Delações da Odebrecht atrasam Lava Jato

O empenho da Operação Lava Jato para concluir as delações premiadas da Odebrecht adiou para depois de fevereiro as negociações de acordos já em andamento. Entre os réus, há presos que tratam de delações consideradas importantes para a força-tarefa, como o ex-presidente da OAS, José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, e o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque.

Prioridade zero para a Operação Lava Jato, a Odebrecht passou a protagonizar a atenção dos investigadores a partir de junho deste ano, quando o ex-presidente da construtora Marcelo Odebrecht começou a negociar o acordo de delação premiada. O auge da negociação, no entanto, ocorreu entre os dias 12 e 17 deste mês.

Nesse período, o Ministério Público Federal (MPF) organizou um mutirão para a coleta de depoimentos e negociações para firmar os acordos de 77 executivos da Odebrecht.

O trabalho tomou uma semana de dedicação exclusiva não apenas dos 13 procuradores da força-tarefa em Curitiba. Ao todo, foram acionados mais de cem procuradores em 30 cidades, que colheram cerca de 800 depoimentos.

O esforço tinha como objetivo entregar a documentação ao ministro-relator das ações da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, antes do dia 19, data em que começou o recesso de fim de ano do Judiciário.

O prazo foi cumprido, mas a custo da suspensão das demais negociações. “A Procuradoria estava até sem tempo para conversar com as outras empresas por causa disso”, afirmou o advogado Edward Rocha de Carvalho, que, na Lava Jato, defende réus ligados às construtoras Andrade Gutierrez e OAS.

Uma das principais negociações suspensas foi a de Léo Pinheiro. Condenado a mais de 35 anos de prisão, o executivo está em nova tratativa com o MPF depois de ver seu acordo ser cancelado, em agosto, após o vazamento do conteúdo. Contatado, o advogado José Luís de Oliveira Lima disse que não falaria sobre o assunto.

Janot quer fim de sigilo em delações da Odebrecht

Para evitar acusações de vazamento contra o Ministério Público, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pedirá o fim do sigilo sobre as 77 delações da Odebrecht.

“Em encontro com senadores e deputados federais, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, informou que irá pedir a retirada do sigilo das delações realizadas pelos executivos e ex-executivos da Odebrecht, após o conteúdo ser homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavaski”, informa reportagem de Erich Decat (leia aqui). “A intenção de Janot de pedir o retirada dos sigilos foi comunicada a integrantes da bancada do Espírito Santo, em reunião realizada na sede da PGR, em Brasília, na manhã da última quinta-feira, 15”, informa o jornalista.

As delações da Odebrecht podem derrubar Michel Temer e vários de seus ministros.

Temer foi acusado de pedir R$ 10 milhões, que teriam saído do departamento de propinas da empreiteira e pagos em dinheiro.

O chanceler José Serra foi acusado de receber R$ 23 milhões na Suíça.

A delação também atinge Eliseu Padilha, acusado de receber R$ 4 milhões em cash, e Moreira Franco, suspeito de receber propina em negócios ligados às concessões de aeroportos.

A delação da Odebrecht também atinge outros articuladores do golpe de 2016, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG), acusado de ter despesas pessoas pagas pela Odebrecht, por meio de seu marqueteiro.

O pedido será analisado pelo ministro Teori Zavascki, que prometeu trabalhar durante o recesso para dar conta do volume de processos.

Após delações, futuro do governo Temer é incerto

 Folha de S.Paulo

Bateu o medo na equipe do presidente Michel Temer. Ninguém vai admitir publicamente, mas reservadamente já se fala até no risco de a gestão do peemedebista sucumbir e não chegar ao fim.

A piora acentuada na avaliação do governo captada pelo Datafolha e o primeiro aperitivo do que será a delação da Odebrecht jogaram o Palácio do Planalto num mar de total incertezas sobre seu futuro.

Diante da apreensão que se instalou no seu time, Temer pede sangue frio para ditar os próximos passos. Reações precipitadas passariam a imagem de desespero num cenário complexo e incerto.

Mas também não dá para ficar parado. A ordem presidencial é puxar o PSDB para a equipe do Planalto e lançar medidas na área econômica.

Sobre a queda forte na popularidade, ela já era esperada pelo governo Temer. A economia não reagiu como desejado, fazendo a população prever até que a inflação vá subir quando ela está caindo.

E, desde novembro, foram crises atrás de crises, num ritmo tão frenético que não dava nem tempo para respirar. Tudo sem que o governo conseguisse sair das cordas, mesmo em dias de notícias positivas, ofuscadas por prisões, quebra-quebras, quedas de ministros e previsões pessimistas sobre a volta do crescimento. Que só virá em 2017.

