Essência dos males de Cabral estava na demofobia

Folha de S.Paulo

O repórter Ruben Berta informou que em 2010 o então governador Sérgio Cabral mimou seu vice Pezão durante as festas de fim de ano hospedando-o no hotel Portobello, em Mangaratiba. As diárias saíram por R$ 5.600. O salário do anfitrião era de R$ 13,4 mil, mas isso não tinha importância.

Aquele Réveillon poderia ter sido uma festa qualquer, mas durante o dia 31 de dezembro de 2009 uma chuva matou 46 pessoas na região de Angra dos Reis e outras 21 no Estado. Cabral estava na sua casa de Mangaratiba, a 60 km dos locais da tragédia. Seria uma viagem de poucos minutos em seu meio de transporte preferido, o helicóptero, mas só botou o pé na lama no dia 2, com uma frase emblemática: “Você jamais vai me ver fazendo demagogia”.

A demofobia foi a marca de sua passagem pelo Rio. Em 2007 ele defendeu o aborto porque na sua opinião a favela da Rocinha era “uma fábrica de produzir marginal”. (Citou estatísticas erradas, mas deixa pra lá.) Dois anos depois propôs que 11 favelas do Rio fossem cercadas por muros de três metros de altura. (A voz solitária contra essa maluquice veio de um português, o Prêmio Nobel José Saramago.) Vendeu a ilusão de uma pacificação dos morros, quando sua única iniciativa foi a militarização do cotidiano nessas comunidades. (O fracasso do conjunto dessa obra foi reconhecido neste ano pelo seu marechal de campo, o secretário de Segurança José Mariano Beltrame).

No morro do Alemão, ocupado com uma coreografia digna da tomada das praias da Normandia no Dia D, ficou o teleférico, símbolo da conjugação da demofobia com a corrupção. Custou R$ 210 milhões num cenário de concorrências viciadas e desde outubro está parado. Foi lá que madame Christine Lagarde, diretora do FMI, sentiu-se “nos Alpes”.

Graças à Polícia Federal e ao juiz Marcelo Bretas, Sérgio Cabral está em Bangu 8, vestindo uma camiseta verde. Carnavalizaram-se os deslocamentos do detento com faixas, fogos e festas. De uma hora para outra, Sérgio Cabral tornou-se o estuário de todas as reclamações.

Cabral usou como laranja empregada doméstica

Folha de S.Paulo 

Era para um celular em nome da doméstica Nelma de Sá Saraça, 42, que executivos de empreiteiras ligavam para Sérgio Cabral (PMDB).

Segundo o Ministério Público Federal, por este telefone o ex-governador do Rio marcava encontros em locais como o Palácio Laranjeiras, residência oficial do chefe do Executivo estadual, para discutir propinas em obras públicas.

A residência real de Nelma é um apertado quarto e sala de cerca de 30 metros quadrados na zona rural de Maricá, município da região metropolitana do Rio.

Ela divide o imóvel com cinco parentes (dois filhos, a irmã, sobrinho e neto).

É um espaço pouco maior do que a cela de 16 metros quadrados ocupada por Cabral e outros cinco suspeitos presos pela Operação Calicute em Bangu 8.

Enquanto o peemedebista dorme numa das camas das três beliches da cela, Nelma divide o colchão de casal com os dois filhos e o neto. Irmã e sobrinho dormem na sala.

Indicado numa nota de rodapé do pedido de prisão do ex-governador, o nome gerou uma série de especulações sobre a inspiração para o que se supôs ser apenas um personagem falso criado pelo ex-governador para dificultar investigações a seu respeito.

Apontou-se como possível inspiração o nome de uma secretária, Nelma Quadros, que trabalhara no jornal “O Pasquim”, fundado pelo jornalista Sérgio Cabral, pai do ex-governador.

Segundo outra hipótese levantada, os sobrenomes Sá Saraca (na petição dos procuradores, aparece sem cedilha) seriam referência ao musical “Sassaricando”, também criado por Cabral pai.

