Artigo: A sutil arte de ligar a empatia

Por João Américo

Ajudar, tratar, dar, entregar, contribuir, alimentar, estender a mão, escutar, proteger, abraçar, acudir e cuidar, respeitar. Se você está vivo, é porque alguém, em algum momento da sua vida, fez alguma ou todas essas coisas, para e por você. Somos fruto do cuidado e do afeto de alguém, ou de muitas pessoas, nossos pais, familiares, cuidadores e amigos. Alguém parou de olhar para sua vida e seus interesses e, em algum momento, decidiu cuidar de mim e de você. E você ainda deve ser cuidado ou está cuidando de alguém nesse momento

Levando em consideração a premissa do cuidado, nunca foi tão importante, em tempos de pandemia, se importar e cuidar dos outros. A empatia é necessária e vital para a nossa sociedade. Ter a compreensão de que nossas necessidades estão interconectadas e até fundidas, indelevelmente, com o indivíduo a minha volta, é uma situação imposta pela pandemia, que revelou que não se pode ignorar, de uma forma o de outra. Não dá para ligar a indeferença para tudo o que nos cerca.

O comportamento do outro me influencia, e o meu influencia o do outro. Nesse momento drámatico de nossa existência, a solidareidade resvestida de empatia deve ser o norte para vencer a batalha da COVID-19. Os avisos foram dados. Se tentou, aqui e ali, manter a moral da causa em alta, mas perdemos a guerra, o inimigo venceu.

Essa cruzada contra o inimigo comum foi perdida, pois não conseguimos um nível de comprometimento estatal, cuidado mesmo, e por injunções conjunturais, sociais, econômicas, estruturais, nossa sociedade, em alguns nichos, não conseguiu ligar o botão da empatia, e em outros, a necessidade falou mais alto do que as medidas propostas. Desse modo, teremos que nos acustumar a viver com um inimigo, estamos dominados, rendidos e em alguns casos fomos abatidos por ele.

Temos que reconhecer: a COVID-19 venceu a batalha.

As mortes não causam tanto espanto como no começo, e o debate político, em algumas situações, falou mais alto do que salvar vidas. Sem um plano nacional, criou-se um salve-se quem puder. Medidas desarticuladas pelos Governadores e Prefeitos e uma falta de sintonia fina com a socidaedade, aliada à ausência de uma liderança nacional no esforço de guerra, nos trouxeram as marcas da doença e das mortes ao nosso cotididano

Quem são os culpados pela macabra marca de segundo país em em número de óbitos e infectados por coronavírus no mundo: o Presidente, o Governador, o Prefeito, eu, você, o rico industrial ou o pequeno comércio e a economia, ou simplesmente o colapso de uma teia intrincada de fatores, decisões e escolhas que pareciam aleatórias e individuais, e se tornaram coletivas.

O que faltou mesmo foi cuidado.

“De onde vem a indiferença temperada a ferro e fogo?”

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *