passado.

Esta semana, Dilma comparou-se a Tiradentes e declarou “não respeitar delatores”. Referia-se aos que estão praticando a delação premiada, medida que ela assinou, autorizando, e elogiou em outubro último como “útil para desmontar esquemas de corrupção”.

Agora, jogando para a galera em Washington, Dilma prometeu que “até 2030, o Brasil terá desmatamento zero”. Considerando-se seu histórico, tudo indica que, até 2030, teremos uma Amazônia careca.

*Texto publicado originalmente na Folha de S. Paulo

Artigo: “Horas extras e outros direitos trabalhistas dos bancários e equiparados”

Por Gilberto de Jesus, advogado

Para além daqueles que trabalham em bancos conforme estabelecido nos artigos 17 e 18 da Lei 4.595/64, são também bancários aqueles que trabalham em factorings, corretoras de seguro e de câmbio, representações de crédito, assessorias financeiras, empresas que atuam no mercado financeiro e bolsa de valores, consórcios, empresas de informática e processamento de dados que prestam serviços a instituições financeiras, empresas terceirizadas que prestam serviços a estes tipos de empresas equiparadas a instituições financeiras, empresas que façam parte de grupo econômico em que exista instituição financeira.

A legislação específica que rege a profissão determina que seja cumprida a carga horária de 30 horas semanais distribuídas nos dias úteis durante seis horas contínuas

Além disso, também dispõe que a duração normal do trabalho estabelecida deve ficar compreendida entre 7 e 22 horas, assegurando-se ao empregado, no horário diário, um intervalo de 15 minutos para alimentação.

Se o trabalhador é considerado bancário, segundo a jornada diária estará reduzida, obrigatoriamente, a seis horas. Ultrapassado esse limite, deverá haver o pagamento de horas extras (7ª e 8ª horas).

É importante saber que sobre as horas extras refletem em férias, 13º, FGTS, PLR e outras verbas, alcançando valores significativos ao bancário. Logo, há grande prejuízo quando esses não as recebem. Eis a sua importância.

Para a Justiça do Trabalho considera-se a realidade dos fatos e os direitos trabalhistas. Em razão disso, muitos bancários e funcionários de empresas equiparadas podem recorrer à Justiça do Trabalho, para que seja “desconfigurado” o cargo de confiança uma vez que não há de fato cargo de confiança para bancários e equiparados, a fim de que lhe sejam pagas todas as horas extras – as que ultrapassaram o limite de 6 horas diárias.

Há certa complexidade em definir o que é, exatamente, o cargo de confiança. Tanto é verdade, que até mesmo os juízes e mestres têm divergência quanto ao tema. Certo é, que, em diversos casos, a Justiça do Trabalho reconhece a inexistência do cargo de confiança, condenando os empregadores bancários no pagamento das horas extras trabalhadas, durante todo o contrato de trabalho (retroativas).

É necessário analisar o poder de mando e gestão do trabalhador, para saber se há cargo de confiança.Na Justiça do Trabalho há exemplos de casos em que o cargo era considerado de confiança, mas a analisar a situação a Justiça afastou a hipótese culminando com a condenação do banco ou da empresa equiparada ao pagamento das horas extras, que excederam o limite de 6 horas diárias.

Em vários casos fica clara a inexistência de poderes administrativos e de gestão do empregado, assim como a falta de subordinados e que muitas vezes a função desenvolvida pelo funcionário é comandada diretamente por um superior.

O nome ou tipo de cargo não o torna “cargo de confiança” e tampouco muda a realidade, a lei assegura direitos sempre em função da verdade dos fatos.

OPINIÃO: Um arco-íris no fim do túnel

Por ELAINE VILAR*

Na última sexta-feira (26), a Suprema Corte dos Estados Unidos legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todos os 50 estados norte-americanos. Até a decisão da Corte, 13 deles ainda proibiam o casamento entre homossexuais.

O fato, como não poderia deixar de ser, teve repercussão internacional. Afinal, a “novidade” (no Canadá, o casamento gay foi legalizado há dez anos, seguindo o exemplo da Holanda e da Bélgica) advém da maior potência econômica do planeta, cuja influência sociocultural se estende aos demais países do mundo.

Dentre as repercussões, uma campanha policromática invadiu as fotografias dos perfis das redes sociais. A ideia de colorir as fotos com as cores do arco-íris (símbolo do movimento LGBT) atiçou diversos tipos de comentários. Desde os homofóbicos, já conhecidos e até esperados, até os xenofóbicos. Dentre esses últimos, inúmeras críticas regadas ao sabor acre de teorias conspiratórias.

