ARTIGO — O poder público nas redes sociais

O uso das redes sociais amplificou o poder de comunicação das empresas e deu voz para os clientes. Essa oportunidade também viabilizou para o poder público um novo canal para conversar com a população. Hoje, vemos diversas prefeituras utilizando as redes sociais como mais um canal de relacionamento com o cidadão, a exemplo a Prefeitura de Curitiba.

A oportunidade de conversar com o cidadão num canal mais democrático cria um grande ensejo para os órgãos públicos: estar presente no dia a dia das pessoas e poder resolver e compreender os problemas da cidade.

Mas nem tudo são flores. Ao mesmo tempo em que as redes sociais possibilitaram que os órgãos públicos pudessem conversar com a população, este poder também foi dado à mesma, amplificando reclamações e proporcionando a união das pessoas para cobrar ações dos entes públicos.

A partir do momento que uma empresa, seja ela pública ou privada, dispõe-se colocar um perfil em alguma rede social, ela precisa estar preparada para conversar e manter um diálogo. Afinal, estamos falando de um canal de comunicação e não apenas de um mural para publicações positivas. É preciso estar preparado e disposto a receber críticas e, principalmente, ser capaz de resolver problemas.

Um órgão público que resolve criar perfis em redes sociais necessita de uma estratégia não apenas virtual, mas de um plano de ação que consiga transformar a vida dos cidadãos. Um perfil que consiga trazer resultados reais, que auxilie para que a cidade seja um lugar melhor. As ações na rede social não podem ser isoladas, mostrando apenas imagens bonitas e compartilhando apenas notícias positivas. Elas precisam, também, estar em harmonia com toda a administração, transformando-se em mais um serviço para o cidadão, onde, por exemplo, uma reclamação possa ser encaminhada aos responsáveis e que estes possam responde-lo rapidamente.

As empresas públicas devem entender que a internet tem uma linguagem própria e as redes sociais não podem ser palco para divulgação de qualquer tipo de material oriundo de outras plataformas de comunicação. As instituições devem adotar uma linguagem adequada para esses canais.

Hoje, temos vários exemplos positivos de empresas públicas que utilizam esse novo canal de comunicação, como a Prefeitura de Curitiba, que faz uso dos memes para conversar com o cidadão, e tem recebido uma ótima resposta do público. Outro exemplo é a Prefeitura de São Paulo, que com uma linguagem mais formal também tem alcançado êxito na comunicação com a população.

Ter mais um canal de comunicação com o cidadão é importante e saber utilizar este meio é fundamental. E o mais importante é o cidadão ficar atento à sua cidade, exigir, fiscalizar e utilizar as redes sociais para fazer valer os seus direitos, sempre com responsabilidade e respeito.

OPINIÃO: O tempo é outro

Por FERNANDO COLLOR DE MELO*

No parlamentarismo basta um desgaste agudo para o governo cair. Se não cair, fortalece-se. E a vida segue. No presidencialismo, ficamos atados ao mandato inteiro. Mesmo com a pior das crises, mesmo com a maior impopularidade ou incompetência que atinja o governo, há de se esperar o fim do mandato do presidente da República.

Mas nem sempre foi assim.

Além da renúncia, o remédio constitucional no presidencialismo é o impeachment. Mas é preciso haver crime de responsabilidade comprovado, ambiente político disposto, população mobilizada e interpretações jurídicas confluentes a um único objetivo.

Ainda assim é preciso cumprir um demorado e complexo rito legislativo, com todas as fases, prazos, recursos, quóruns e instâncias para garantir lisura do processo e ampla defesa. Do contrário, deixa de ser instrumento da lei maior e passa a ser uma “quartelada parlamentar”.

Aliás, assim já foi.

A dificuldade do processo mostra-se no mais recente e contundente caso de pedido de impeachment contra a atual presidente. O primeiro e elementar ato –leitura do pedido e despacho do presidente da Câmara para instalar a comissão especial– sequer aconteceu. E lá se vai quase um mês.

Depois, virão prazos para oitivas, defesa, relatoria, votação. Aprovado, o relatório vai a plenário, com discursos, debates e votações. Autorizada a abertura, o presidente é afastado e o processo segue para o Senado.

Começa novo e longo processo, agora para julgar.

Há exceções, claro. Às vezes, entre o pedido de impeachment e o afastamento bastam 28 dias.