A NELMA REAL

Nelma, contudo, existe. Acorda de segunda a sábado às 6h para ir ao centro de Maricá. Vai (e volta, dez horas depois) andando por 50 minutos para economizar os R$ 2,70 cobrados de tarifa da van.

Com o salário de R$ 1.100, diz bancar os seis ocupantes do apartamento com telhado de amianto que não aguenta as fortes chuvas de verão. Pelo aluguel, paga R$ 450.

Justiça bloqueia imóveis da mulher de Sérgio Cabral

A Justiça Federal no Rio de Janeiro determinou, hoje, o bloqueio dos imóveis em nome de Adriana Ancelmo, mulher do ex-governador Sérgio Cabral, e de seu escritório, Ancelmo Advogados.

O pedido partiu do MPF (Ministério Público Federal), que considera que a ex-primeira-dama fazia parte do esquema de lavagem de dinheiro de propinas pagas ao ex-governador.

“Com o aprofundamento das investigações, foi identificada a participação mais efetiva da investigada Adriana Ancelmo na atividade da suposta organização criminosa. Motivo pelo qual, tornou-se medida necessária a decretação do bloqueio de seus bens imóveis, em especial no que diz respeito à aquisição de grande quantidade de joias de altíssimo valor, normalmente em dinheiro vivo, pela própria investigada ou por interpostas pessoas, nas principais joalherias do Rio de Janeiro”, afirmou o juiz Marcelo Brêtas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, em sua decisão.

O juiz cita ainda os laços de Adriana com os investigados pela Operação Calicute. “Os laços familiares e de intimidade com os demais investigados são inegáveis, além do que, as apurações preliminares revelaram que Adriana Ancelmo praticou diversos atos que, aparentemente, representam evidências de sua participação na lavagem e na ocultação da origem ilícita de proveitos decorrentes da corrupção supostamente praticada por seu marido, o também investigado Sérgio Cabral”, afirmou.

A defesa do casal foi procurada pelo UOL por telefone, mas não atendeu as ligações.

O Ministério Público Federal chegou a pedir a Brêtas a prisão temporária de Adriana. O juiz negou o pedido e determinou a condução coercitiva para depoimento, realizada no dia 17, mesmo dia em que Cabral foi preso. A primeira-dama foi levada à Polícia Federal, prestou depoimento e foi liberada.

A advogada é investigada por suposta lavagem de dinheiro. Outra suspeita sobre Adriana se refere a contratos firmados pelo escritório de advocacia da qual ela é uma das donas com empresas que prestavam serviço ao Estado durante a gestão de Cabral. Segundo a investigação, o escritório recebeu cerca de R$ 17 milhões em contratos com empresas que prestam serviços públicos.

Na semana passada o Banco Central localizou R$ 10 milhões numa conta bancária da ex-primeira dama. O ex-governador mantinha apenas R$ 454, de acordo com relatório disponibilizado pelo juiz Sergio Moro, da Operação Lava Jato, que também investiga Adriana e Cabral.

Cabral tem joias e lancha avaliada em R$ 5 milhões

A Operação Calicute, nova fase da Lava Jato que prendeu nesta quinta-feira, 17, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), apreendeu joias, relógios e até uma lancha avaliada em R$ 5 milhões, cuja propriedade é atribuída ao peemedebista.

Um relatório da Polícia Federal aponta que o ex-governador Sérgio Cabral é dono de uma lancha avaliada em R$ 5 milhões e de um helicóptero, vendido em julho deste ano. De acordo com o documento, a lancha batizada de Mahattan Rio fica guardada na marina do Condomínio Portobello, em Mangaratiba, na Costa Verde. Ali a família Cabral tem casa de veraneio e costuma realizar festas e receber convidados. Um dos eventos custou R$ 81.160.

A lancha está em nome de Paulo Fernando Magalhães, ex-assessor de Cabral, também preso nesta quinta-feira. O peemedebista foi preso em sua casa, no Leblon, zona sul do Rio. Contra o ex-governador foram expedidos dois mandados de prisão: um da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro e outro da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba.

