27º FETEAG, que começa no próximo dia 14 e segue até 29 deste mês, provoca as cidades de Caruaru e Recife a partir da africanidade

Caruaru e novamente o Recife, quase que simultaneamente e sempre com entrada franca, vão poder apreciar teatro da melhor qualidade, e de caráter internacional, tendo como norte o tema da “Africanidade”. O 27º FETEAG (Festival de Teatro do Agreste), realizado pelo grupo Teatro Experimental de Arte (TEA), vai acontecer nas duas cidades, de 14 e 29 deste mês de outubro, oferecendo espetáculos de Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Alagoas e São Paulo, mas também provocações cênicas que chegam da Alemanha, Suíça, Itália e, especialmente, da África. A programação, totalmente gratuita e também contando com palestra, workshop, debates, seminário e oficinas gratuitas, ocupará não só casas de espetáculos, mas também espaços completamente alternativos, como casas e apartamentos residenciais, salões e associações de moradores de bairros periféricos e de distritos da Zona Rural de Caruaru. Se em 2016 o Festival propôs para as escolhas da grade o tema “Corpos Fluídos”, abordando os limites entre teatro, dança e performance, desta vez, toda a relação cultural herdada por nós da África permeia esta 27ª edição.

Preconceitos, identidade, branquitude/negritude, ancestralidade e história são alguns dos assuntos em pauta nas peças e discussões programadas, como explica o produtor executivo do FETEAG, Fábio Pascoal, também à frente da curadoria do evento (aqui, junto a Marianne Consentino). “O tema deste ano, Africanidade, trata da herança cultural negra presente na nossa sociedade, como uma das bases da formação do Brasil como Nação. O evento busca abordar temas complexos como preconceito e identidade, através dos espetáculos selecionados e dos debates promovidos. Tudo vem na perspectiva de problematizar tais questões, pois primeiramente somos um festival de teatro. Queremos é romper ‘caixinhas’ e discutir, fugindo do patrulhamento ideológico”, lembra ele. A cada edição do Festival, um recorte temático curatorial específico é traçado, sempre apostando em questões contemporâneas. O racismo, claro, tem sido assunto mais do que significativo para estes tempos tão obscuros.

São 36 anos desde a primeira edição do FETEAG, em 1981, já que o Festival passou alguns anos sem poder ser realizado por falta de parcerias. Em 2017, o 27º FETEAG conta com patrocínio da Prefeitura de Caruaru, incentivo do Funcultura e apoio da Caixa Econômica Federal, Goethe Institut (Alemanha), Prohelvetia (Suíça), Institut François (França), SESC Pernambuco e Prefeitura do Recife. “Manter este festival é um ideal de vida que vai além da nossa vontade. E o que nos move é realmente a persistência, pois nada é fácil. Precisamos a cada edição começar do zero. Por isso levantamos a bandeira da criação de uma agenda de festivais para Pernambuco, pois é preciso reconhecer a importância deles na promoção da cultura no Estado”, lembra Fábio Pascoal.

Além de toda a programação ser gratuita, tanto no Recife quanto em Caruaru, alunos de escolas da rede municipal de ensino da capital do Agreste serão levados a apreciar as peças infantojuvenis da programação, na Mostra Estudantil de Espetáculos. O evento conta ainda com a Mostra Nacional/Internacional de Espetáculos Adultos (inclusive com sessões descentralizadas por bairros e Zona Rural de Caruaru), e um seminário sobre o tema Africanidades, Cultura e Resistência, que acontecerá em diversos espaços da cidade de Caruaru, além de palestra e de workshop na UFPE (Recife). Os ingressos para os espetáculos nas duas cidades devem ser retirados na bilheteria dos teatros a partir de 1h antes de cada sessão, mas é possível fazer reserva de entrada para a Mostra Profissional pelo site www.feteag.com.br. As inscrições para participar especificamente do espetáculo Brasil Em Casa: Home Visit Caruaru também devem ser feitas antecipadamente pelo site www.feteag.com.br.