Imperativo ainda é que todo o processo seja respaldado por sólida e consagrada base constitucional, legal, regimental. A menos que a suma Justiça altere pela terceira vez seu entendimento.

Ademais, as instituições precisam atuar com imparcialidade. Entidades representativas da sociedade também, assim como a mídia. Os fundamentos da democracia não admitem rito sumário, não apreciam a seletividade, não aceitam tribunais de exceção ou de inquisição. Muito menos, coadunam-se com a execração pública.

Mas nem sempre foi assim.

Não se pode também transfigurar suposto crime comum em eventual crime de responsabilidade, mesmo por interpretações genéricas. Não se devem inverter funções das instâncias decisórias. Não se podem reverter atos da vida particular, de um único agente privado, em atos de ofício do presidente da República, ainda que cercado por dezenas de atores públicos e partidários já presos.

O conceito do domínio do fato é recente e a omissão é um não ato relativo. Diante de um Estado paquiderme, ninguém se sustenta a uma rigorosa apuração nesse sentido. Há quem admita omissão após duas décadas. Há quem diariamente subverta a razão a seu discurso canhestro.

Nunca antes o Brasil viveu tantas crises paralelas, porém entrelaçadas. Nunca antes o país ficou sem matriz econômica. Nunca antes admitiu-se previamente um rombo orçamentário. Nunca antes a política se viu estagnada à espera de uma única cabeça pendurada.

Nunca antes os que se apoderaram privadamente de uma empresa a cirandaram contra sua privatização. Se, como dizem, as instituições estão funcionando, como chegamos a esse ponto?

Desconheço detalhes do dito atentado às leis orçamentária e à Lei de Responsabilidade Fiscal e, consequentemente, à probidade administrativa. Mas não acho que a presidente da República deva sofrer impeachment.

No máximo, seu crime é culposo. Ela é vítima da miopia progressista e da astúcia de seu criador.

E convenhamos, o tempo é outro. A quadra OAB-ABI-UNE-CUT tornou-se avestruz, Lima Sobrinho se foi, Lavenère mudou.

FERNANDO COLLOR, 65, senador (PTB) por Alagoas, foi presidente da República (1990-1992). Texto publicado originalmente na Folha de S. Paulo

OPINIÃO: O direito do acesso às provas

Por MENELAU JÚNIOR

Começou a temporada de vestibulares das faculdades e universidades particulares. E um problema agora surge para os milhares de alunos que se candidatam a uma vaga no ensino superior: a falta de transparência de muitas instituições.

Refiro-me especificamente à divulgação dos cadernos de provas. É de praxe as faculdades disponibilizarem ao público, por meio da internet, os cadernos de provas de seus vestibulares. Do contrário, como os alunos poderão contestar questões ou mesmo saber o que acertaram? Divulgar o gabarito, quando os próprios candidatos são impedidos de copiá-lo na sala de aula, serve de quê? Além disso, as provas constituem um importante instrumento pedagógico para colégios e cursinhos prepararem seus alunos.

No último fim de semana, a Asces fez seu tradicional vestibular. A banca responsável pela elaboração das provas, a Curseltec, divulgou na manhã de segunda as provas e o gabarito. No próprio domingo, por volta das 18h30min, assim que a prova foi encerrada, o coordenador de logística da banca, Marco Honorato, entregou a professores de colégios e cursinhos que estavam no local da prova todos os cadernos com as questões. Ou seja, transparência nota 10. Eficiência nota 10. Respeito nota 10. Uma das questões de História trazia duas opções iguais. Foi por causa da divulgação que foi possível reivindicar, junto à banca, a aceitação das duas respostas. Se a prova ficasse “escondida”, quem garantiria que isso teria sido notado e resolvido?

Neste fim de semana, a Unifavip Devry realiza, a partir das 8h30min, seu vestibular 2016.1, um dos maiores e mais importantes do interior do Nordeste. Qual será a postura da Instituição? As provas e os gabaritos serão disponibilizados, para que professores e alunos possam analisar e – se for o caso – questionar algo? Haverá transparência, uma das premissas da democracia e do direito? Honestamente, espero que a Faperp – banca responsável pela elaboração da prova – divulgue os cadernos e os gabaritos, como fez a Covest durante quase uma década, quando fez o vestibular da então Favip. E espero que a Unifavip, como uma das maiores e mais respeitadas Instituições de Pernambuco, exija essa postura da banca.

