Folha de S.Paulo
Era para um celular em nome da doméstica Nelma de Sá Saraça, 42, que executivos de empreiteiras ligavam para Sérgio Cabral (PMDB).
Segundo o Ministério Público Federal, por este telefone o ex-governador do Rio marcava encontros em locais como o Palácio Laranjeiras, residência oficial do chefe do Executivo estadual, para discutir propinas em obras públicas.
A residência real de Nelma é um apertado quarto e sala de cerca de 30 metros quadrados na zona rural de Maricá, município da região metropolitana do Rio.
Ela divide o imóvel com cinco parentes (dois filhos, a irmã, sobrinho e neto).
É um espaço pouco maior do que a cela de 16 metros quadrados ocupada por Cabral e outros cinco suspeitos presos pela Operação Calicute em Bangu 8.
Enquanto o peemedebista dorme numa das camas das três beliches da cela, Nelma divide o colchão de casal com os dois filhos e o neto. Irmã e sobrinho dormem na sala.
Indicado numa nota de rodapé do pedido de prisão do ex-governador, o nome gerou uma série de especulações sobre a inspiração para o que se supôs ser apenas um personagem falso criado pelo ex-governador para dificultar investigações a seu respeito.
Apontou-se como possível inspiração o nome de uma secretária, Nelma Quadros, que trabalhara no jornal “O Pasquim”, fundado pelo jornalista Sérgio Cabral, pai do ex-governador.
Segundo outra hipótese levantada, os sobrenomes Sá Saraca (na petição dos procuradores, aparece sem cedilha) seriam referência ao musical “Sassaricando”, também criado por Cabral pai.
A NELMA REAL
Nelma, contudo, existe. Acorda de segunda a sábado às 6h para ir ao centro de Maricá. Vai (e volta, dez horas depois) andando por 50 minutos para economizar os R$ 2,70 cobrados de tarifa da van.
Com o salário de R$ 1.100, diz bancar os seis ocupantes do apartamento com telhado de amianto que não aguenta as fortes chuvas de verão. Pelo aluguel, paga R$ 450.