Por MENELAU JÚNIOR
A jornalista Raquel Sheherazade esteve, mais uma vez, no meio de uma polêmica. No “Jornal do SBT” de 4 de fevereiro, Raquel comentou o caso de um “marginalzinho” de 16 anos que foi preso pela população e amarrado nu a um poste.
Nas redes sociais, não se fala em outra coisa. Muita gente apoiando a polêmica opinião de Raquel, e muita gente condenando-a sob a alegação de que ela defendeu a “justiça com as próprias mãos”, ou seja, fez apologia ao crime.
É preciso olhar com cautela o texto da jornalista. Ela disse que “num país que ostenta incríveis 26 assassinatos a cada 100 mil habitantes, arquiva mais de 80% de inquéritos de homicídio e sofre de violência endêmica, a atitude dos ‘vingadores’ é até compreensível”.
“Compreensível” não é, em nenhuma acepção, “aceitável”; antes, significa “aquilo que pode ser explicado”. Em artigo publicado no dia 11 na Folha de São Paulo, a própria Raquel explicou isso. Os apressadinhos também nem observaram que a própria Raquel chamou os cidadãos que amarraram o bandido de “vingadores”, ou seja, ela reconhece que o que foi feito foi uma espécie de vingança. “Vingança” não é algo bom, mas pode ser explicada, certo? Se um pai, por exemplo, mata um homem porque este estuprou e matou sua filha, o assassinato não é aceitável – e é crime, óbvio – , mas é “explicável”. E Raquel explica a atitude da população: ela estaria cansada de ver a impunidade (80% dos homicídios nunca são esclarecidos) e revoltada com um “Estado omisso”, uma “polícia desmoralizada”, uma “Justiça falha”.
Raquel ainda classifica a atitude da população como “legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite”. E, com um riso irônico, critica os defensores dos direitos humanos propondo uma campanha: “Façam um favor ao Brasil. Adote um bandido!” A ironia, claro, revoltou os “defensores dos direitos humanos”. Curiosamente, a morte de um cinegrafista da Band não gerou a mesma comoção quanto o “marginalzinho” amarrado ao poste…
A questão é a seguinte: Raquel Sheherazade disse o que a maioria dos brasileiros pensa e acha feio falar. Raquel Sheherazade disse que, se estamos partindo para a ‘justiça com as próprias mãos”, isso é reflexo da inércia do Estado, que não consegue pôr um freio na violência desembestada. Raquel Sheherazade disse que muitos defendem com unhas, dentes e ideologias os direitos dos bandidos, mas se calam diante dos casos de pais de família mortos, mulheres estupradas e crianças violentadas.
Raquel Sheherazade não é inocente, assim como também não somos. Entretanto, não deixemos que nossas ideologias nos impeçam de discutir o que realmente interessa: POR QUE, CADA VEZ MAIS, AS PESSOAS ESTÃO PARTINDO PARA A VINGANÇA COLETIVA? O que a violência dos cidadãos constantemente violados quer dizer ao Estado brasileiro, que assiste a um homicídio a cada 15 minutos?
Repito: desviar a atenção e crucificar Raquel é muito fácil – e até “politicamente correto”. Mas o que está em discussão não é isso. É saber POR QUE, CADA VEZ MAIS, AS PESSOAS ESTÃO PARTINDO PARA A VINGANÇA COLETIVA…
O vídeo pode ser visto aqui.
Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br