A investigação da força-tarefa do Ministério Público Federal apura pagamento de vantagens indevidas a Sérgio Cabral, em decorrência do contrato celebrado entre a Andrade Gutierrez e a Petrobras, sobre as obras de terraplanagem no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). A força-tarefa da Lava Jato, no Rio, investiga corrupção na contratação de diversas obras conduzidas no governo do peemedebista, entre elas, a reforma do Maracanã para receber a Copa do Mundo de futebol de 2014, o PAC Favelas e o Arco Metropolitano, financiadas ou custeadas com recursos federais.

De acordo com a Procuradoria, apura-se, que, além das empreiteiras Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia, outras empresas consorciadas para a execução das obras também teriam efetuado pagamentos de valores solicitados a título de propina, em patamar preliminarmente estimado em R$ 224 milhões.

Segundo a investigação da Lava Jato, o ex-governador do Rio recebeu R$ 500 mil de mesada da Carioca Engenharia em seu segundo mandato (2010-2014). No primeiro (2007-2010), R$ 200 mil. Já a Andrade Gutierrez desembolsou R$ 350 mil em um ano. No total, a primeira empresa pagou R$ 32,5 milhões em propina e a segunda, R$ 7,7 milhões, de 2007 a 2014.

Em algumas ocasiões, para não levantar suspeitas, foram feitos, além de repasses em espécie, depósitos fracionados em contas de Cabral, de R$ 10 mil.

A investigação da força-tarefa da Operação Lava Jato, no Rio, apontou que a propina destinada ao ex-governador do Rio pagou R$ 1.070 em cachorros-quentes para a festa do filho do peemedebista.

A mulher de Sérgio Cabral, a advogada Adriana Ancelmo foi conduzida coercitivamente – quando o investigado é levado a depor e liberado – nesta quinta. A Lava Jato, no Paraná, detalhou, no pedido de prisão do ex-governador do Rio, pagamentos em dinheiro vivo feitos por investigados ligados ao peemedebista. O Ministério Público Federal apontou para um gasto de R$ 57.038,00 em seis vestidos de festa feito pela advogada Adriana Ancelmo, mulher de Sérgio Cabral e ex-primeira-dama do Estado do Rio.

Mulher de Cabral gastou R$ 57 mil com vestidos de festa

A força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba, detalhou, no pedido de prisão do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), pagamentos em dinheiro vivo feitos por investigados ligados ao peemedebista. O Ministério Público Federal apontou para um gasto de R$ 57.038,00 em seis vestidos de festa feito pela advogada Adriana Ancelmo, mulher de Sérgio Cabral e ex-primeira-dama do Estado do Rio.

O valor dos vestidos de festa, segundo os investigadores, foi dividido em sete vezes. Em 7 de janeiro de 2014, Adriana Ancelmo fez quatro depósitos, um de R$ 5.238,00 e três de R$ 9.900,00. Em março seguinte foram três depósitos: um no dia 19 no valor de R$ 6.100,00 e dois no dia 20 nos valores de R$ 7 mil e de R$ 9 mil. O Ministério Público Federal chamou atenção para os pagamentos fracionados com valores abaixo de R$ 10 mil.

“O fracionamento dos depósitos em valores inferiores a R$ 10 mil indica que os pagamentos foram deliberadamente estruturados para evitar a necessidade de identificação do depositante e escapar à fiscalização”, diz a força-tarefa.

No documento, o Ministério Público Federal aponta que ao menos, R$ 949.985,01 foram pagos “por meio de dinheiro em espécie, depósitos em espécie em conta corrente e boletos bancários pagos em espécie”.

“Importante registrar que tamanha movimentação de recursos em espécie foge à normalidade e indica que Sérgio Cabral, Adriana Ancelmo e Carlos Miranda, para ocultar valores de propina recebidos em espécie, optaram por adotar mecanismos de lavagem na aquisição de tais produtos, evitando, assim, a via bancária oficial, na qual todas as transações podem ser registradas”, afirma a Procuradoria.

Sérgio Cabral governou o Rio entre janeiro de 2007 e abril de 2014 em dois mandatos. Os dados sobre os gastos do peemedebista constam da quebra fiscal determinada por Sérgio Moro. A Procuradoria da República “colheu, por amostragem, bens adquiridos pelos representados através de notas fiscais vinculadas ao CPF de Sérgio Cabral, sua esposa Adriana Ancelmo e Carlos Miranda”, apontado como operador de propinas do ex-governador.

