Temer foge para a frente

 Folha de S.Paulo

O governo está entre bêbado e equilibrista. Tropeça na política, talvez sobreviva na Justiça apoiado em um acordão precário e, a fim de evitar a queda, dá saltos adiante, com a promessa de mais e imediatas reformas.

O anúncio de reforma trabalhista talvez por decreto é um desses pulos. Michel Temer procura manter o apoio de parte relevante da elite econômica, que o “elegeu” com base no programa “Ponte para o Futuro”.

O desânimo com o crescimento que não vem, no que, aliás, Temer não tem culpa alguma, ao contrário, aumentou a impaciência com o que gente de peso considera “lerdeza” nas reformas. A mudança na Previdência teria sido protelada demais; na trabalhista, teria havia recuo, por exemplo.

Temer é um vetor das reformas, para os donos do dinheiro grosso. É um anteparo para quem quer assumir governo e país “saneados” em 2019, o PSDB, por exemplo, eminência parda do governo, com pretensões de ficar colorida.

O destino do presidente parece cada vez mais depender de um arranjo, de um acordo tácito entre gente dos três Poderes e de poderes de fora de Brasília. Talvez fique para meados de 2017 o julgamento da chapa Dilma-Temer 2014, no TSE.

Acelera-se ou retarda-se seu processo de cassação de acordo com a conveniência da sua sobrevida, assim como se atenuam outros conflitos no Planalto a fim de tranquilizar o ambiente, evitar tiroteios e balas perdidas que possam pôr a perder o governo de modo descontrolado.

Temer reage. Veio um pacote de medidas microeconômicas, razoáveis, mas pura abstração para quase o povo inteiro e de efeito algum no crescimento de curto prazo –nem era essa a intenção dos economistas que as propuseram.

Não importa. É preciso mais. Temer acelera de modo imprudente a reforma trabalhista, que não estava nos planos dos economistas da Fazenda para tão cedo. Pelo menos até sexta-feira passada, não estava. Mesmo nesta quarta-feira (21), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, dizia que a reforma estava sendo “estudada intensamente”.

Temer não se sustenta até março, diz Paim

Diante da sucessão de revelações sobre pagamento de propinas pelo Grupo Odebrecht a diversos políticos, inclusive atuais e ex-ministros do Presidente Michel Temer, aumentam as pressões no Congresso Nacional contra o próprio presidente da República.

Primeiro, foi o ex-diretor de Relações Institucionais do Grupo Odebrecht, Cláudio Melo Filho, quem revelou que somente o PMDB recebeu das empresas mais de R$ 10 milhões de forma ilícita. Depois, foi o próprio ex-presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, quem confirmou esses pagamentos. Desta forma, Michel Temer, que foi presidente nacional do PMDB, vê-se cada vez mais pressionado.

Esta semana, inclusive, o Senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), da própria base aliada, sugeriu que, diante da gravidade da crise, Michel Temer tivesse “um gesto de grandeza e renunciasse à Presidência da República”. Temer, porém, disse que não tem a menor intenção de deixar o Palácio do Planalto.

Mais incisivo, o Senador Paulo Paim (PT-RS) disse à Sputnik Brasil que não vê possibilidades de o atual Governo se manter: “A situação é gravíssima e a posição do Presidente Michel Temer é muito delicada. Por muito menos do que isso a Presidente Dilma Rousseff foi afastada do cargo. Agora, as denúncias dos empresários atingem diretamente o presidente da República e todos os ministros do chamado núcleo duro do Governo, como Eliseu Padilha e Moreira Franco.”

Preocupado, Temer vai aguardar efeito das delações

Estadão conteúdo

O presidente Michel Temer reagiuaos vazamentos da delação do ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho com “preocupação” e sem “ingenuidade”. A ordem no Planalto, entretanto, é evitar muitos comentários, reforçar que as delações precisam se comprovar e que o governo precisa “continuar trabalhando” pelo País. Interlocutores do presidente admitem, contudo, que “os efeitos disso precisam ser observados” e que a Lava Jato sempre foi e continua sendo um fator “imponderável”.

O foco do presidente nessas últimas semanas de trabalho no Congresso será garantir a aprovação da PEC do Teto de Gastos no segundo turno no Senado, prevista para o próximo dia 13, e o andamento da Reforma da Previdência nas comissões na Câmara. Com isso, espera-se que Temer consiga emplacar algumas agendas positivas, para tirar o foco da crise. A equipe econômica – que tem sido alvo de críticas – também trabalha para lançar novas medidas de estímulo. “O presidente diz que não se pode falar em crise, e é preciso trabalhar. É isso que o governo está tentando fazer”, disse um auxiliar.