Não é difícil entender as ressalvas de alguns amigos de rede, pois há tempo somos fregueses do “American Way”. Consumimos os enlatados estadunidenses da indústria alimentícia, automobilística, bélica, cultural… e todas as demais que os EUA possam nos empurrar. Também se tornou comum assistir à indústria do consumo se apoderar de símbolos e personagens que historicamente representaram oposição ao sistema capitalista, transformando-os em produtos de prateleira, para satisfazer ciclos sazonais de consumo. Mas, daí a creditar a iniciativa de confraternizar-se com os irmãos ou companheiros (como preferirem) norte-americanos por sua conquista em favor da igualdade de direitos ao modismo, venhamos e convenhamos, há uma distância paquidérmica.

A moda surge da massificação de um elemento de identificação, quando na sociedade um determinado padrão ou estilo de comportamento passa a incorporar adeptos, o que pode acontecer inclusive como forma de contestação a padrões e comportamentos considerados ultrapassados pelos grupos aderentes. O modismo, variação pejorativa da moda para enfatizar seu caráter sazonal, em geral, arregimenta adeptos passivos, impulsionados pelo desejo de estar integrado a um meio ou grupo social, sem grandes reflexões ideológicas em torno do padrão a ser imitado ou seguido.

Assim, se você comprou um produto massificado com a imagem de Jesus, São Francisco de Assis, Guevara, Karl Marx, Bob Marley, dentre outros, sem nem conhecer a vida ou o significado da obra destes; ou se coloriu com um arco-íris sua foto de perfil na rede social sem compreender o significado e as consequências da decisão da Suprema Corte americana, então, não tem jeito, você realmente foi passivamente arrastado pelo modismo.

Entretanto, as inúmeras manifestações virtuais parecem ocupar posição bastante distinta do modismo passivo e egocêntrico. O colorido espalhado nas linhas do tempo provocou uma onda de emoção e comoção em diversos amigos virtuais que, assim como eu, passaram boa parte de seu tempo virtual empenhados em curtir arco-íris personalizados com manifestações de apoio à conquista norte-americana.

O significado desse colorido espontâneo pode e deve ser definido e apropriado por cada um de nós. Para mim, ele fala de identidade e esperança, pois na minha condição de mulher trabalhadora e pobre, cada conquista de um grupo marginalizado, de uma minoria discriminada, representa parte de meus anseios e de minhas próprias lutas; cada arco-íris postado e curtido fala da existência de um outro, no qual acendo minha esperança na construção de uma sociedade mais igualitária e com equidade, no que se refere aos direitos políticos, culturais e socioeconômicos.

Essa esperança impulsiona as atitudes. Por isso, acredito que, entre nós, as manifestações espontâneas de apoio ao casamento gay nos Estados Unidos se revelem como um pequeno ato simbólico de clamor diante dos dias de intolerância que vivenciamos e da iminência de um retrocesso social amparado em bases legais, em nome de uma moralidade deformada de grupos que gritam autoritariamente regras, dogmas e doutrinas, através das articulações de inúmeras bancadas (da bala, evangélica, do boi, da jaula) do Congresso Nacional, a fim de salvaguardar os interesses de seus segmentos sociais.

O exemplo norte-americano é emblemático para nós, diante de nossa conjuntura e suas contingências, e deveria fortalecer nossa identidade e identificação com os vizinhos do Hemisfério Norte, a fim de nos aproximar enquanto povo.

Por menos expressivo que possa parecer o casamento homossexual para alguns, ele representa uma pequena concessão que surge como fruto da organização de uma parte significativa da sociedade americana que é discriminada e exterminada todos os dias. É sempre bom lembrar que as conquistas da população estadunidense não são benesses do Tio Sam, pois fomos condicionados a imaginar as terras de lá como um celeiro de oportunidades, onde as bandeiras da democracia e da liberdade de expressão tremulam soberanas. Contudo, essa imagem guarda imensa distância da realidade.

Nos Estados Unidos, onde o fundamentalismo puritano encravou-se desde seu povoamento, negros, homossexuais, estrangeiros e pobres são vítimas constantes de grupos organizados em torno de ideologias eugenistas, o que tem resultado historicamente em chacinas e na exclusão destas minorias dos espaços de poder institucional. Semelhanças conosco? Algumas. Por isso, nestes tempos de fundamentalismo congressista, que as conquistas da comunidade LGBT estadunidense nos inspire a lutar por um arco-íris no fim do túnel.

*Elaine Vilar é jornalista e servidora do TJPE

OPINIÃO: Sozinha à beira do abismo

Por BERNARDO MELLO FRANCO
Da Folha de S. Paulo

A delação de Ricardo Pessoa empurrou Dilma Rousseff de volta para a beira do abismo. Desde os protestos de março, o governo nunca pareceu tão frágil, e o desfecho da crise, tão incerto.

O chefe do “clube das empreiteiras” transferiu a delegacia da Lava Jato para o Palácio do Planalto. Em uma só tacada, envolveu dois ministros no escândalo, os petistas Aloizio Mercadante e Edinho Silva, e lançou suspeitas sobre o financiamento das duas campanhas que elegeram Dilma, em 2010 e 2014.

Segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, Pessoa ainda entregou aos procuradores uma planilha com título autoexplicativo: “Pagamentos ao PT por caixa dois”. Se comprovados, os repasses podem desmontar o discurso do partido de que a prática de receber dinheiro em espécie ficou para trás com o mensalão.

De quebra, o delator acrescentou um novo verbete ao dicionário da corrupção, ao relatar que o tesoureiro João Vaccari se referia à propina como “pixuleco”. Nos últimos dias, o partido voltou a pedir a libertação do ex-dirigente preso, alimentando os rumores de que ele está ameaçando romper o pacto de silêncio.

Ninguém mais questiona a gravidade da situação. Entre sexta e sábado, Dilma convocou duas reuniões de emergência no Alvorada, atrasando a aguardada viagem oficial aos Estados Unidos. Passará a visita de quatro dias com a cabeça no Brasil, onde sua base se desmancha e a oposição tenta ressuscitar o fantasma do impeachment.

O repique da crise encontra a presidente mais fraca e mais sozinha, pouco depois de bater novo recorde de impopularidade no Datafolha. Enrolado em seus próprios problemas, Lula ensaia um afastamento e sinaliza que não saltará do precipício com ela. O PMDB retomou o clima de ameaças, lideradas pelo presidenciável Eduardo Cunha. As citações a Mercadante e Edinho fragilizam a blindagem que resta, a das paredes e janelas do palácio.

OPINIÃO: Mudanças na Previdência

Por MAURÍCIO ASSUERO*

O governo Fernando Henrique instituiu um redutor na aposentadoria evitando que as pessoas se aposentassem cedo e com valor integral. Tal instrumento foi considerado injusto por diversos segmentos da sociedade, inclusive pelo PT, mas ele tinha por objetivo não comprometer, ainda mais, a situação crítica da Previdência no Brasil. Em 2014 o déficit previdenciário foi da ordem de R$ 58 bilhões e uma estimativa inicial para 2015, já descartada, apontava para algo em torno dos R$ 66 bilhões antes mesmo de mudar as regras para cálculo de aposentadoria.

Acabar com o fator previdenciário era o sonho dos sindicatos e é perfeitamente entendido que após uma contribuição de 35 anos para a previdência o trabalhador queira manter seu sua renda ou seu poder aquisitivo. O problema é que a contribuição paga pelo trabalhador forma uma poupança que deveria ser suficiente para arcar com as despesas decorrentes da sua aposentadoria.

Mas isso não ocorre porque os benefícios acabam sendo pagos com a contribuição dos trabalhadores atuais, ou seja, a população economicamente ativa de hoje, que contribui para a previdência, é de fato a fonte de financiamento dos benefícios dos aposentados e esta população vai precisar das contribuições da populaça ativa vindoura (um modelo de gerações superpostas). Se o modelo de previdência que temos não prever a capitalização dos recursos ficará muito difícil equilibrar as contas (acho que estou sendo sonhador: é impossível cobrir o rombo da previdência no curto e no longo prazo com o sistema que temos.

A única maneira é aniquilar os aposentados e seus dependentes!)
A previdência privada tem esse caráter de manter a renda do trabalhador após sua aposentadoria. Tem alguns atrativas para que busca tranquilidade. Há planos de benefícios definidos (cujo maior inimigo é a inflação) e planos de contribuição definida (cujo maior inimigo é a taxa de juros). Por outro lado, as regras da previdência privada são rigorosas, dado que as empresas precisam cumprir a meta atuarial, isto é, verificar na data de hoje se os recursos disponíveis são suficientes para pagar as obrigações futuras.

As empresas aplicam seus recursos no mercado é possuem parâmetros de remuneração mínima e apesar da permissão para aplicar em renda variável há uma obrigatoriedade maior de aplicar em renda fixa (o objetivo é salvaguardar os fundos de perdas financeiras expressivas). No contexto atual, a previdência privada passa a ser uma boa alternativa.