A Fafica também realiza seu vestibular neste dia 15, à tarde. Como a prova é apenas uma redação, espera-se também que a Instituição divulgue, em sua página, o(s) tema(s) solicitado(s) – como, aliás, sempre fez. É direito da comunidade estudantil ter acesso a isso.

Até a próxima semana.

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todos os sábados. E-mail: menelaujr@uol.com.br

ARTIGO – Sim, é possível usar estratégias de Marketing em pequenas empresas

Por Camila Craveiro

Em consultorias, a principal objeção ao falar em Marketing que ouço é: “minha empresa é pequena, não temos dinheiro para investir em Marketing”. O mais engraçado é que após minutos de conversa é possível perceber que isso é dito inclusive por aqueles que já fazem uso do Marketing, ainda que sem saber.

De acordo com Kotler, o Marketing consiste no planejamento e na execução de estratégias que otimizem as variáveis controláveis de uma organização, sendo elas o Preço, a Praça/Distribuição, o Produto/Serviço e a Promoção (no sentido, de Comunicação). Para que essas variáveis sejam otimizadas, é prioritário conhecer o público-alvo. Mas na condição de pequena empresa, como fazê-lo?

Primeiramente, um banco de dados dos clientes com o maior número de informações possíveis: nome, telefone, endereço, data de nascimento e anotações sobre o que consomem em cada compra (assim, também se consegue medir a frequência de compra). Para consegui-lo, pode-se lançar mão de um sorteio de brindes, em um período mais alto de vendas, com preenchimento desses dados em um cupom, que será depositado em uma urna, por exemplo. Lembre-se apenas de não colocar muitos campos para o cliente preencher, porque hoje em dia ninguém tem paciência para pesquisa nos moldes Censo.

Uma vez com o banco de clientes atualizado, pode-se pensar comunicações específicas para cada público, seja via email marketing, envio de SMS, mala direta etc.,tudo planejado em consonância com o perfil do target.

Muito importante, ainda, é conhecer os concorrentes diretos. Se eu tenho um pet shop em uma região onde existem três concorrentes, eu preciso pesquisá-los. Mas aí logo vem a angústia: “pesquisa é muito caro!”. Nem sempre. Você mesmo pode fazer um cliente oculto nos outros estabelecimentos ou, caso seja conhecido pelos seus concorrentes, elencar o que precisa ser observado e pedir a um amigo que os visite. Nesse momento, é importante analisar o atendimento, o layout das lojas, os produtos disponíveis, os preços praticados, diferenciais como estacionamento, segurança, conveniência.

De posse dos dados dos seus concorrentes, fica muito mais fácil entender quais são seus pontos fortes e onde é preciso melhorar. Isso é o início de uma Análise SWOT (em bom português, FOFA – Forças e Fraquezas, Ameaças e Oportunidades) da sua empresa.

E não podemos nos esquecer do uso de mídias sociais quando seu negócio pede esse tipo de approach com o público. Neste ponto, pessoalmente, já não creio em tentar o “do it yourself”.

Fazer uma boa comunicação depende de um profissional que saiba criar peças bonitas e que funcionem. Mas isso também não vai comprometer seus lucros. Pelo contrário! Quando bem feito, a experiência vai mostrar que investir uma porcentagem do faturamento (seja 3%, 5% ou mais, se houver condições) em Marketing é certeza de sobrevivência em um mercado altamente competitivo (basta ver que a grande maioria das empresas no Brasil é do tipo micro e pequena).

ARTIGO – Reconhecimento profissional: muito além de dinheiro e ego

Por Maurício Sampaio

O reconhecimento é uma das principais medidas para motivar e promover conquistas pessoais, profissionais e financeiras para um profissional, além de trazer benefícios para a empresa, como maior produtividade, funcionários em busca de resultados e com maior foco para o sucesso da organização. O problema é que nem sempre isso acontece…

Acredito até essa seja um problema universal. De um lado os chamados colaboradores, esperando por um elogio ou um feedback, seja ele positivo ou não. Do outro, líderes e empresas querendo entender o descontentamento de seus funcionários.

A verdade é que é preciso analisar ambos os lados. O reconhecimento é resultado do alinhamento de valores da empresa e de seus colaboradores. Portanto, analise o que pode ser sugerido para você ser reconhecido, ao mesmo tempo em que irá gerar bons resultados para sua organização.

