Pesquisa em Marte: 45 anos do lançamento da sonda Viking

O aeroshell Viking que protegeu o módulo de pouso durante sua entrada na atmosfera marciana.

O lançamento da sonda Viking 1, em 20 de agosto de 1975, há exatos 45 anos, marcou a primeira vez que um artefato da Terra pousou e fez experimentos em solo marciano. O evento fazia parte do Programa Viking, responsável por lançar outra sonda, a Viking 2, quase um mês depois. Ambas aterrissaram no ano seguinte, sendo responsáveis por coletar imagens, dados e realizar experimentos científicos no solo do planeta vermelho. Os aparelhos continuaram a transmitir informações para a Terra até 1982, quando um comando errado resultou na interrupção das comunicações com a primeira sonda lançada e última a ser desativada.

Lançamento da Viking 1
Lançamento da Viking 1 – Divulgação/Nasa

O legado da Viking possibilitou todo o desenvolvimento da exploração do planeta vermelho até aqui, tendo sido pioneira em vários aspectos. (Confira linha do tempo ao final do texto) O professor Alexandre Zabot, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ensina aos apaixonados pelas estrelas em todo o país a compreenderem os fenômenos astronômicos por meio do projeto de extensão Astrofísica para Todos. Ele observa que os experimentos realizados pelas sondas Viking naquela época foram importantes para a pesquisa do tema. “Todas seguiram mais ou menos a mesma sequência, com experimentos para detectar moléculas orgânicas, medidas de sismologia, da atmosfera; continuamos a fazer esse tipo de experimento; ela foi a precursora”, relata o professor. Ele ressalta que os aperfeiçoamentos contínuos, em especial na capacidade dos computadores, permitem que se tente passos mais ousados.

Entre esses passos está a missão Mars 2020, que lançou o Perseverance, um veículo capaz de andar sobre o planeta e que deve chegar a Marte em fevereiro de 2021.

Legado

As descobertas das sondas incluem a detecção de moléculas orgânicas. O achado não é desprezível, como explica o professor Alexandre: “Isso era esperado, tanto que mandaram o equipamento capaz de fazer essa medida, mas poderia não ter medido nada”, pondera.

Para ele, se já tinha uma expectativa de que Marte pudesse ter abrigado vida um dia, com essa experiência somada à existência de água na forma de gelo nas calotas polares (informação que foi confirmada pelo equipamento que está em órbita), a expectativa aumentou.

Imagem da Planície Utopiana de Marte feita pela Viking 2
Imagem da Planície Utopiana de Marte feita pela Viking 2 – Divulgação/Nasa

“Ela (a Viking 1) também foi a primeira a mandar uma imagem do solo, onde conseguimos ver as rochas, ver a areia, imagens que para nós hoje são rotina, mas na época eram um novo mundo”, acrescenta o professor.

Ele diz ainda que se você quer entender o relevo e os processos maiores que deram origem aos acidentes geográficos, as imagens em órbita são as mais adequadas. Porém, outras informações podem ser observadas a partir de imagens mais próximas. “Pela própria forma da rocha você pode saber se houve água ou não, porque a gente sabe da Terra, por exemplo, que seixos arredondados são causados por erosão, principalmente de água.”

Desafios para aterrissar

Os desafios para que a missão fosse um sucesso não foram poucos. A entrada na atmosfera e o pouso em Marte envolveu riscos. Para começar, não era possível controlar a sonda em tempo real: Marte está há 227 milhões de quilômetros da Terra. Isso significa que quaisquer comandos transmitidos a partir das antenas da Nasa, a agência espacial norte-americana, mesmo viajando à velocidade da luz, demorariam vários minutos para chegar ao planeta vermelho.

A solução, informa o professor Alexandre, foi deixar todos os comandos e movimentos a serem realizados durante a aterrissagem programados ainda na Terra. Simples, em princípio, mas um procedimento fracassado várias vezes desde a primeira tentativa de pousar em Marte, feita pelos russos com a sonda Marte 2, em 1971. “Marte tem uma atmosfera muito rarefeita, isso traz dificuldades tremendas para o pouso”, observa. “É muito complicado desenvolver a frenagem da sonda na entrada do planeta com essa característica.”

Então, para evitar que todas as horas de trabalho dos engenheiros aeroespaciais acabassem pulverizadas em vários pedaços sobre o chão marciano foi preciso lançar mão de recursos para reduzir a velocidade da sonda. Um revestimento blindado e a abertura de paraquedas fizeram isso no primeiro momento. Ao se aproximar do solo, foi a vez de retropropulsores entrarem em ação para garantir que todo o equipamento pousasse de forma suave.

Não é à toa que a aterrissagem em Marte ficou conhecida como os sete minutos de terror. “Isso é uma sequência que até hoje não está bem dominada, tivemos recentemente sondas perdidas indo para Marte ou para a Lua”, lembra Alexandre. Para completar, só alguns minutos depois é possível saber se o pouso obteve êxito. Depois disso, segue a montagem da estação e o início da operação dos instrumentos que realizarão as medições e experimentos. É só aí, também, que será possível saber se algum deles foi danificado durante a descida.

Riscos

A tudo isso se somavam os perigos impostos pelo clima. O astrofísico da Universidade de Brasília (UnB) Ivan Soares explica que Marte é assolado constantemente por tempestades de areia. “As missões soviéticas deram errado porque caíram durante tempestades como essas, por causa disso a missão mais bem-sucedida deles só durou 14 segundos”, conta. Segundo ele, só foi possível contornar esse problema pelo trabalho realizado por missões anteriores. “Tivemos a sonda Mariner 9 que mapeou o solo e o clima marciano e assim foi possível prever o melhor momento e lugar para um pouso tranquilo”, explica o pesquisador. “Então a equipe que lançou a Viking 1 teve a chance de corrigir onde ela iria pousar.”

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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