Por Marcelo Rodrigues
Tradicionalmente conhecido pela produção de cana-de-açúcar, o E
stado nordestino agora se prepara para liderar uma inovação tecnológica que promete transformar o setor naval brasileiro: a fabricação de e-metanol, um combustível limpo destinado ao transporte marítimo.
O e-metanol, também chamado de “metanol verde”, representa uma alternativa sustentável aos combustíveis tradicionais utilizados por navios. Sua produção envolve uma tecnologia avançada que combina hidrogênio verde – obtido através de fontes renováveis como energia solar e eólica – com dióxido de carbono de origem biogênica.
Este processo resulta em um combustível que pode reduzir significativamente as emissões de carbono no transporte marítimo mundial.
A importância desta inovação não pode ser subestimada. O setor naval é responsável por uma parcela considerável das emissões globais de gases de efeito estufa, e a transição para combustíveis limpos como o e-metanol representa um passo fundamental na luta contra as mudanças climáticas.
A materialização deste projeto acontece por intermédio de uma parceria estratégica entre o Governo de Pernambuco e a European Energy, empresa dinamarquesa especializada em soluções energéticas sustentáveis. O investimento planejado de R$ 2 bilhões demonstra a confiança internacional no potencial pernambucano para liderar a transição energética no Brasil.
A planta industrial ocupará dez hectares no Complexo Industrial e Portuário de Suape, aproveitando a posição geográfica privilegiada do estado e a infraestrutura portuária já consolidada. A escolha de Suape não foi casual: o porto representa o sexto mais movimentado do país, oferecendo as condições ideais para a distribuição do e-metanol produzido.
Os números relacionados à geração de empregos são impressionantes. O projeto prevê a criação de 250 postos de trabalho diretos e mais 15 mil vagas indiretas, demonstrando o potencial multiplicador do investimento na economia local.
Quando estiver operando plenamente, a planta manterá 40 posições fixas de trabalho, com efeitos positivos em toda a cadeia de fornecedores regionais.
O cronograma estabelecido é ambicioso, mas realista. As obras começarão em outubro de 2025, após a apresentação do projeto básico em abril do mesmo ano. A unidade iniciará suas operações em julho de 2028, coincidindo com a crescente demanda mundial por combustíveis sustentáveis no setor naval.
A European Energy traz para Pernambuco mais de duas décadas de experiência no desenvolvimento de projetos de energia renovável. Fundada em 2004, a empresa possui 23 escritórios distribuídos em 18 países e emprega 813 colaboradores de 43 nacionalidades diferentes. No Brasil, já possui projetos operacionais no Nordeste, incluindo complexos eólicos em Pernambuco e plantas solares na Paraíba.
A empresa seguirá em Suape o mesmo modelo utilizado em sua moderna planta na Dinamarca, um dos países mais sustentáveis da Europa. Esta transferência de tecnologia representa uma oportunidade única para o Brasil se posicionar na vanguarda da transição energética mundial.
O projeto ganha ainda mais relevância considerando a parceria já estabelecida entre a European Energy e a A. P. Moller-Maersk, gigante dinamarquesa do transporte marítimo.
Esta aliança garante um mercado consumidor para o e-metanol produzido em Suape, criando um ciclo virtuoso de produção e consumo sustentável.
A estimativa de movimentação anual de 100 mil toneladas de e-metanol no atracadouro pernambucano posiciona o estado como protagonista na descarbonização do transporte marítimo nacional e internacional.
O projeto de produção de e-metanol em Pernambuco representa muito mais que um investimento industrial. É a consolidação de uma visão de futuro que combina tradição econômica com inovação tecnológica, aproveitando os recursos naturais abundantes do Estado – especialmente o potencial solar e eólico – para criar uma nova fronteira econômica sustentável.
Este empreendimento coloca Pernambuco no mapa mundial da transição energética, demonstrando que o Brasil possui todas as condições necessárias para liderar a revolução dos combustíveis limpos no século XXI.
Marcelo Rodrigues é advogado especialista em Direito Ambiental e Urbanístico.