Eu já estive em ambos os lados, mas boa parte da minha vida passei como contratante e reparei que existem dois sentimentos nesse jogo:

1) O sentimento do contratado, que acha que poderia “valer mais”, então ele gostaria de ser reconhecido pelos seus superiores e ter um aumento de salário.

2) A situação do contratante, que até sabe que seus funcionários poderiam ser melhor reconhecidos financeiramente, mas, devido aos muitos impostos, às vezes fica inviável.

Mas, para mim, a grande questão é que reconhecer um colaborador financeiramente não é tudo. O dinheiro é uma questão à parte nessa discussão e isso é algo que as recentes pesquisas vêm mostrando, principalmente no que se refere às novas gerações.

Muitos profissionais da Geração Y (nascidos após os anos 80) e Geração Z (nascidos na década de 90), por exemplo, não estão buscando apenas um bom salário ou um bônus salarial. É claro que dinheiro é bom e todo mundo gosta, pois podemos comprar as coisas que gostamos, viajar com a família e com os amigos, mas não é tudo. Quando esses jovens saem de uma empresa eles estão querendo um reconhecimento profissional, das suas habilidades e conquistas.

Todos querem ser reconhecidos

No começo da minha carreira, eu fui trabalhar em uma empresa familiar. E, obviamente, como era o mais novo, eu tinha que obedecer aos mais velhos – que, no caso, era a minha mãe. Ela era – e ainda é – dona de um colégio particular e eu sempre olhava e pensava: “Nossa, eu também quero ter o reconhecimento que ela tem”. E não era por uma questão de dinheiro, mas sim por reconhecimento profissional mesmo.

O fato é: todo o mundo deseja ser reconhecido. Isso não é uma questão de ego ou exibicionismo. Todos se sentem bem quando são valorizados, quando têm o incentivo e a admiração das outras pessoas. Isso faz parte da vida do ser humano. Eu duvido que exista alguém que não goste de um elogio ou que não se importe com isso.

Como ter o reconhecimento profissional?

Existem duas saídas: ou a empresa tem uma política humana de reconhecimento ou você deve procurar outro lugar que ofereça isso. Quando eu digo “política humana de reconhecimento”, refiro-me a um alinhamento de valores entre a companhia e os seus colaboradores. E não é só questão do reconhecimento financeiro.

Se há um trabalho nesse sentido e ele permite você acabe utilize as suas ferramentas, o seu conhecimento e aquilo que você quer produzir no dia a dia, ótimo. Do contrário, você realmente tem que buscar uma nova empresa que satisfaça o seu reconhecimento.

E o que é “satisfazer reconhecimento”? De um modo geral, é satisfazer aquilo que você tem para dar.

Se você é muito comunicativo, tem que trabalhar em uma área que te permita expor sua comunicação. Caso tenha uma habilidade para vendas, deve buscar uma área de persuasão. Ou, caso você goste de ajudar os outros, precisa caminhar em direção a uma área onde possa trabalhar diretamente com pessoas.

A empresa tem que trabalhar com esse prisma. É o que a gente chama, dentro do nosso meio, de engenharia de função: pessoa certa no lugar certo. Se a organizar não está conseguindo fazer esse tipo de alocação, você que tem que procurar outro lugar que consiga fazer isso.

Por outro lado, você só vai conseguir fazer isso se souber que realmente quer. Muitas pessoas reclamam de reconhecimento, mas, no fundo, não sabem o que querem. Você pode até dizer que quer um aumento de salário, mas sabe que tipo de aumento quer?

Para evitar que seu pedido de aumento de salário seja negado, considere as seguintes perguntas para fazer a si mesmo: Você sabe qual é o seu nível de produtividade no trabalho? Está produzindo mais ou menos? O que, de fato, você está produzindo em números?

As empresas gostam de trabalhar com números. Não tem jeito. É o meio que uma empresa tem para sobreviver. O que importa, no final das contas, é que ela sempre tenha dinheiro sobrando. Por isso, é importante saber de que forma você está contribuindo com ela. Essa é uma forma de você provar a sua participação e ser reconhecido.

São dois jogos: o da empresa e o seu. Ambos precisam estar alinhados. A empresa precisa reconhecer que ela deve fazer um maior esforço para reconhecer seus colaboradores e você precisa fazer um maior esforço para ser reconhecido. E, se estiver no lugar errado, procure um lugar que realmente possa acolher seus valores, talentos e habilidades.

