Cerimônia da entrega dos títulos do Notório Saber da Cultura Afro Brasileira

A data mais importante do calendário negro brasileiro, o Dia da Consciência Negra, foi celebrada na noite desta quarta-feira (20), em Caruaru, com a entrega dos Títulos de Notório Saber da Cultura Afro Brasileira 2019. A cerimônia aconteceu no auditório do Museu do Barro onde foram homenageados com a entrega do título o remanescente quilombola Givaldo Felipe Cavalcanti, do Sítio Serra Verde, Zona Rural de Caruaru, o Ilê Axé Maroketu Yemanjá Ogunté, o Boi Nelore, o músico percussionista Kleber Ramos, Magão da Capoeira, Irmandade Elekô e o cantor Azulão, que foi representado pelo filho Azulinho. O encerramento foi com a apresentação de dança da Cia Ori.

O evento foi organizado pela Prefeitura de Caruaru, através da Fundação de Cultura e Turismo e voltado para povos e comunidades tradicionais de matriz africana e afro-indígena, ativistas no movimento negro e sociedade civil. A cerimônia fez parte da programação da Semana Cultural Afro Brasileira, que acontece entre os dias 19 e 24 deste mês, e contou com apoio do Coletivo Afro Brasileiro Bará Àsá, do Movimento Timbal na Vêia, Bará Cultural Produções, Ilê Axé Maroketu Yemanjá Ogunté, Emoriô Stúdio, Cia Ori, Grupo Raça Nobre e ASFOC.

“Ser reconhecido por um trabalho que ainda está começando é muito gratificante e o que a gente espera com esse prêmio é se consolidar cada vez mais. É muito importante ter um prêmio da cultura afro brasileira em Caruaru, que reconheça os espaços, a negritude que está fazendo acontecer para ela própria. Então a gente tem muito a agradecer pelo reconhecimento e nos incentiva, a cada vez mais, mostrar serviço e unificar os saberes das mulheres para as mulheres de terreiro”, declarou Natália Gomes, representante da Irmandade Elekô.

“O povo brasileiro e branco, é preto, é cafuzo, é mameluco. O povo brasileiro é um povo só. Então a importância do poder público reconhecer uma data como essa, que ainda precisa ter o Dia da Consciência Negra, é exatamente para que nós possamos adquirir cada vez mais consciência. Sem dúvida nenhuma, nós estamos ajudando a manter viva a chama da nação brasileira porque o Brasil somos todos nós”, destacou o presidente da Fundação de Cultura e Turismo de Caruaru, Rubens Júnior.

LISTA DOS HOMENAGEADOS

GIVALDO FELIPE CAVALCANTI

Givaldo Felipe Cavalcanti, popularmente conhecido como Gil, é líder comunitário, Presidente da Associação dos Produtores e Criadores Rurais de Serra Verde, zona rural de Caruaru – PE. Gil é remanescente Quilombola e luta juntamente com sua comunidade em busca do registro oficial de “Serra Verde como Comunidade Quilombola”.

BOI NELORE

Os Festejos de Boi tiveram origem no nordeste no século XVII, durante o Ciclo do Gado, quando o boi tinha grande importância simbólica e econômica. Na época, o animal era criado por colonizadores que faziam uso de mão de obra escrava. A lenda na qual se baseia o Bumba-meu-boi reflete bem essa organização social e econômica. Ela conta a história de um casal de escravos, Pai Francisco e Mãe Catirina. Grávida, Catirina começa a ter desejos por língua de boi. Para atender suas vontades, seu marido tem de matar o boi mais bonito de seu senhor. Percebendo a morte do animal, o dono da fazenda convoca curandeiros e pajés para ressuscitá-lo. Quando o boi volta à vida, toda a comunidade celebra. O Boi Nelore foi fundado em 2016, por Josimael de Almeida que começou através dos amigos com intuito de brincar em eventos de nossa cidade. O Boi Nelore é formado por cerca de 35 participantes e se apresenta em eventos culturais por toda região e ações da Prefeitura de Caruaru, relacionadas à cultura popular e afro-brasileira.