FETEAG 2017

Resistir! Ao completar 36 anos de existência, nada mais coerente e oportuno do que falarmos de resistência. Resistir sempre, esse é o motivo de nossa fé, contra os modelos que nos encaixotam, que empobrecem as relações e que estimulam e sistematizam as segregações e os preconceitos. Vivemos tempos difíceis, em que o Brasil atravessa uma grande crise ética, política, financeira e social. Mas também um momento oportuno para se construir novas relações pautadas no respeito às diferenças e no reconhecimento histórico das desigualdades. Nesse contexto, o FETEAG apresenta em sua edição 2017 o tema “Africanidade”, em diálogo com as inquietações que mobilizam nossa sociedade. Pautar um assunto tão complexo e visceral como esse requer coragem para tocar em nossos próprios preconceitos e desafiar nossos limites de compreensão da dor do outro e de cada um. “Africanidade” também é uma reverência à ancestralidade presente na nossa formação, com toda a sua potência, beleza e alegria.

27º FETEAG (Festival de Teatro do Agreste) – PROGRAMAÇÃO

Atividades Formativas:

Oficinas

Dias 14 e 15 de outubro de 2017 (sábado e domingo), das 9 às 18h, no Museu da Fábrica Caroá – Espaço Cultural Tancredo Neves, em Caruaru

A Busca Pela Descoberta de Uma Ancestralidade Teatral

Com a atriz e arte-educadora Agri Melo (Recife/PE). Para até 30 alunos a partir dos 16 anos. A ideia é ampliar os estudos sobre a Matriz africana e sua relação com o teatro contemporâneo.

De 19 a 22 de outubro de 2017 (quinta-feira a domingo), das 13 às 18h, no Museu da Fábrica Caroá – Espaço Cultural Tancredo Neves, em Caruaru

Descobrindo a Estética do Oprimido

Com os atores e arte-educadores Wagner Montenegro e Andréa Veruska, do Coletivo NEXTO (Recife/PE). Para até 25 participantes maiores de 16 anos. A proposta é voltada para artistas, profissionais e graduandos, surdos e ouvintes, que atuam ou pretendem atuar no ensino das artes.

Inscrição para ambas, por carta de intenção, através do site www.feteag.com.br.

Palestra

Dia 17 de outubro de 2017 (terça-feira), às 15h, no Teatro Milton Baccarelli (CAC/UPFE), no Recife

Bate-papo sobre a trajetória artística e processos criativos de Faustin Linyekula (República Democrática do Congo) e François Moïse Bamba (Burkina Faso). Participação de alunos dos cursos de Teatro e Dança da UFPE e mediação do professor Doutor Luís Augusto Reis.

Workshop

Dias 18 e 19 de outubro de 2017 (quarta e quinta-feira), das 9 às 13h, no Teatro Milton Baccarelli (CAC/UPFE), no Recife

A Oralidade Como Base Educacional. Com François Moïse Bamba (Burkina Faso).

Seminário

Africanidades, Cultura e Resistência

De 23 a 27 de outubro de 2017 (segunda a sexta-feira), em Caruaru, sempre das 15 às 17h, com temáticas diferentes diariamente.

Dia 23 de outubro de 2017 (segunda-feira)

Tema: História da África: A História Negra Resiste

Local: Accacil (Academia Caruaruense de Cultura, Ciência e Letras)

Debatedores: Aristóteles Veloso (professor e Doutorando) e Joana Figueiredo (professora e secretária-adjunta da Secretaria Municipal de Políticas Para Mulheres)

Mediadora: Maria Patrícia da Silva (acadêmica de Direito e membro do Projeto Adoção de Presos da Asces Unitas)

Dia 24 de outubro de 2017 (terça-feira)

Tema: Brasil Afrodescendente: Os Direitos do Povo Negro e as Dívidas Históricas

Local: Auditório do Ministério Público

Debatedores: Anderson Carvalho (advogado e assessor ministerial) e Lucimary Passos (advogada e professora)