Em termos do que se fez no Congresso pode-se dizer que tudo isso é uma decorrência da fragilidade do governo. Nós temos dois atores envolvidos no processo: um é o trabalhador que merece ter uma boa qualidade de vida e o outro é a previdência que deveria ter recursos para, no mínimo, ofertar esta qualidade de vida. A incompetência, os desmandos, a corrupção e outras mazelas transformaram a previdência social neste poço sem fundo. O pior é constatar que as medidas, mesmo com a alternativa proposta pelo governo, não resolve o problema: só aumenta a dor e a incerteza.

*Maurício Assuero é economista e professor da UFPE

OPINIÃO: Às portas da sexta extinção

Por MARCELO RODRIGUES

O exemplo é trágico e tem caráter de uma realidade catastrófica sem precedentes para a humanidade: uma criança que nascer hoje assistirá, quando deixar este mundo, cerca de 400 espécies de animais indo junto com ela. Essa perspectiva monstruosa está baseada em estudos feitos a partir de dados colhidos nos últimos cinco séculos – a taxa de extinção de espécies multiplicou por mais de 100. Além disso, o ritmo foi acelerado até a última marcha nessas décadas pela ação do homem.

Estamos à porta da sexta extinção em massa da vida neste planeta. Não é à toa que o papa Francisco editou a encíclica “Laudato Si” (“Louvado Sejas”), uma convocação para todos os crentes ou não crentes sobre a ameaça à Terra, e não é a primeira vez que o planeta sofre uma grande extinção de espécies. No imaginário coletivo estão os dinossauros, há 65 milhões de anos, quando desapareceram cerca de 75% das espécies.

No entanto, não se tratou da primeira extinção em massa. Antes existiram outras quatro, ainda mais mortíferas. Aquelas cinco extinções foram provocadas por fenômenos naturais – meteoritos, supervulcões ou até a explosão de uma supernova. Mas agora, sem dúvida, é uma das espécies, a humana, que provoca o desaparecimento acelerado das demais pelo consumo sem controle e pela falta de sensibilidade dos governantes, que pouco fazem para reverter esse quadro mundial e que afeta a segurança ambiental mundial.

Pesquisadores do México e dos EUA usaram a base de dados da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) para estabelecer um cálculo preciso da taxa atual de extinção das espécies. Concentraram-se na superexploração dos recursos naturais, que é um dos fatores que estão acelerando a extinção. Na verdade, se nós seres humanos não estivéssemos no planeta Terra, seriam necessários 10 mil anos para o desaparecimento das espécies extintas em 100 anos. Descobriram que, desde 1500, existem provas do desaparecimento de 338 espécies; outras 279 agora só existem nos zoológicos ou, pela falta de observações, possivelmente já se extinguiram.

Ao todo, desapareceram 617 espécies de vertebrados. E, conforme publicado na revista científica “Science Advances”, a maioria das extinções ocorreu no último século. “Nosso trabalho indica que já entramos na Sexta Extinção em Massa, sem dúvida nenhuma”, diz Gerardo Ceballos, pesquisador do Instituto de Ecologia da Universidade Nacional Autônoma do México e autor principal do estudo.

O cientista dispara que naturalmente essa grande extinção é diferente das cinco anteriores. “A diferença é que todas as anteriores foram provocadas por fenômenos naturais, e esta está sendo causada pelo ser humano. Outra diferença é o período muito curto em que isso está acontecendo”, acrescenta. Talvez o número de 600 espécies não seja muito eloquente. Fazia falta um referencial para poder avaliar o ritmo atual de desaparecimento, uma espécie de taxa natural de extinção.

Na atualidade, considerada como os últimos séculos, a taxa de extinção é até 100 vezes maior que a taxa natural. Seriam necessários cerca de 10 mil anos para acabar com a vida que desapareceu em apenas um século. Além disso, o processo está se acelerando. Os anfíbios são a classe mais afetada de vertebrados. Desde 1500, tinha sido constatado o desaparecimento de 34 espécies de anfíbios e, desde 1980, outras 100 desapareceram. E não se pode descartar que muitas outras tenham sofrido extinção sem que haja testemunhos humanos para confirmar.

Os cientistas e pesquisadores, que insistem que suas estimativas são muito conservadoras, lembram que em seus cálculos não são consideradas as muitas espécies que se tornaram mortas-vivas, com populações tão pequenas que sua função nos ecossistemas é quase nula. Os fatores que explicam as extinções são a destruição do habitat, a superexploração de espécies, a contaminação e a mudança climática. Tudo deriva do tamanho da ação humana: o tamanho da população, que continua crescendo, a desigualdade social, a ineficiência tecnológica. São esses os fatores fundamentais deste enorme problema que ameaça a humanidade.