“Foram oficiados os fornecedores dos produtos para que informassem, entre outros aspectos, a forma pela qual foram efetuados os pagamentos pelos adquirentes. Num total de aproximadamente R$ 3,3 milhões em notas fiscais, diversos fornecedores informaram que receberam os valores por meio de dinheiro em espécie, depósitos em espécie em conta-corrente e boletos bancários pagos em espécie”, relatou a força-tarefa a Sérgio Moro.

No documento, os procuradores destacaram alguns pagamentos. Em 7 de maio de 2014, Adriana Ancelmo comprou móveis no valor de R$ 33.602,43. Em 12 de agosto de 2015, a ex-primeira-dama pagou R$ 25 mil em espécie – de um total de R$ 40 mil – em dois mini buggys.

Entre dezembro de 2009 e julho de 2014, a mulher de Cabral adquiriu eletrodomésticos por um valor total de R$ 110.262,00 e pagou R$ 7.995,00 em espécie, R$ 55.987,00 por meio de depósitos em espécie em conta corrente, R$ 9.925,00 por meio de boleto bancário pago em espécie e o restante em cheques.

A Procuradoria afirma que em novembro de 2013, Carlos Miranda adquiriu equipamentos para produção de leite por um valor total de R$ 76.260,00. Um dos homens de confiança de Sérgio Cabral fez o pagamento por meio de depósitos em espécie em conta corrente estruturados, segundo os procuradores.

Em 12 de fevereiro de 2014, o homem de confiança de Cabral comprou equipamentos agrícolas num valor total de R$ 122.489,29. Deste valor, R$ 25.828,25 foram pagos por meio de 2 boletos pagos em espécie, e R$ 96.661,04 por meio de depósitos em espécie em conta corrente estruturados.

“Tais elementos permitem concluir, acima de qualquer dúvida razoável, que os recursos em espécie obtidos com a propina foram utilizados por Sérgio Cabral, Adriana Ancelmo e Carlos Miranda para aquisição de bens e produtos para si próprios”, afirmam os procuradores.

Na decisão que mandou prender Sérgio Cabral, o juiz federal Sérgio Moro afirmou que “causa certa estranheza’ as ‘aquisições vultosas” feitas pela ex-primeira-dama Adriana Ancelmo.

“Causa certa estranheza, por exemplo, a frequência de aquisições vultosas de bens móveis em espécie, como as feitas por Adriana Anselmo, esposa do então Governador, de móveis com pagamento de R$ 33.602,43 em espécie em 05/2014, ou de dois mini bugs com pagamento de R$ 25.000,00 em espécie em 08/2015, ou de equipamentos gastronômicos com pagamento de R$ 72.009,31 em espécie em 03/2012”, destacou Moro.

Cabral confiante na vitória para a 1ª Secretaria

Do Blog da Folha

Candidato oficial do PSB à Primeira Secretaria da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), o deputado estadual Lula Cabral está confiante na vitória. Ele disputa o posto com o companheiro de partido Diogo Moraes, candidato dissidente.

Em conversa com jornalistas antes da votação da Mesa Diretora, Cabral disse que não está “constrangido nem constrangendo ninguém” com sua candidatura. “Apenas sou o candidato oficial do PSB”, afirmou. Ele disse acreditar que Moraes tem direito de disputar o cargo, assim como qualquer parlamentar do PSB.

O parlamentar acredita que o gesto de ter deixado o PSC, no qual era presidente regional, para ingressar no PSB pode ter contribuído para a escolha por parte do partido, assim como o período em que foi gestor do Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, e os dois mandatos na Casa.

Apesar de ter afirmado que não conversou nem com o governador Paulo Câmara (PSB) nem com o prefeito Geraldo Julio (PSB), mas que foi chamado por correligionários e pelo presidente estadual do PSB, Sileno Guedes, para que pudesse ocupar na chapa da Mesa o cargo de primeiro secretário.