Mediadora: Joana Figueiredo (professora e secretária-adjunta da Secretaria de Políticas Para Mulheres)

Dia 25 de outubro de 2017 (quarta-feira)

Tema: Religiões de Matrizes Africanas: Ancestralidade e Resistência

Local: Colégio Municipal Álvaro Lins

Debatedores: Ekedy Layze D´Logun Edé (advogado e assessor da Igualdade Racial da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos da Prefeitura Municipal de Caruaru), Ivan Ty Àira (Babalorixá) e Huntó Reiner (Ogan)

Mediadora: Lucimary Passos (professora e advogada)

Dia 26 de outubro de 2017 (quinta-feira)

Tema: Afrodescendentes nas Mídias e nas Produções Artísticas

Local: Escola do SESI Caruaru

Debatedores: Chris Mendes (cantora e assessora de Promoção da Igualdade Racial da Secretaria de Políticas Para Mulheres da Prefeitura Municipal de Caruaru), Renata Araújo (jornalista e youtuber) e Raquel Santana (cantora e feminista negra)

Mediador: Gabriel Sá (cantor, ator e produtor cultural)

Dia 27 de outubro de 2017 (sexta-feira)

Tema: Lutas Contra o Racismo

Local: Escola Estadual Professora Maria Auxiliadora Liberato

Debatedores: Teresa Raquel (professora, pedagoga e pesquisadora da Lei 10.639/03 junto à SEDUC) e Michele Guerreiro (professora e Doutoranda)

Mediador: José Laércio Ramos (professor)

Espetáculos no Recife:

Dia 18 de outubro de 2017 (quarta-feira), às 20h, no Teatro Apolo

Black Off (Ntando Cele – África do Sul)*

*Com legenda em português.

Dia 19 de outubro de 2017 (quinta-feira), às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho

Le Cargo (A Carga) (Faustin Linyekula – República Democrática do Congo)

Dia 20 de outubro de 2017 (sexta-feira), às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho

Amêsa (Heloísa Jorge – Angola/Brasil)

Dia 21 de outubro de 2017 (sábado), às 18h, no Teatro Hermilo Borba Filho

Contes et Legendes du Burkina Faso (Contos e Lendas de Burkina Faso) (François Moïse Bamba – Burkina Faso)*

*Com tradução simultânea para o português por Laura Tamiana.

Dia 21 de outubro de 2017 (sábado), às 20h, no Teatro Apolo

Branco – O Cheiro do Lírio e do Formol (Alexandre Dal Farra e Janaína Leite – São Paulo/SP)

Espetáculos em Caruaru:

Dia 19 de outubro de 2017 (quinta-feira), às 20h, no Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru)

Amêsa (Heloísa Jorge – Angola/Brasil)

Dia 20 de outubro de 2017 (sexta-feira), às 20h, no Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru)

Black Off (Ntando Cele – África do Sul)*

*Com legenda em português

Dia 21 de outubro de 2017 (sábado), às 20h, no Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru)

Le Cargo (A Carga) (Faustin Linyekula – República Democrática do Congo)

Dia 22 de outubro de 2017 (domingo), às 16h, na Comunidade do Boi Tira-Teima

Contes et Legendes du Burkina Faso (Contos e Lendas de Burkina Faso) (François Moïse Bamba – Burkina Faso)*

*Com tradução simultânea para o português por Laura Tamiana.

Dia 22 de outubro de 2017 (domingo), às 20h, no Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru)

Branco – O Cheiro do Lírio e do Formol (Alexandre Dal Farra e Janaína Leite – São Paulo/SP)

Dia 23 de outubro de 2017 (segunda-feira), às 16h, no Marco Zero

Os Filhos do Céu e os Corações de Tambor (Coletivo Heteaçã e Universidade Federal de Alagoas/UFAL – Maceió/AL)

Dia 23 de outubro de 2017 (segunda-feira), às 18h, em residência divulgada aos participantes

Brasil Em Casa: Home Visit Caruaru (Rimini Protokoll – Alemanha/Brasil)

Dia 23 de outubro de 2017 (segunda-feira), às 20h, no Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru)

Olhos de Café Quente (Soraya Silva – Itália/Brasil)

Dia 24 de outubro de 2017 (terça-feira), às 10h, no Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru)

Aqui, Onde Nos Encontramos (Grupo Teatral Jovem Em Cena e SESC Santo Amaro – Recife/PE)*

*Debate após a sessão.

