OPINIÃO: O dia que Pernambuco parou

POR RAFFIÊ DELLON*

Um dos maiores ícones da música brasileira, o saudoso baiano Raul Seixas, na sua canção composta no ano de 1977 junto ao compositor Claudio Humberto, narraria bem às últimas quarta e quinta-feira do solo pernambucano: “Foi assim, No dia em que todas as pessoas, Do planeta inteiro, Resolveram que ninguém ia sair de casa, Como que se fosse combinado e todo o planeta, Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém”. Resultado de uma Greve da Polícia Militar junto com os Bombeiros, que geraram todos os tipos e níveis de debates, boatos e irresponsabilidades possíveis para o ser humano.

Do ponto de vista Constitucional, uma greve ilegal, a CF é direta no seu artigo 142: “Ao militar são proibidas a sindicalização e a greve”. Em períodos pré-eleitorais, nas vésperas do início de uma campanha que tende a ser uma das mais acirradas possíveis, nas duas esferas, não seria cabível na ótica histórica, que a greve encerrada na última noite, não tivesse “um braço” político-eleitoral, trata-se de Joel da Harpa, suplente de Vereador pelo PP na Câmara Municipal de Jaboatão dos Guararapes.

A greve quando é feita com foco construído na coletividade, com democracia plena, respeitando os princípios da nossa Constituição maior, é o pleno exercício dos valores democráticos, conseguidos depois de muita luta na rua, mas, quando o contexto envolve uma politicagem com finalidades apenas pessoais, resultando num estado de pânico e boataria que percorreu todos os 184 municípios do estado, não tem apoio civil que seja esperado. Perde a economia, perde os princípios humanos, perde a sociedade.

Diante de tudo que ocorreu nesses 2 dias, outro ponto que não podemos deixar de mencionar é a comprovação, de forma literal, da importância da Política (é com P maiúsculo mesmo) para o nosso cotidiano, e que é impossível, mesmo ainda rejeitada por muitos, fugirmos ou nos excluirmos dela. O debate sobre a Segurança Pública no Brasil deve ser um ponto constante, já é de praxe o atual Governo Federal governar nas custas dos estados e municípios, a falta de uma lógica mais sensata no Pacto Federativo, faz com que 87% do que é investido nessa área, venha dos governos estaduais e municipais.

Levantamento da ONG “Contas Abertas” diz que os investimentos na Segurança Pública pelo Governo Federal entre 2011 e 2012, R$ 3,3 bilhões do montante autorizado para as aplicações no setor deixaram de ser investidos, em valores já atualizados pela inflação. Entre 2003 e 2012, R$ 7,5 bilhões deixaram de ser investidos na área. Já no ano passado, os investimentos em segurança pública continuaram em ritmo lento. Dos R$ 2,2 bilhões orçados pelo governo federal, apenas R$ 688,8 milhões foram efetivamente investidos em 2013. O valor representa apenas 30% do total liberado. Será que só devemos nos preocupar com a Segurança Pública em momentos de greve?

*Raffiê Dellon é presidente do PSDB de Caruaru

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *