OPINIÃO: O mérito de Almério

Por MENELAU JÚNIOR

Caruaru tem sido brindada, vez ou outra, com bons álbuns de artistas locais. Curiosamente, quase nada de forró – numa terra que se intitula a Capital desse ritmo. Recomendo uma audição cuidadosa do álbum “Almério”, do artista homônimo.

Lançado no fim de 2013, o trabalho conta com 14 faixas, sendo nove músicas autorais e outras cinco composições de grandes nomes regionais, a exemplo de Valdir Santos, Isabela Moraes, Vertin Moura, Ícaro Tenório, Luciano Queiroga e Lula Queiroga. É possível observar influências da musicalidade local, mas nem de longe o trabalho de Almério pode ser classificado como regional. Com influências de vários artistas da MPB, Almério trouxe para nós um disco bonito, envolvente e suave.

A excelente “A busca” abre o álbum, com uma levada que lembra Djavan nos primeiros acordes. Mas é na parceria com Isabela Moraes, em “São João do Carneirinho”, que temos um dos melhores momentos do disco. A quarta faixa, “Além-homem”, é daquelas canções para ouvir à beira-mar, num fim de tarde. É uma linda canção de amor, sem a pieguice que normalmente acompanha esse tipo de composição.

Em “Não há muito o que fazer”, Almério fala com criatividade sobre dor, solidão e desolação de forma muito interessante. A ironia dos versos “Quando a bebida esgota/ e a sobriedade volta/ Sinceramente não há muito o que fazer” foi uma excelente sacada. Em “Minha casa de você”, quase todas as estrofes começam com “Não quero mais ficar em casa”, para terminar com a desconcertante declaração “Foi maldade preencher/ Minha casa de você/ Depois ir embora”.

Mas o álbum não é só lirismo. Em “Quantos homens têm o mesmo nome”, Almério escreve sobre um ex-mecânico que passou 19 anos preso por engano.

Em entrevista recente, Almério disse que “fez um disco para o mundo” e que pensa em “levá-lo para outros lugares e expandir o trabalho”, pois não quer “olhar para trás um dia e perceber o erro de não ter tentado. Muito menos olhar para o espelho e enxergar um músico que não deu certo”. Este primeiro álbum é um bom cartão de visitas. Precisa melhorar algo? Claro! Quem não precisa? O sotaque excessivamente marcante pode irritar pessoas menos tolerantes ao jeito nordestino de falar. Se quiser voar mais alto, Almério vai precisar amenizar seu sotaque, deixá-lo menos identitário. Talento, voz e boas composições ele tem de sobra. Quem gosta de boa música deve conhecer o trabalho dele.

Até a próxima semana.

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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