Dia 24 de outubro de 2017 (terça-feira), às 18h, em residência divulgada aos participantes

Brasil Em Casa: Home Visit Caruaru (Rimini Protokoll – Alemanha/Brasil)

Dia 24 de outubro de 2017 (terça-feira), às 19h, na Casa 76, Praça Central do Povoado de Riacho Doce

Olhos de Café Quente (Soraya Silva – Itália/Brasil)

Dia 24 de outubro de 2017 (terça-feira), às 20h, no Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru)

A Receita (O Poste Soluções Luminosas – Recife/PE)

Dia 25 de outubro de 2017 (quarta-feira), às 10h, no Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru)

Isadora, Um Espetáculo de Plagiocombinação (Curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Pernambuco – Recife/PE)*

*Debate após a sessão.

Dia 25 de outubro de 2017 (quarta-feira), às 18h, em residência divulgada aos participantes

Brasil Em Casa: Home Visit Caruaru (Rimini Protokoll – Alemanha/Brasil)

Dia 25 de outubro de 2017 (quarta-feira), às 19h, no Salão Paroquial, Praça Central do Povoado de Pau Santo

Olhos de Café Quente (Soraya Silva – Itália/Brasil)

Dia 25 de outubro de 2017 (quarta-feira), às 20h, no Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru)

Rosário (Felícia de Castro – Salvador/BA)

Dia 25 de outubro de 2017 (quarta-feira), às 22h, em residência divulgada aos participantes

Brasil Em Casa: Home Visit Caruaru (Rimini Protokoll – Alemanha/Brasil)

Dia 26 de outubro de 2017 (quinta-feira), às 10h, no Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru)

Jogos na Hora da Sesta (Curso Livre de Teatro e Teatro Experimental de Arte/TEA – Caruaru/PE)*

*Debate após a sessão.

Dia 26 de outubro de 2017 (quinta-feira), às 18h, em residência divulgada aos participantes

Brasil Em Casa: Home Visit Caruaru (Rimini Protokoll – Alemanha/Brasil)

Dia 26 de outubro de 2017 (quinta-feira), às 19h, na Associação dos Moradores do Bairro Agamenon (Av. Presidente Castelo Branco, 190, Agamenon)

Olhos de Café Quente (Soraya Silva – Itália/Brasil)

Dia 26 de outubro de 2017 (quinta-feira), às 20h, no Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru)

Isto Não é Uma Mulata (Mônica Santana – Salvador/BA)

Dia 27 de outubro de 2017 (sexta-feira), às 10h, no Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru)

E Agora, no Escuro? (Cia. de Teatro Exato e Exato Colégio & Curso – Caruaru/PE)*

*Debate após a sessão.

Dia 27 de outubro de 2017 (sexta-feira), às 19h, na Associação dos Moradores do Alto do Moura (Rua Mestre Vitalino, s/n, Alto do Moura)

Olhos de Café Quente (Soraya Silva – Itália/Brasil)

Dia 27 de outubro de 2017 (sexta-feira), às 20h, no Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru)

Luzir é Negro! (Teatro de Fronteira – Recife/PE)*

*Espetáculo para até 100 pessoas, no palco do teatro.

