Da Folha de São Paulo
O presidente Michel Temer errou ao subestimar os protestos contra ele e seu governo durante entrevista na China, quando disse que as manifestações no Brasil eram coisa de um grupo de 40, 50, 100 pessoas. Na avaliação de sua equipe, Temer escorregou e transmitiu um sentimento de soberba, fugindo à sua característica de não menosprezar adversários mesmo em situações de conflito.
Ao dar as declarações durante sua passagem pela China, Temer até procurou dizer que seu governo não é contra manifestações nas ruas, mesmo as que têm sua administração como alvo. Criticou a ação de “baderneiros”, mas acabou escorregando ao dizer que os protestos estavam sendo feitos por uma minoria de 40, 50, 100 pessoas.
O escorregão do presidente é atribuído a avaliações apressadas feitas pelos aliados que integram sua comitiva no giro chinês, quando participou da reunião do G-20 (grupo das maiores economias do mundo).
Uma tentativa de conserto da falha já foi ensaiada ainda na China. Temer voltou ao Brasil sem dar novas entrevistas sobre o tema, mas seu ministro Henrique Meirelles (Fazenda) buscou contextualizar a fala do chefe. Meirelles reconheceu o “número bastante substancial de pessoas” nas ruas, mas disse que “já tivemos manifestações muito maiores”.
Segundo assessores de Temer, esta era sua intenção. Dizer que as manifestações que estavam ocorrendo logo após o impeachment não estavam reunindo grande grupo de pessoas nas ruas, diante de outros protestos realizados no país recentemente.
O resultado, segundo avaliação do Palácio do Planalto, é que a fala de Temer acabou servindo como estímulo para os manifestantes irem às ruas neste domingo (04), principalmente em São Paulo e no Rio.