“Economia será o ponto mais fraco de Dilma nestas eleições”

Maurício AssueroPor Pedro Augusto, especial para o Blog

O guia eleitoral deverá ser iniciado nas emissoras de tv e rádio nesta terça-feira (19). Até o dia 2 de outubro, os eleitores terão oportunidade de acompanhar as principais propostas dos candidatos à presidência. Dentre os aspectos que deverão ser mais abordados pelos postulantes está o econômico. Em entrevista concedida ao Blog do Wagner Gil, o economista e colunista Maurício Assuero avaliou o atual momento financeiro do país bem como ainda opinou sobre os desafios e os problemas que o novo governante, em sua continuidade ou não, terá pela frente tão logo se inicie 2015.

Blog do Wagner Gil – Não só através de números, mas também no próprio dia a dia da população já é perceptível notar que o Brasil não vem atravessando um bom momento econômico. Essa desaceleração financeira pode influenciar na reeleição da presidenta Dilma?

Maurício Assuero – Vamos chamar de desaceleração econômica, porque esta engloba, inclusive os aspectos financeiros. Quem acompanha o noticiário está informado que todas as expectativas de crescimento econômico brasileiro para 2014 foram, gradativamente, sendo reduzidas pelo Banco Central. A última previsão é de que teremos um crescimento na ordem de 0,80%. Então, se considerarmos a junção de crescimento baixo, inflação acima da meta governamental, desemprego com tendência de alta, não tem porque não dizer que a economia será o ponto mais fraco da presidenta Dilma nestas eleições. Acredito que ela não tem argumentos para fazer o povo acreditar que mais quatro anos com ela será melhor. A oposição tem usado, inclusive em vários momentos, a situação econômica atual e isso terá influência na eleição. O tamanho dessa influência vai depender do grau de conscientização do eleitor.  

BWG – Que problemas e desafios o novo governo, em sua continuidade ou não, deverá enfrentar tão logo se inicie 2015?

MA – O novo governo vai ter que se desdobrar para fazer o país voltar a crescer, para manter a inflação sob controle. O problema é que o cenário não se mostra muito favorável. Precisamos de imediato controlar gastos para colocar a dívida pública num percentual aceitável do PIB e isso não será feito num ano de eleição. Assim, vamos entrar em 2015 com uma herança econômica terrível. Temos que resolver a questão dos empréstimos às geradoras de energia e isso significa uma conta na ordem de US$ 12 bilhões que será paga pela população. A Petrobras não vai aguentar por muito tempo o preço da gasolina numa defasagem tão expressiva em relação ao mercado internacional, então em algum momento – após eleição – esse aumento virá e vai afetar tudo, vai aumentar a inflação. Na verdade o governo não tem um problema novo para resolver: possui os problemas mal resolvidos que persistem, que teimam em continuar. Outra questão precisa ser tratada é a demanda social (sem teto, sem terra, sem emprego, etc). Alguns desses movimentos foram extremamente valorizados no governo atual, mudando o governo como ficará esta relação? Não mudando, as coisas serão da forma como vemos hoje?

BWG – Se o senhor tivesse de dar algumas dicas para o novo governante do país, em sua continuidade ou não, quais seriam?

MA – No meu entender o governo precisa urgentemente olhar o problema da Petrobras que está entrando num poço sem fim e o problema das empresas do sistema Eletrobras. Estamos falando de produtos importantes para o desenvolvimento de qualquer economia. Trabalharia mais as parcerias público-privadas, investiria (sem não tiver dinheiro, traga parceiros) em pesquisa e desenvolvimento, principalmente em áreas prioritárias como tecnologia. A questão da agricultura é fundamental pelo que este setor representa na economia e que, até o momento, não teve o incentivo devido para implantar políticas. Deixaria o Banco Central independente para que a política econômica não ficasse à mercê do interesse político. Chamaria a sociedade para discutir a reforma política e a reforma previdenciária, porque há um envelhecimento natural da população para o qual nós não fomos preparados.