Dia 28 de outubro de 2017 (sábado), às 18h, no Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru)

Salina – A Última Vértebra (Amok Teatro – Rio de Janeiro/RJ)

Dia 29 de outubro de 2017 (domingo), às 18h, no Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru)

Salina – A Última Vértebra (Amok Teatro – Rio de Janeiro/RJ)

DETALHES DOS ESPETÁCULOS:

Black Off (Ntando Cele – África do Sul)

O espetáculo, para maiores de 18 anos, aborda e enfrenta estereótipos racistas. Na primeira parte do espetáculo, a performer e atriz Ntando Cele assume o seu alter ego intitulado Bianca White, uma comediante sul-africana, viajante do mundo e filantropa, que julga saber tudo sobre negros no mundo inteiro e ainda quer ajudá-los a superar a sua “escuridão interior”. Na segunda parte, a atriz lida com estereótipos de mulheres negras e tenta descobrir como o público a vê. Com legendas em português, a provocante obra faz uma mistura de comédia stand-up, concerto de rock – há uma banda em cena – e performance. Este espetáculo é uma coprodução com o PRAIRIE, modelo de coprodução do Migros Culture Percentage para companhias de teatro e dança inovadoras da Suíça.

Le Cargo (A Carga) (Faustin Linyekula – República Democrática do Congo)

Durante a última década, Faustin Linyekula tem contado histórias do Congo, de corpos e destinos violentados e abusados, irremediavelmente marcados pela grande História. Mas, como, por um momento, deixar de lado as palavras para falar sobre a memória de um corpo? Nesse caminho, em busca de si próprio, o performer partiu em busca de movimentos que já não se dançam mais: danças proibidas pelo deus do milagre e do despertar espiritual. Este espetáculo circula com o apoio do programa TransARTE, do Institut Français, selo que desde 2012 promove a circulação de propostas artísticas híbridas, estendendo os limites da arte contemporânea.

Contes et Legendes du Burkina Faso (Contos e Lendas de Burkina Faso) (François Moïse Bamba – Burkina Faso)

François Moïse Bamba é contador de histórias de Burkina Faso, da casta dos ferreiros. Especialista na arte do ferro e fogo, ele aprendeu a narrar histórias com seu pai. Assim, vem coletando e escrevendo numerosos contos, já tendo publicado diversos livros, principalmente da etnia Sénoufo. O espetáculo, então, é um convite para viajar a Burkina Faso, literalmente “terra dos homens íntegros”. Trata-se de uma descoberta dos povos desse país, em que se busca compartilhar suas culturas, suas histórias, suas crenças, seus valores, suas visões de mundo, para que haja um enriquecimento mútuo no respeito pelas nossas diferenças.

Amêsa (Heloísa Jorge – Angola/Brasil)

O espetáculo é uma vivência que tem como provocação base o texto do dramaturgo angolano José Mena Abrantes, “Amêsa ou A Canção do Desespero”. De forma poética, conta um século da história de Angola pela perspectiva do feminino. A memória da personagem Amêsa, com suas perdas e dores, traz para a cena símbolos essenciais da mitologia da mulher, ao mesmo tempo que representa questões de um coletivo atingido pela guerra. Heloísa Jorge, atriz natural de Angola, é radicada no Brasil desde os 12 anos e graduou-se em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia. O espetáculo conta com músicas do angolano Wyza Kendy.

Salina – A Última Vértebra (Amok Teatro – Rio de Janeiro/RJ)

O espetáculo propõe um mergulho numa África ancestral para contar uma história universal e atemporal, inspirada em tradições afro-brasileiras (em particular o congado e o candomblé), mas composta por elementos vindos de diferentes civilizações, da tragédia grega à epopeia africana. O resultado é uma incursão no tema do ódio e do perdão. O texto de Laurent Gaudé, com direção dos premiados Ana Teixeira e Stephane Brodt e a participação de dez atores no elenco, nos traz uma África imaginária através de uma obra profundamente humana.

Branco – O Cheiro do Lírio e do Formol (Alexandre Dal Farra e Janaína Leite – São Paulo/SP)

Nesta polêmica obra do dramaturgo Alexandre Dal Farra, com direção dele e de Janaína Leite, uma família de classe média, formada por um pai, um filho e uma tia, vive um cotidiano comum, até que alguns acontecimentos externos os forçam a terem que lidar com o que existe do lado de fora da casa. A montagem, que estreou na MITsp (Mostra Internacional de Teatro de São Paulo) com enorme repercussão, procura jogar um olhar crítico do branco sobre si mesmo, desconstruindo-se enquanto reprodutor do racismo naturalizado e estrutural. Montagem indicada para maiores de 18 anos.

Brasil Em Casa: Home Visit Caruaru (Rimini Protokoll – Alemanha/Brasil)

Este é um espetáculo/performance que cabe num apartamento, na intimidade da nossa casa e questiona o que é a república: uma coligação de estados, uma identidade cultural ou uma forma de coabitação? Políticos costumam responder que república é uma ideia em mudança constante, mas para o cidadão comum esta verdade abstrata talvez represente pouco. O grupo Rimini Protokoll aceitou o desafio de fazer caber este conceito político na realidade concreta de um apartamento. Numa sala de estar de uma casa particular, 15 pessoas tomam parte de uma performance/jogo que entrelaça histórias pessoais com os mecanismos políticos do Brasil. Afinal, quanta democracia temos em nós? Cada performance acontecerá em diferentes residências de Caruaru. O FETEAG oferecerá transporte gratuito, ida e volta, partindo do Shopping Difusora até o local cênico. Inscrições pelo site www.feteag.com.br. Este projeto foi viabilizado a partir da parceria com os festivais Tempo_Festival (RJ) e FIAC (BA), e do apoio do Centro Cultural Brasil Alemanha, Goethe-Institut Brasil e do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha.

Isto Não é Uma Mulata (Mônica Santana – Salvador/BA)

Partindo da famosa frase proferida por Gilberto Freyre, “Branca para casar. Mulata para fornicar. Negra para trabalhar”, a artista baiana tece esta obra que questiona as formas de representação da mulher negra: seja a mestiça hipersexualizada, de formas exuberantes e sempre disponível para o sexo, seja a negra escura para o serviço braçal, tendo como ponto de partida a ironia da imagem canonizada da mulher negra nas artes e na mídia, visitando diferentes referências e criando novos discursos. Trata-se de um projeto crítico de multilinguagens, com direção, dramaturgia e atuação da própria Mônica Santana.

Olhos de Café Quente (Soraya Silva – Itália/Brasil)

Partindo de obras das autoras Carolina Maria de Jesus, escritora, catadora de papel, habitante da extinta favela do Canindé, e Elisa Lucinda, poetisa responsável por uma literatura avassaladoramente feminina, o espetáculo prioriza a cena vazia de elementos para encontrar a defesa de uma heroína, “mulher, negra e pobre”, no corpo da atriz Soraya Silva. Ela é a porta-voz destes tantos sobreviventes frente aos preconceitos diários, camuflados e perigosos, que a afiada lâmina social corta e fere, por vezes, fatalmente. Direção de Quiercles Santana.

A Receita (O Poste Soluções Luminosas – Recife/PE)

Obra tragicômica que descreve o universo de uma mulher num processo de libertação. Como num acerto de contas, a atriz Naná Sodré interpreta uma anônima que confessa como passou a maior parte do tempo temperando suas ilusões com sal, alho e coentro com cebolinha, até

mesmo em momentos desatinados. O espetáculo revela as situações vividas no ambiente domiciliar/social de várias mulheres pelo mundo afora. Morte, violência, loucura e a intolerância são narradas neste solo pautado numa dramaturgia de Samuel Santos, também diretor da proposta, antenado com as questões de uma personagem no seu processo limite.

Luzir é Negro! (Teatro de Fronteira – Recife/PE)

O espetáculo revela dilemas do racismo e como o preconceito afeta a vida social. Sob direção de Rodrigo Dourado, a peça traz como elemento simbólico as memórias familiares do ator Marconi Bispo, da sua trajetória no teatro e como filho-de-santo/praticante do candomblé, além de discorrer sobre o negro e o debate público referente às questões raciais contemporâneas. A dramaturgia transita, então, entre o passado e o presente muito recente, o público e o privado, a ficção e a realidade, por vezes dura, mas divertidamente crítica.

Rosário (Felícia de Castro – Salvador/BA)

Inspirada na simbologia da Coroação de Reis Negros – sempre viva nos Congados mineiros e em outros folguedos nacionais –, a peça é interpretada pela atriz e pesquisadora baiana Felícia de Castro e nos oferece uma experiência cênica baseada na formação da identidade brasileira sob o aspecto do feminino. O texto revela o que representou o encontro de culturas diversas e a religiosidade como estratégia de resistência e sobrevivência numa realidade hostil. Através de canções e explosões de textos, a atriz traz à cena um rosário de mulheres, como que reunidas em uma única prece. O repertório textual é pautado em poemas autorais e em textos sobre a invasão ao Caldeirão da Santa Cruz do Deserto (CE), em canções do Reisado de Congo (CE), em corridos de Capoeira, em orações do catolicismo popular, e no livro “Viva o Povo Brasileiro!”, de João Ubaldo Ribeiro. Direção de Demian Reis.

Os Filhos do Céu e os Corações de Tambor (Coletivo Heteaçã e Universidade Federal de Alagoas/UFAL – Maceió/AL)

Histórias, viagens e destino acompanham nossos três narradores, que guiados pelo que contam os filhos do céu procuram eco e escuta onde moram os corações de tambor. Este espetáculo de narrativas na rua, com direção de Toni Edson, reúne contos de tradição oral africana com canções originais que provocam o imaginário dos transeuntes. Melhor emprestar os ouvidos para navegar…

Aqui, Onde Nos Encontramos (Grupo Teatral Jovem Em Cena e SESC Santo Amaro – Recife/PE)

Nesta obra infantojuvenil inédita do dramaturgo Luiz Felipe Botelho concebida a partir de oficina com o próprio elenco, os irmãos Kaline, Radijalson e Renata buscam um abrigo seguro para se protegerem do caos que está no mundo e acabam encontrando um local abandonado. Lá, onde tudo parece ganhar vida, vários encontros acontecem. Nessa caminhada é preciso ficar atento às surpresas que estão por vir e se permitir viver essa aventura com novos seres, habitantes daquele espaço essencialmente teatral. Direção de Flávio Santos.

Isadora, Um Espetáculo de Plagiocombinação (Curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Pernambuco – Recife/PE)

Um divertido experimento cênico, com criação coletiva e direção de Marianne Consentino, resultante da disciplina “Consciência Corporal e Expressão Artística”, do Curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Pernambuco. Descaradamente inspirado no espetáculo “Gala”, de Jerome Bel, a proposta mistura referências diversas da dança, do teatro e da cultura popular na busca pela expressão da singularidade de cada corpo.

Jogos na Hora da Sesta (Curso Livre de Teatro e Teatro Experimental de Arte/TEA – Caruaru/PE)

Indicada para maiores de 14 anos, a obra é uma estranha brincadeira de crianças, sem risos, sem graça e revela jogos que nos alertam para o quanto os adultos e a sociedade influenciam decisivamente na formação das crianças. É este universo violento e adultamente deturpado que a autora Roma Mathieu aborda nesta peça dirigida por Pedro Henrique e Rosbergg Alexander. Ditadura, bullying, preconceito, sexualidade e intolerância são fomentados como brincadeiras banais nesta montagem. A sociedade e a televisão assumem as rédeas de nosso futuro, e então, desde cedo, criamos alguns pequenos monstros. Até onde? Até quando?

E Agora, no Escuro? (Cia. de Teatro Exato e Exato Colégio & Curso – Caruaru/PE)

No enredo desta peça para todas as idades, escrita e dirigida por Gabriel Sá, Ziggy, Frida, Lili, Nara e Pingo são três crianças que ficam presas em uma casa em um dia de chuva e falta de energia elétrica. Elas resolvem, então, inventar brincadeiras para espantar o medo. Longe de toda tecnologia, a peça faz um resgate de brincadeiras antigas e uma conscientização de como a tecnologia pode ser muito útil ao homem, mas, que pode também afastá-los cada vez mais.

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