Em suas conclusões, os autores alertam que a janela de oportunidade para reverter a situação está se fechando: “Se permitirmos que o atual ritmo elevado de extinção continue, logo os humanos ficarão privados dos muitos benefícios da biodiversidade. Na escala temporal humana, esta perda será definitiva, porque, após as extinções em massa anteriores, a vida precisou de centenas de milhões de anos para voltar a se diversificar”. Até lá, já não estaremos por aqui. O apelo emocionado do papa Francisco fica como alerta: “Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa”. Precisamos de uma “conversão ecológica”.

marcelo rodrigues

 

Marcelo Rodrigues foi secretário de Meio Ambiente da Cidade do Recife. É advogado e professor universitário.

OPINIÃO: Quatro pilares para alcançar uma gestão de excelência

Por Erik Penna*

Muito se tem falado sobre a excelência no mundo dos negócios. Mas como engajar toda equipe para conseguir uma alta performance e conquistar a verdadeira excelência nos resultados?

Um bom exemplo a ser seguido é o da maior e melhor empresa de entretenimento do mundo: a Disney. Ela recebeu no ano passado mais de 132 milhões de convidados e, através de uma gestão de excelência, consegue espetaculares níveis de retenção que chegam a 70% nos parques e 90% dos seus clientes da rede hoteleira retornam.

É possível destacar 4 importantes pilares na gestão de excelência Disney que, com muito trabalho e boa vontade, podemos aplicar em nosso cotidiano profissional. De propósito, enumero em ordem decrescente abaixo. Veja:

4) Rentabilidade: sim, a gestão de excelência de uma empresa objetiva o lucro, deseja superar as expectativas de clientes, mas também dos shareholders/acionistas com ótimos resultados financeiros no final ciclo contábil.

Mas só conseguem isso se:

3) Clientes externos: quando os clientes estão encantados com um atendimento espetacular e serviços excepcionais, conseguem propiciar uma verdadeira experiência de compra. Ferramentas como a denominada “Múltiplas Formas de Escuta” é vital para manter a empresa sempre oxigenada com pesquisas e opiniões de clientes. E o que dizer então da enorme atenção com tantos detalhes na hora de recepcionar as pessoas, desde a acolhida até a despedida nos parques ou hotéis? Pontos fundamentais numa gestão que surpreende e agrega valor e, por isso, o cliente se sente valorizado, feliz ao se deleitar com os chamados “momentos mágicos”, e a consequente e intensa aquisição de produtos e serviços ofertados pela Disney.

Mas isso se concretiza se:

2) Clientes Internos: quando os cast member – membros do elenco, como são chamados os funcionários na Disney, estiverem satisfeitos e motivados. É fundamental que os funcionários prestem um serviço de ponta. A qualidade do serviço interno precisa ser excelente, mas para isso acontecer, é fundamental ter profissionais bem treinados, engajados, com orgulho de vestir aquela camisa e que por tudo isso fazem verdadeiramente a diferença. É preciso identificar e reter talentos e, mais do que isso, valorizar o empenho de cada um, afinal: “Se não  puder se destacar pelo talento, vença pelo esforço.” (Dave Weinbaum).

Mas tudo isso só é possível se:

1) Liderança: líderes excelentes que inspiram pessoas e transformam resultados.
Tudo começa aqui, na liderança evolutiva, gestores compromissados com a mudança transformacional que guiam através do exemplo. Eles levam o treinamento a sério, motivam pessoas a agir pelo que acreditam e valorizam conseguindo, assim, extrair o máximo dos talentos que compõem a organização. Jim Collins, autor do livro “Empresas Feitas para Vencer”, ousa afirmar que o principal ativo das empresas não são as pessoas, são as pessoas CERTAS. São esses líderes que reconhecem e recompensam os funcionários extraordinários que fazem a diferença e, transbordando entusiasmo, cheios de uma atitude amigável e proativa, norteados diariamente pela matriz de prioridades da Disney: Segurança, Cortesia, Show e Eficiência, estão sempre determinados a conseguirem o aplauso exterior, mas também seu mérito e aplauso interior.

Não é por acaso que um dos motes do RH da Disney é “Contratamos atitude, depois treinamos habilidades”.

É fundamental, ainda, saber contratar respeitando a cultura organizacional. Só para dar um exemplo, a missão da Disney é proporcionar alegria aos seus clientes, portanto, Bob Iger, CEO da The Walt Disney Company, disse em entrevista à revista Veja que, para trabalhar lá, é preciso, entre outras características, ser otimista, bem humorado e empático.

