Caruaru e os outiders

Por João Américo de Freitas

CARUARU E OS OUTSIDERS

O termo outsiders , em uma das traduções para o português, pode significar “lado de fora”. A definição outside ou outsiders é trabalhada com maestria pelo escritor Howard S. Becker, patriarca da sociologia americana no livro “Outsiders; studies in the sociology of deviance” -Outsiders: Estudos de sociologia do desvio (Antropologia social). Nesse livro somos apresentados a um conceito de outsiders que, nas palavras do autor, é alguém que não vive “ de acordo com as regras estipuladas”

A palavra em inglês hoje é utilizada no dicionário político e serve para indicar novatos que se lançam no processo eleitoral, com um discurso de que são alternativa à chamada “velha política” e combaterão as oligarquias.
Os outsiders adotam o discurso antissistema e até antipolítica, só que utilizam das engrenagens do processo político contra ele mesmo. Já a eleição de pessoas com pouca ou nenhuma experiência política e partidária é conhecida como outsiderism uma variação do termo outsiders.

A eleição no Brasil, em 2018, foi um exemplo de um grande número de outsiders (novatos) que se elegeram com o discurso que dialogava com a renovação e a mudança. O próprio Presidente Bolsonaro, apesar de não ser um novato na política, adotou a tese do novo e se elegeu. Nos Estados Unidos, Donald Trump se apresentava como o candidato que corria por fora da política e alcançou a presidência, se apresentando como o candidato novo contra o sistema velho e carcomido.

Em toda eleição, os termos – mudança e renovação – são recorrentes e aliados de primeira hora aos que buscam pela primeira vez o mandato ou são oposição aos candidatos a relação.

Em Caruaru temos seis candidaturas à prefeitura, com cinco postulantes que já gravitaram no mundo da política, ou disputando algum cargo ou exercendo alguma função pública que dependia da vontade política. O único que nunca se candidatou a nenhum cargo eletivo e nem ocupou nenhum cargo público é o candidato do UP, Rafael Wanderley. Todos os outros, Raquel, Lessa, Marcelo Rodrigues, Marcelo Gomes e Raffiê, não podem “vender” a pecha de que são outsiders (novatos), sob pena de negarem sua própria história e os lugares por onde passaram.

Desse modo, com exceção do candidato a Prefeito Rafael Wanderley, podemos afirmar que Caruaru não possui outsiders . Alguns candidatos podem se propor a adotar o discurso de uma renovação radical que não são.

Muitos utilizam da proclamada renovação/mudança apenas como um discurso retórico, o que desobriga a quem adota essa estratégia de prestar contas de onde passou.
Quem adota o discurso outsider , basicamente, só precisa criticar a ordem estabelecida e não se propõem a apresentar projetos e ideias durante a campanha. E quando as propostas emergem logo se propõe a soluções fáceis para problemas complexos.

Nessa perspectiva, temos em Caruaru uma eleição tradicional, com quem sabe e já faz política há um bom tempo e sem maiores novidades, lógico com a exceção citada.

Sem candidaturas novas o debate deverá, ao nosso sentir, gravitar em torno das demandas reais de nossa população, e não no argumento raso e rasteiro de que se deve escolher pelo critério de ser de fora da política.

Desejamos boa sorte aos candidatos e que o povo escolha com sabedoria, pautado no que é melhor para Caruaru.

João Américo de Freitas é advogado e comentarista político da Caruaru FM

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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