Enfim, o governo demorou a reagir e terá de fazê-lo num clima em que a maioria da população (63%), segundo o Datafolha, diz preferir que Temer renuncie para termos eleições diretas e pôr fim às crises.

Pior. O clima vai ficar mais tenso. Se a delação de um diretor já provocou um tsunami na política, que tipo de terremoto virá quando as revelações de pai e filho, Emílio e Marcelo Odebrecht, vierem a público?

A favor do presidente, se é que dá para dizer isto neste momento, está o fato de que 99,9% dos políticos, de todos os partidos, estão na mira da Lava Jato. Todo mundo está sob risco. Não só ele. O modelo ruiu.

Temer quer barrar delações com pacote econômico

O Globo 

Como forma de reagir às denúncias da Odebrecht, o presidente Michel Temer decidiu acelerar o anúncio do mini pacote econômica numa tentativa de retomar o crescimento e tentar escapar do foco da crise que arrastou o seu governo e a cúpula do PMDB para o centro da operação Lava-Jato.

O líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso, chegou a anunciar, deixando o Jaburu, que haveria um encontro ainda hoje com a equipe econômica. Ele falou, inclusive, em possibilidade de anúncio neste domingo, mas foi desautorizado pelo Palácio do Planalto.

– As medidas de estímulo à economia já estão há mais de uma semana sendo estudadas pelo Ministério da Fazenda e pelo Planejamento. Essas medidas serão anunciadas quando estiverem prontas, isso não será hoje – afirmou um auxiliar do presidente Michel Temer.

Preocupado, Temer vai aguardar efeito das delações

Estadão conteúdo

O presidente Michel Temer reagiuaos vazamentos da delação do ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho com “preocupação” e sem “ingenuidade”. A ordem no Planalto, entretanto, é evitar muitos comentários, reforçar que as delações precisam se comprovar e que o governo precisa “continuar trabalhando” pelo País. Interlocutores do presidente admitem, contudo, que “os efeitos disso precisam ser observados” e que a Lava Jato sempre foi e continua sendo um fator “imponderável”.

O foco do presidente nessas últimas semanas de trabalho no Congresso será garantir a aprovação da PEC do Teto de Gastos no segundo turno no Senado, prevista para o próximo dia 13, e o andamento da Reforma da Previdência nas comissões na Câmara. Com isso, espera-se que Temer consiga emplacar algumas agendas positivas, para tirar o foco da crise. A equipe econômica – que tem sido alvo de críticas – também trabalha para lançar novas medidas de estímulo. “O presidente diz que não se pode falar em crise, e é preciso trabalhar. É isso que o governo está tentando fazer”, disse um auxiliar.

Serra está nas delações da OAS e Odebrecht

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (PSDB-MG), não é o único presidenciável tucano que pode vir a ser abatido por delações premiadas de empreiteiros (leia aqui sobre o caso Aécio). O chanceler interino José Serra, que também sonha com a presidência da República, está sendo delatado por Léo Pinheiro, da OAS, e Marcelo Odebrecht.

As informações foram publicadas na coluna de Lauro Jardim, mas tratadas com pouco destaque pelo jornal O Globo.

Confira, abaixo, a nota de Jardim, com a resposta de Serra:

José Serra aparece em delações da Odebrecht e da OAS

José Serra já sabe que terá um segundo semestre de cão. Seus problemas nada têm a ver com Nicolás Maduro ou qualquer outro bolivariano, mas com a Lava-Jato.

Serra aparece nas duas megadelações que estão sendo negociadas, as da Odebrecht e OAS. As duas empreiteiras revelarão histórias de propinas em obras públicas nos tempos em que Serra era governador de São Paulo, entre 2007 e 2010.

No caso da OAS, a história a ser relatada gira em torno de uma propina negociada (e paga) diretamente entre Léo Pinheiro, sócio e ex-presidente da empreiteira, e uma pessoa muito próxima de Serra, que dizia falar em nome do então governador.

O rolo com a Odebrecht é relativo ao Rodoanel, a maior obra viária de São Paulo.

A Odebrecht promete detalhar a propina que teria dado a Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, o controverso ex-diretor da empresa que administrava a construção de rodovias no estado.

José Serra dá uma resposta sucinta, sobre o conteúdo das delações: “Não cometi nenhuma irregularidade, tampouco autorizei terceiros a falar em meu nome”.