ARTIGO – A retomada da migração campo/cidade em Pernambuco

Por Doriel Barros

Um fenômeno identificado no meio rural, em décadas passadas, volta a chamar a atenção: as pessoas estão deixando o campo para morar nas cidades. No entanto, desta vez, os motivos são bem diferentes dos identificados naquele tempo, quando homens e mulheres fugiam da fome e da sede. Um conjunto de politicas importantes acessadas pelos trabalhadores e trabalhadoras, a exemplo da aposentadoria, moradia, cisternas, Pronaf, Garantia Safra, fez com que  a migração das famílias praticamente acabasse. Porém, ultimamente,  com o aumento da violência no meio rural, muitas gente passou a abandonar  suas terras e casas em busca de uma suposta segurança nos espaços urbanos, ou  vilas rurais, provocando uma retomada do êxodo.

O crescente número de roubos e assaltos no campo tem provocado tensão e medo nos trabalhadores e trabalhadoras, em particular nos aposentados rurais, que são as maiores vítimas. Eles representam, hoje, uma fonte de recursos extremamente importante, sendo os responsáveis, em grande parte dos municípios, por uma receita maior que o Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Dados da Previdência Social apontam que  Pernambuco movimenta, somente de benefícios rurais, uma media de  R$ 405 milhões, mensalmente. Isso tem um impacto enorme na economia dos municípios e do estado. Sem esses recursos,  mercadinhos e lojas não conseguiriam se manter em funcionamento.

Porém  o que chama  a atenção é a migração das pessoas nessa fase da vida, sem que o Estado faça nada para reverter essa situação, mesmo sabendo do impacto social que isso tem causado. Esses idosos têm toda uma história no campo, onde construíram suas famílias e relações de amizade. Com as atuais mudanças, é gerado outro modo de vida para esses homens e mulheres, que sofrem com essa nova realidade e, muitas vezes, não têm forças para reagir.

É fundamental que o Estado chegue aos locais onde essas pessoas vivem. É preciso que se criem mecanismos de segurança pública para garantir  a integridade física das famílias que moram e trabalham no campo, a exemplo de patrulhas rurais. O interior de Pernambuco possui mais de 270 mil estabelecimentos  rurais, com milhares de pessoas produzindo alimentos, e tantos outros milhares aposentadas, que contribuíram e ainda contribuem para o desenvolvimento do estado.

A ausência de policiamento do meio rural é algo gritante. É preciso criar uma diretoria na estrutura do Estado voltada para esse espaço. Não podemos conviver com essa diferença no acesso às políticas por quem  mora na cidade e quem mora no campo. Infelizmente, são nesses momentos que a gente sente muito mais a falta que faz ter um deputado na Assembleia que defenda e lute por um campo com gente feliz.

OPINIÃO: Sorria. Você está sendo filmado

Por MENELAU JÚNIOR

Certamente você já ouviu falar em gerundismo. Foi o nome dado por professores e jornalistas ao hábito de usar – desnecessariamente – o gerúndio.

Para os esquecidos, vamos esclarecer: gerúndio é a forma verbal terminada em “-ndo”. Costuma ser empregada para indicar uma ação em curso ou uma ação que ocorre concomitantemente a outra. Vamos aos exemplos.

“Carlos está consertando a torneira”. Nesse caso, a forma “está consertando” indica que a ação está em curso, ocorre no momento em que se fala.

“Ela chegou à sala chorando”. Note que, nesse caso, o ato de chegar à sala ocorre ao mesmo tempo em que alguém chora. São, pois, ações concomitantes.

Até aí, tudo bem, e o gerúndio é a forma adequada. Mas os operadores de telemarketing inventaram expressões como “Eu vou estar transferindo a ligação” e “Nós vamos estar enviando o produto hoje”. Ora, quanto tempo se gasta para transferir uma ligação? A ação é rápida, por isso rejeita ao gerúndio. O mesmo ocorre com “Vamos estar enviando”. Ora, a gente envia algo e pronto!

Muito diferente é para quem espera. Você já deve ter tentado falar com uma operadora de telefonia. O tempo passa e nada. A atendente eletrônica bem que poderia dizer “O senhor vai estar fazendo papel de idiota durante algum tempo”, mas não diz. Nesse caso, o gerúndio estaria correto: a ação de fato ocorre durante um tempo.