ILÊ AXÉ MAROKETU YEMANJÁ OGUNTÉ

O Ilê Axé Maroketu Yemanjá Ogunté, foi fundado há mais de 21 anos, sendo uma das casas mais atuantes na cultura religiosa de Caruaru – PE. O Ilê Axé Maroketu Yemanjá Ogunté realiza diversas festividades com intuito de preservar e propagar a religiosidade ligada a costumes afro – descendentes e Afro – Indígenas, como é o caso da Jurema Sagrada, que é uma manifestação religiosa, pernambucana com ênfase em nossos antepassados que trouxeram diversos conhecimentos e conviveram em quilombos e aldeias indígenas. Festividade para os Orixás Yemanjá, Ogun, Xangô, Oxum e Omolu, além da festa de Pretos Velhos, Pirão do Mestre Boiadeiro João do Laço, festa da Mestra Ritinha da Rainha das Almas, compõe o calendário anual de eventos realizados pelo terreiro. O Ilê Axé Maroketu Yemanjá Ogunté, sob liderança religiosa de Babalorixá Nenê de Yemanjá Ogunté, tem mais de 100 filhos de santo espalhados em Caruaru, diversas cidades de Pernambuco, Alagoas, São Paulo, e até em Milão – Itália.

GILVAN LOPES DA SILVA – MAGÃO DA CAPOEIRA

A capoeira ou capoeiragem é uma expressão cultural brasileira que mistura arte marcial, esporte, cultura popular, dança e música. Considera-se que a capoeira tenha surgido em fins do século XVI no Quilombo dos Palmares, por descendentes de escravizados africanos. A Roda de Capoeira foi registrada como bem cultural pelo IPHAN no ano de 2008, com base em inventário realizado nos Estados de Pernambuco, da Bahia e do Rio de Janeiro. E em novembro de 2014, recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Gilvan Lopes da Silva, natural de Caruaru, Pernambuco, iniciou na capoeira há 25 anos. Professor há cerca de 7 anos, Magão da Capoeira (como ele é conhecido) é líder da Escola de Capoeiragem, atendendo a diversos públicos, entre crianças, adolescentes e adultos. Magão da Capoeira desenvolve projetos sociais através da Capoeira, no município, particularmente no Monte do Bom Jesus e no Sítio Cacheira Seca – Zona Rural de Caruaru.

IRMANDADE ELEKÔ

A Irmandade Elekô é um grupo afro religioso, composto por mulheres de diversos terreiros da cidade de Caruaru – PE. Fundado em 25 de Julho de 2018, o grupo tem o objetivo de fortalecer as heranças da ancestralidade de matriz africana, bem como promover ações que unifiquem os saberes e a liderança das mulheres de axé.

KLEBER RAMOS

Músico autodidata e Ogan Alagbê de Terreiro de Candomblé, (para quem não sabe, o Ogan é o músico responsável pela percussão no terreiro, e sem ele, não tem a batucada), Kleber Moacir Silva Ramos, natural de Caruaru – PE, toca percussão profissionalmente desde os 13 anos, onde iniciou sua carreira na Banda da Escola Prof. Lisba. Com mais de 30 anos de carreira, Kleber Ramos já se apresentou e se apresenta com diversos artistas renomados, tais como: Dominguinhos, Petrúcio Amorim, Zélia Duncan, Alcimar Monteiro, Maciel Melo, Valdir Santos, Heleno dos 8 Baixos, Colibri Brasil, Renilda Cardoso, Barthô, Banda Versátil, Cheiro da terra, Tavares da Gaita, Jacinto Silva, Elifas Junior, Paulo Matricó, Humberto Bony, Jucélio Vivela, Jailson Rosseti, Erisson Porto, entre outros. Esteve em turnês pela Europa, onde participou de Festivais e gravou com bandas internacionais.

AZULÃO

Cantor e compositor, Francisco Bezerra de Lima, o Azulão, nasceu em 15 de junho de 1942, no sítio Taquara de Cima, município de Caruaru. Ainda criança, foi, com a família, morar no Centro da sua cidade. De família humilde, para sobreviver Azulão fez de tudo na vida: foi carregador de frete, vendedor de fósforo e picolé nos dias de feira. Começou cantar nos programas de calouros da extinta Rádio Difusora de Caruaru. Teve como influência em sua carreira de compositor os ídolos Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. O apelido Azulão teve origem em sua preferência em usar roupas de cor azul. Algumas músicas foram compostas por Azulão estão relacionadas às manifestações religiosas, pernambucanas com ênfase em nossos antepassados que trouxeram diversos conhecimentos e conviveram em quilombos e aldeias indígenas. Azulão tem duas dezenas de discos lançados e suas composições, a maioria nos ritmos regionais nordestinos, foram gravadas por grandes nomes da MBP, entre os quais Trio Nordestino, Marines, Genival Lacerda e Marinalva.

Foto: Jorge Farias

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