O sucesso é uma consequência natural e a implementação desses pilares da excelência geram resultados espetaculares e marcas impressionantes. A Disney acaba de ser eleita a marca mais amada do planeta, segundo pesquisa feita pela APCO Worldwide.

Será que é possível aplicar isso em nossa gestão? Eu penso que sim, mas para quem acha que não, o próprio Walt Disney responde: “Eu gosto é do impossível porque lá a concorrência é menor”.

*Erik Penna é especialista em vendas, consultor, palestrante e autor dos livros “A Divertida Arte de Vender” e “Motivação Nota 10”.

OPINIÃO: Ao “Meu Caruaru”

(Da série: “Ainda não conheci o mundo, mas há quem diga que ele começa em Caruaru”)

Por ELAINE VILAR*

O que seria de nossas vidas sem suas contingências? Essas situações cujo resultado final depende de eventos futuros incertos. Sem elas, estaríamos condicionados a uma existência taticamente orquestrada em busca de metas inabaláveis, a uma monotonia caquética ao ritmo do balanço da rotina ou do pêndulo do relógio.

Por conta delas (as contingências), o frio na barriga, os suores gélidos, o rosto em brasa, todos os demais sintomas do inesperado e do novo ou do velho repaginado, revestido, relido e, nem por isso, apartado de suas diferenças e peculiaridades. Elas escorregam, evaporam e se diluem sem que possamos dominá-las. Ora nos agraciando, ora nos amaldiçoando, vão rebulindo e revirando nosso ser em nós e no mundo, desafiando-nos a correr quando paramos; parar quando corremos; chorar quando sorrimos ou sorrir quando choramos.

Foram essas arteiras que, aos poucos e rapidamente, tal como perdição de virgem, trouxeram-me da capital política à capital do Agreste, juntando um tanto de medo com um muito de vontade. O resultado? Uma coragem voluptuosa, cega e eufórica que, de tão maliciosa, vicia e encanta. Quando se vê, já foi. Está feito para as alegrias ou as desventuras, de acordo com a disposição do coração.

Por conta dessa sedução acoitada pelas contingências aqui estou, nestas terras de Caruaru. Encantada por seu sotaque, seus ares, seus sons, cores e gosto, seu povo e sua aspereza. Quase dominada por uma vontade contida de chamá-la minha ou meu (ô cidade andrógina!), a semelhança do primeiro “eu te amo” dos enamorados. Minhas pupilas dilatadas de paixão por esse “Meu Caruaru”, esperando por seu abraço quente, que parece constrangido pela presença invisível de outro grande amor: o “Meu Recife”.

E assim dividida, silencio essa paixão. Dia após dia, aproveito o cheiro de novidade. Desfruto das manhãs orvalhadas de curiosidade e das noites enluaradas de poesia, apreciadas pelo olhar de viajante, forasteira, desbravadora. Entretanto, aos poucos, as mãos do convívio revelam mazelas, defeitos e vícios escondidos pela paixão pueril de donzela. É nesse casamento aliançado pelo cotidiano que se desvenda o “Meu Caruaru”, acordando em suas cuecas velhas e desbotadas, com mau hálito e mau humor, após uma noite de roncos e flatulências.

Ahh! Por que o cotidiano insiste em ser tão rude? Onde está seu romantismo? Parece uma tia velha, enrugada em suas cismas e desconfianças, a tagarelar: “São todos iguais, só muda a localização no mapa!” E em um piscar de olhos, relampeja-me os sinais do descuido para com a nossa relação. “Meu Caruaru” despreza meus sentimentos de esperança e enlevo. Grandes e pequenos incidentes me levam a crer que ele tem uma amante vulgar, interessada em sugar-lhe os recursos.

As pistas e rastros de sua lascívia estão por toda parte. São torres erguidas sem planejamento, amontoadas em quarteirões de ruas estreitas, sem infraestrutura, comércio e serviços, originando bairros mortos de vida. Veículos seguem sem orientação, empilham-se e ocupam todos os espaços, imperiosos pela convicção de que a cidade lhes pertence. Construções entopem as veias do Ipojuca, despreocupadas com a iminência de um enfarto.

Conheço esses sintomas, já os vi! Deles e de outros o “Meu Recife” padece, convalesce e arqueja seus últimos fôlegos, antes de tombar aos pés dessa amante voraz que promete os prazeres da modernidade em troca “apenas” da qualidade de vida de seus amantes. “Meu Caruaru” tão jovem e já tão enfermiço! Contaminado pelas venéreas dos antros políticos e da promiscuidade econômica.