Por isso, nada de classificar como “gerundismo” qualquer frase que apresente a estrutura “vai + estar + gerúndio”. Se a ação expressa pelo verbo é durativa, não há problema. Posso dizer que, durante a semana, “vou estar descansando no litoral”. Posso dizer que “vou estar escrevendo um novo livro” ou que “à noite vou estar corrigindo redações”.

Portanto, quando vemos plaquinhas em lojas e bancos com o aviso “Sorria! Você está sendo filmado”, a forma “está sendo” está correta, pois a ação é ininterrupta, dura. Nesses casos, o gerúndio é mais que indicado.

Antes de terminar, deixo aqui um abraço ao leitor Edgard Leitão, que me deu esta semana a alegria de receber uma carta – sim, uma carta! Nesses tempos de e-mails e conversas virtuais, a carta sempre nos enche de alegria.

Até a próxima semana.

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todos os sábados. E-mail: menelaujr@uol.com.br

Artigo: “Medida errada na hora incerta”

Por Antonio Carbonari Netto

O fato de as instituições universitárias privadas apresentarem queda de 30% nas matrículas no segundo semestre — devido, principalmente, aos cortes feitos pelo governo no FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) — poderá comprometer uma das metas mais importantes do Plano Nacional de Educação para esta década: elevar a taxa bruta de matrícula no Ensino Superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos.

Caso os valores do FIES não sejam restabelecidos em 2016 e nos próximos exercícios fiscais, poderá acentuar-se a tendência de queda do volume de acesso ao Ensino Superior, um retrocesso de graves consequências para o Brasil. É inadmissível que um programa com tamanho alcance social e significado estratégico para a meta de converter o Brasil numa economia de renda alta sofra redução abrupta superior a 50% no número de alunos beneficiados. Não há crise econômica ou fiscal que justifique tal insensatez.

Neste momento de incertezas quanto à economia, é um erro grave retirar recursos da educação, considerando serem a abrangência e a qualidade do ensino os mais decisivos fatores para que ingressemos num processo de desenvolvimento sustentável. O impacto é muito grande: 731 mil novos contratos do FIES em 2014, contra apenas 311 mil em 2015. No ano passado, 38% das novas matrículas na rede privada foram por meio do programa. No presente exercício, o índice caiu para 19%. Os números são do Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior).

Além de prejudicar alunos, a sociedade e o País, o corte drástico de mais de 70% dos recursos financeiros do FIES está causando grave dificuldade financeira para numerosas instituições de Ensino Superior. O problema atinge principalmente as pequenas, que cumprem papel relevante no sistema, pois equilibram o atendimento à demanda e também atendem à formação profissional no País.

A atitude imediatista e equivocada do governo, drenando dinheiro da educação, ao invés de economizar em despesas não prioritárias, revela uma ausência de visão estratégica quanto aos efeitos da inclusão acadêmica na economia e na transformação positiva da sociedade. Vejamos: juntamente com o Prouni (Programa Universidade para Todos), o FIES, que mantém 1,9 milhão de contratos ativos, terá impacto significativo daqui a dez ou vinte anos, no tocante à ascensão socioeconômica, aumento do valor médio da massa salarial, pesquisa e inovação.

O Brasil não pode comprometer suas metas relativas ao Ensino Superior, com erros do presente que pioram o futuro, prolongam sua dependência aos países detentores do conhecimento e adiam a marcha do desenvolvimento. Por isso, mesmo nos momentos mais difíceis da economia e da política, como vivemos nestes conturbados dias de 2015, o governo precisa manter a lucidez.

OPINIÃO: Diminutivos nem sempre expressam tamanho

Por MENELAU JÚNIOR

Um dia, na escola, aprendemos que o aumentativo e o diminutivo servem para indicar variações de tamanho dos substantivos. Ninguém contesta que um carro pequeno é um “carrinho”; uma menina pequena é uma “menininha”; uma festa para poucos convidados é uma “festinha”.

Mas não é sempre assim. No dia a dia, os diminutivos também são usados com outros valores. Quem não lembra os famosos versos de Caetano Veloso: “Gosto muito de te ver, Leãozinho”? Caetano fez a música para um amigo contrabaixista, o Dadi. Dadi, segundo o compositor baiano, era “novinho, lindíssimo”. E, assim como Caetano, do signo de Leão. Compreendendo as motivações da canção “O leãozinho”, fica mais do que evidente que a palavra não está no diminutivo para expressar tamanho, mas para revelar afetividade.

O que seria do amor sem os diminutivos? Você, leitora, é apaixonada por um rapaz alto, mas o chama de “amorzinho”. Você, leitor, caído pela companheira, chama-a de “princesinha”. E lá se vão os diminutivos cheios de carinho: “mamãezinha”, “painho”, “lindinha”, “gordinho”, “olhinho”, “boquinha”. Tudo depende do contexto. No amor, por exemplo, os diminutivos encontram terreno mais que fértil.

Mas nem sempre é assim. Se por um lado eles podem revelar carinho, afetividade, por outro relevam um aspecto mordaz, irônico. Alguma mulher aceita ser chamada de “mulherzinha”? Todos sabemos que tal atribuição não revela tamanho nem apreço: “mulherzinha” deprecia, diminui, vulgariza. Você ser consultaria com um “doutorzinho”? Claro que não. Recomendaria um “professorzinho” para seu filho? Também não. Até mesmo um “carrinho” pode significar, dependendo da situação, um automóvel que não merece muita confiança.

Resumindo, nem sempre o diminutivo indica a diminuição do tamanho normal. Pode também ser empregado com valor de carinho ou com uma forte carga pejorativa. O contexto ou a situação é que revelam, de fato, o sentido das palavras.

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OPINIÃO: Ler faz toda a diferença

Por MENELAU JÚNIOR

Se você está com os olhos nestas linhas, provavelmente faz parte do reduzidíssimo grupo de brasileiros que têm o hábito da leitura. Não por coincidência, são pessoas desse grupo que costumam ganhar os melhores salários e ter mais influência na sociedade. São esses também os que pensam um pouco melhor.

O brasileiro lê muito pouco. Para alguns estudos, 1,8 livro por ano. Para outros, 2,5. Para nenhum, mais de três. A comparação com países europeus faria o “gigante pela própria natureza” corar de vergonha. Gastamos muito mais com bebidas alcoólicas do que com livros. Gastamos muito mais com celulares do que com livros. Gastamos muito mais com lanchinhos fora de hora do que com livros. Em resumo, não lemos.

Esse descaso com as letras custa caro ao país. Nos concursos públicos, muitos caem na interpretação de textos e no domínio da norma culta; nas empresas, vagas deixam de ser preenchidas por falta de conhecimento e raciocínio; na política, damos ouvidos (e votos) a falastrões populistas revestidos de santidade. Em outras palavras, por causa da falta de leitura o brasileiro tem dificuldade de conseguir emprego, submete-se a salários baixos e é facilmente manipulado pelos governantes.

Não é de hoje que lemos pouco. Aliás, líamos ainda menos. Nos últimos anos, a melhoria de condição de vida do brasileiro fez o mercado dos livros alcançar dígitos inéditos. Ainda é pouco, contudo. Boa parte dos livros consumidos no país é de material didático, distribuído pelo governo nas escolas. São os livros lidos por obrigação. Esses poucos contribuem para a formação de leitores – e de cidadãos mais conscientes de seu papel. É preciso avançar. Dar exemplos.

A família é – e sempre será – o primeiro referencial das crianças. Se até os cinco anos elas tiverem mais contato com livrinhos, historinhas, gibis e afins, será mais fácil criar o hábito da leitura – pelo prazer, claro. Se virem os pais lendo, comprando revistas e visitando grandes livrarias, descobrirão a importância da leitura por si sós. É, pois, indispensável que haja exemplos em casa.

Na escola, professores precisam estimular o hábito de ler. E para isso precisam conhecer os gostos das crianças e dos adolescentes. Qual o problema de eles gostarem de Harry Potter? Que mal há em sonhar com o vampiro de Crepúsculo? Qual o crime em participar de uma Guerra dos Tronos? A partir dessas histórias fantásticas, é possível desenvolver o prazer pela leitura – e só então descobrir obras mais complexas. Não se esqueça, contudo, a lição de um provérbio chinês: “Os professores abrem a porta, mas o aluno entra sozinho”.

A leitura, portanto, é o início das grandes mudanças na sociedade. Não se pode esquecer que, além de nos levar a mundos fantásticos, habitados por seres estranhos, ela também nos permite conhecer nosso próprio mundo – e a nós mesmos. Quem lê viaja, descobre, reflete. Quem lê é dono de seu próprio destino.

Até a próxima semana.

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