Temer demitiu Osório direto pelo Diario Oficial

O Globo

padilha-medina

Michel Temer mandou Padilha avisar o advogado-geral da União, Fábio Osório, de que ele estava demitido. Quando soube que Osório respondeu que só aceitava ser demitido depois que conversasse com ele, o presidente, mau feito um pica-pau, respondeu:

— Ele quer conversar? Então vou mandá-lo conversar com o Diário Oficial da União.

O Palácio do Planalto tem informado que a anunciada reforma ministerial não passará, além da demissão de Osório, de mais duas mexidas: a volta de Jucá para o Ministério do Planejamento e a nomeação de Marx Beltrão, afilhado de Renan, para o Ministério do Turismo.

Para isso, Temer aguarda apenas o nada consta do Janot.

Que ele sabe que pode não vir. E torce para isso.

Sobre a demissão do desastrado ministro da Saúde, prometida desde a posse, a estratégia agora dos chamados ministros da casa é dizer que estão surpresos com a sua condição de “excelente gestor”.

Temer, que acabou de chegar de lá, sabe que Ricardo Barros não é bom ministro, nem aqui nem na China. Só o nomeou para aprovar o impeachment.

Carta de Dilma: reconhecer erros e cutuca Temer

Folha de S.Paulo 

Em crítica indireta ao interino, Michel Temer, a presidente afastada Dilma Rousseff deve se comprometer com o Senado a assegurar a independência das investigações da Polícia Federal e a não indicar para a sua equipe de governo condenados por corrupção caso retorne ao cargo.

Segundo relatos de petistas e aliados, com os quais Dilma conversou sobre a carta que enviará nesta semana aos senadores, ela também pretende defender o amplo direito de defesa e irá chamar de “golpe” o seu afastamento. As estocadas são feitas depois de dois ministros da gestão atual terem deixado os cargos por críticas à Lava Jato. Após ter adiado a divulgação do documento, a presidente afastada passou o final de semana revisando a carta e ainda pretende fazer ajustes de última hora nesta segunda (15).

No texto, ela pretende reconhecer que a crise atual é grave, mas que somente pode ser superada com alguém que tenha a legitimidade do voto popular. Com recuos na área econômica e dificuldades no Congresso, o governo interino tem promovido uma ofensiva junto ao setor empresarial com receio de perda de apoio na fase final do processo de impeachment.

Segundo relatos de petistas e aliados, a presidente afastada pretende reconhecer que cometeu erros à frente do Planalto, mas que não praticou nenhuma ilegalidade, e prometerá medidas para a retomada imediata do crescimento e a recuperação do emprego. Para isso, se dispõe a ouvir previamente a sociedade.

Ela ainda deve defender enfaticamente a convocação de um plebiscito para consultar a população sobre uma nova eleição presidencial e sobre uma reforma política. Ela quer deixar claro, contudo, que a prerrogativa é do Congresso, mas que endossará a iniciativa.

A ideia inicial era que o texto fosse divulgado na semana passada, quando foi votada a pronúncia, penúltima etapa do processo de impeachment no Senado. O adiamento foi criticado até mesmo por congressistas petistas, segundo os quais a presidente afastada “perdeu o timing”.

Temer quer ser candidato a presidente em 2018

O presidente interino, Michel Temer nega, mas segundo o colunista Ilimar Franco, ele sonha em ser candidato em 2018. “Para isso, a economia deve melhorar ou a população ter uma sensação de que ela melhorou. A pesquisa IBOPE/CNI, divulgada na sexta-feira, mostra que a avaliação de Temer e de seu governo ainda é ruim, mas que já esteve pior”, ressalta.

“O Temer não é candidato hoje. Mas se ele chegar com 30% de ótimo e bom e 50% de aprovação, ele terá condições de concorrer. Temer vai ser convocado pelo PMDB e aliados”, afirma Antônio Lavareda, que trabalhou nas campanhas.

“A Lava-Jato colocou o PMDB no poder. Temer será competitivo mesmo que a investigação atinja quadros do partido, desde que não seja ele. O atual governo não tem outro nome. Se não der certo para o Temer, não dará para ninguém (de sua aliança)”, diz, por sua vez, João Francisco Meira, do Instituto Vox Populi e ex-integrante da Executiva Nacional do PFL.