Tento não amá-lo para poupar-me o sofrimento já bem conhecido. Chamo a razão. Ela não vem. A emoção tapou-lhe os ouvidos. Então a paixão me impulsiona a questionar: “Onde está o Plano Diretor da cidade? Quem por ele responde? Onde está a Justiça? Não haverá por ele outros amores? Onde estão os que resistem e lutam?” “Onde estão os que amam?”

Já não posso ver-te, “Meu Caruaru”, com os olhos pudicos da paixão juvenil. Por isso, sonho viver contigo um amor maduro. Um amor que espere receber na medida daquilo que se possa dar. Assim, ainda desejo tanto o teu abraço e a oportunidade de dizer-te meu.

*Elaine Vilar é jornalista e servidora do Tribunal de Justiça de Pernambuco.

OPINIÃO: Uma vontade basta

Por JANIO DE FREITAS*

Previsto para hoje e tido como início do processo de votação da reforma política, seja o que for que se passe na Câmara será o ponto culminante, por ora, do período mais desrespeitoso da maioria dos deputados com o país nos anos sem ditadura.

O que está para ser votado são escolhas tão importantes como o sistema eleitoral para compor a própria Câmara. De onde e como deve vir o dinheiro para financiar as campanhas eleitorais. A validade ou extinção das coligações de partidos. A duração do mandato de senador. O número de eleitores necessários para apresentação de um projeto de iniciativa popular, e ainda mais. Questões todas muito importantes para melhoria ou maior degradação da política e da democracia por aqui.

Foi feito um relatório a ser votado, como resultado de mais de três meses de discussões em uma comissão especial. Algumas conclusões não coincidiram com o desejo pessoal do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. O relator Marcelo Castro fez alterações obedientes, mas sobrou alguma coisa inalterada.

Eduardo Cunha não admitiu que a comissão votasse o relatório, levando-a a adiar a decisão. Já que o relator se recusava aos gestos finais de servidão, Eduardo Cunha fez saber que iria substituí-lo. Logo, porém, optou por outra exorbitância: levaria o projeto para votação direta do plenário, com a já conhecida manipulação de sua tropa, desprezando o relatório e a opção final da comissão sobre os temas nela discutidos.

Nada do que tenha sido negociado ontem, sobre o encaminhamento a prevalecer, merece confiança até hoje. A vontade de Eduardo Cunha, já se viu bastante, não tem admitido concessões mais do que aparentes.

O PT, boquiaberto, tem dois ou três deputados em luta contra o presidente da Câmara, e o restante com participação, no máximo, pela distante periferia. O PSDB, com indigestão de impeachment, não se mexe, mas, como em expectativas anteriores, dirige a Eduardo Cunha acenos de simpatia significativa. A divergência começou entre peemedebistas, e peemedebistas vão fazer o número para decidi-la. Nele, Eduardo Cunha não opina: manda na maioria. Como se dá com quase todas as bancadas pequenas.

E pronto. Temos um instantâneo da republiqueta que, desse modo, define a cara de sua democracia.

PALOCCI

Joaquim Levy acrescentou, ao seu diga ao povo que fico, a informação de que considera estar o corte de R$ 69,9 bilhões do Orçamento “na medida adequada” e “sem risco para o crescimento econômico”.

Se essa é a medida adequada, por que batalhou pelo corte de R$ 80 bilhões, no início, e “entre R$ 70 e R$ 80 bilhões”, depois? E que crescimento econômico? Só se não tem risco porque não existe, nem em perspectiva.

No Brasil, a hipocrisia é uma forma de governar a economia. Joaquim Levy: uma saudade de Palocci.

QUE JUSTIÇA

O ministro Luiz Fux reivindica, para si e para seus pares no Supremo Tribunal Federal, vencimentos (no funcionalismo não se chamam salários) e benefícios que restauram um multissecular: nababesco. Mas os acompanha de uma razão solene: “a necessidade de valorização institucional da magistratura”. Não, é mesmo e só de valorização financeira e patrimonial.

Institucional talvez seja esta outra reivindicação: se condenados por improbidade, magistrados não perderiam o cargo. Ou seja, continuariam magistrados para condenar também acusados de improbidade.

*Janio de Freitas é colunista e membro do Conselho Editorial da Folha de S. Paulo

Artigo: Para ter sucesso em vendas e ganhar fãs, trate todos os clientes como VIPs!

Por José Ricardo Noronha

Vivemos um tempo de aceleradas mudanças. De um lado, clientes mais exigentes e informados, além de concorrentes cada vez melhores e poderosos. De outro, muito poucas empresas e profissionais que conseguem (de fato!) surpreender, oferecendo experiências memoráveis e marcantes a seus clientes. Isso acontece principalmente em virtude da falha na customização e personalização destas experiências às reais necessidades, desejos e sonhos de quem está do outro lado.

Diante desse cenário, clientes são cada vez menos leais e fiéis às marcas e aos produtos e serviços, muito devido ao pouco carinho e cuidado dedicados para atendê-los plenamente em suas individualidades e necessidades.

Para te ajudar no tão fundamental processo de transformação dos seus clientes em “fãs”, compartilho com você mais uma “dica de ouro” das empresas e dos profissionais que têm conseguido se destacar: trate todos os seus clientes como VIP!

É bem possível que, em sua jornada profissional e até mesmo na sua empresa, você já tenha ouvido que todo cliente é VIP (“Very Important Person” – Pessoa muito importante). E tenho certeza de que irá concordar comigo que, de fato, todo cliente é mesmo VIP, pois ele é a pessoa mais importante para toda e qualquer organização. É para ele que vivemos e é por ele que existimos!

E quando falamos em excelência no atendimento ao cliente, uma empresa se destaca como uma das maiores referências: a Disney. Esta companhia mágica, além de nos brindar com seus personagens deliciosos liderados por Mickey Mouse, compartilha conosco também lições que podem e precisam ser implementadas em nossos negócios. E tudo isso sempre com foco absoluto na criação e fortalecimento de diferencial competitivo praticamente imbatível: o atendimento espetacular.

Não sei se você sabe, mas a Disney não tem clientes. Sim, você leu corretamente! A Disney, não tem clientes. Ela tem “convidados”. É assim que ela chama todos os seus milhões de clientes no mundo todo.

Convidados que, de tão encantados, se transformam em verdadeiros embaixadores da Disney pelos quatros cantos do planeta, exatamente como eu faço aqui neste artigo, sem ganhar um tostão sequer deles (até porque eu não tenho qualquer vínculo oficial com a Disney).

Além disso, eles não têm empregados. Eles têm “membros do elenco” (ou “cast members”). Isso deixa claro a todos que de um lado existem milhões de convidados e, do outro, milhares de membros do elenco. Assim, forma-se o cenário para um grande “show”. O show do atendimento, do encantamento e da superação das expectativas de todos os clientes. Repito: todos!

E eles fazem isso ao tratar todo e qualquer convidado como VIP. O VIP que já conhecemos e falamos anteriormente se relaciona à “pessoa muito importante”, mas, na Disney, o conceito é à “pessoa muito individual”. É verdadeiramente cini são todos os nossos clientes e que sempre trazem consigo necessidades, desejos, sonhos e preocupações bastante distintos.

De nada adianta você dizer e propagar pelo mercado que “atendimento ao cliente é prioridade número 1 da sua empresa”. Mais importante que dizer é fazer! Faça com que cada um se sinta verdadeiramente único para você e para a sua companhia.

Antes de falar sobre quão verdadeiramente bons são os excelentes produtos e serviços que você comercializa, busque entender profundamente as necessidades, desejos e sonhos do cliente. Busque de todas as formas que puder não apenas entender o que ele precisa, mas, principalmente, o que ele valoriza.

Faça perguntas claras, como: “O que ou quais são os elementos/atributos/características que o Sr./Sra. mais valoriza neste produto ou serviço?”. Ao entender bem o que ele valoriza, daí, sim, você irá incorporar os pontos que ele mesmo compartilhou com você no seu discurso de vendas. E será tudo customizado e personalizado para cada cliente, fazendo com que ele realmente se sinta único e com seus desejos e individualidades compreendidas. Isso o fará se sentir  realmente VIP!

Entenda as necessidades, atenda com excelência, venda grandes experiências e supere as expectativas dos seus clientes.

Busque de forma incansável transformá-lo em seu “fã”, pois “fãs” são seus maiores defensores e embaixadores no mercado. E, além disso, não cobram um tostão sequer para te “vender” aos seus amigos e familiares.

José Ricardo Noronha é vendedor, palestrante, professor, escritor e consultor. Formou-se em Direito pela PUC/SP e tem MBA Executivo Internacional pela FIA/USP. Possui especialização em Marketing, Empreendedorismo, Empreendedorismo Social e Vendas pela Owen Graduate School of Management e é Professor dos MBAs da FIA. É autor dos livros “Vendedores Vencedores” e “Vendas. Como eu faço?”. www.paixaoporvendas.com.br