23o Festival de Percussão PercPan acontece agora em dezembro

 

Nos dias 4, 5 e 6 de dezembro acontece o 23ª Panorama Percussivo Mundial (PercPan), principal festival de percussão do Brasil. Por conta da pandemia, esta será a primeira edição totalmente online, com transmissões via YouTube e Instagram. O evento conta com patrocínio da Leroy Merlin, por meio de Lei de Incentivo do Governo de São Paulo, por meio do Programa de Ação Cultural – ProAC ICMS.

Desde 2014 sob curadoria e direção musical do produtor paulista Alê Siqueira, colaborador de influentes nomes da MPB como Marisa Monte, Tom Zé, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, e produção de Igor Cayres, filho de Beth Cayres, criadora do PercPan e falecida em abril de 2019, esta será uma edição especial em homenagem ao seu legado e trazendo o conceito idealizado por ela, de fazer uma conexão Brasil-França. “Por mais de 20 anos vivi momentos marcantes ao lado da minha mãe e de artistas de todos os cantos do planeta, unidos na diversidade dos palcos do festival. Hoje abraço a grande responsabilidade dar seguimento ao seu legado para a cultura do Brasil. Em plena pandemia, realizar esse projeto tem um significado especial para mim, primeiro pelo tema das interseções musicais com a França, país onde nasci e, também, por manter sua memória viva”, conta Igor.

Alê Siqueira revela que a escolha dos grupos se tornou uma versão modesta do projeto inicial, mas que mesmo assim é importante ser realizada para manter a energia e a percussão em pauta em momento ainda tão fluido para todos. “Essa na verdade é uma edição simbólica porque se tornou inviável ser diferente. Mas a Beth foi uma socióloga muito ativa que concebeu um festival focado na percussão que hoje tem reconhecimento mundial. Eu mesmo me lembro de ter assistido ao PercPan no ano 2000 e mal sabia eu que poderia um dia colaborar com ele. É uma honra poder manter essa chama viva”, conta.

PROPOSTA

Como o Brasil e a França possuem laços culturais e musicais históricos, a 23ª edição do PercPan acontece com transmissão simultânea em São Paulo e em Paris, e pretende despertar interesse junto ao público por reunir importantes artistas dos dois países se apresentando juntos e trocando experiências estéticas em performances originais criadas especialmente para a ocasião.

PROGRAMAÇÃO

No dia 04/12, às 14h horário do Brasil, 18h na França, o percussionista cubano Pedro Bandeira abre a programação ministrando ao vivo um workshop de percussão.

Pedro Bandeira é formado em Educação Musical pelo Instituto Superior Pedagógico em Havana (Cuba), e tem especialização em percussão cubana e afro cubana no mesmo instituto. No Brasil se especializou em percussão afro-brasileira na UFBA, participou dos projetos musicais Agô e Siguaraya da ONG, Sambatá, que dirige o seu trabalho ao intercâmbio cultural entre Cuba e Brasil, com quem tem realizado apresentações no Brasil e no Japão. Em 2008 coordenou a turnê da Banda Sepultura por Cuba, além de participar de vários projetos com artistas brasileiros e cubanos.

No dia 05/12, às 19h Brasil (23h França), é a vez do grupo francês de jazz-funk Cotonete se apresentar em duo com a cantora Amanda Roldan.

Fundado em 2005 pelos franceses Frank Chatona e Florian Pellissier, o grupo Cotonete nasceu com o sonho de trazer um repertório funky dos anos 70 para o Brasil. Eles começam uma turnê passando pelo Jazzmix em Vienne (2015), New Morning e Duc des Lombards (Paris) e Dingwalls (Londres). Eles gravaram o segundo álbum da cantora brasileira Simone Mazzer (CAJA / Prado Records), lançaram 3 maxis 33T em 2017 (incluindo Phil Asher, Hugo LX, remixes de DJ Deep) e produziram uma faixa com o amigo Dimitri From Paris, «Parribean Disco» que foi extensamente tocada em todos os clubes e festivais no verão de 2018 e definiu de vez a banda como a referência do funk jazz francês. Eles finalmente lançam seu primeiro álbum «Super-Vilains» graças ao produtor Melik Bencheikh em fevereiro de 2019. Três meses depois, Cotonete lançou um segundo álbum com a famosa cantora brasileira Di Melo (Favorite Recordings), cuja faixa A.E.I.O.U é tocada em todo o mundo por grandes DJs como Gilles Petterson, Sadar Bahar e Folamour.

Brasileira radicada em Paris, Amanda Roldan canta oficialmente com o grupo Cotonete desde 2016, quando participou do disco Baile Black. Nascida no Rio de Janeiro, Amanda passou a juventude em uma família de músicos, viveu em Recife, onde moldou sua cultura musical, principalmente com ritmos como frevo e maracatu, e mudou para Paris em 2013, onde vive desde então.

O encerramento, no dia 06/12, às 19h30 Brasil (23h30 França), fica por conta da banda paulista Aláfia, em parceria com Boris Reine-Adelaide.

Percussionista da Martinica, Boris Reine-Adélaïde começou a aprender os sons e ritmos dos tambores Bèlè e Ka (tambores do caribe) desde a infância. Multidisciplinar, Boris trabalha em várias percussões do mundo e investe em produções onde o tambor está no centro. Ele viajou pelo mundo com artistas como Kassav, Charlotte Dipanda e Dédé Saint-Prix, entre África, Europa e Caribe.

O grupo paulista Aláfia estreou em 2011 com produção musical que surge da digestão de influências diversas, do ponto de encontro entre rap, música de terreiro, MPB e funk. Ritmos e melodias dão forma a uma lírica sofisticada que questiona a sociedade atual e não deixa indiferente. Após lançar um primeiro disco homônimo em 2013, Aláfia percorreu boa parte do estado de São Paulo, cidades brasileiras até sua primeira apresentação fora do país na Plaza de la Revolución em Havana, Cuba. Em maio de 2014, Aláfia lançou o single Quintal acompanhado do seu primeiro videoclipe, com mais de 4000 visualizações em dois dias. 2015 marca o lançamento do segundo disco, “Corpura” (YB Music) contemplado pelo programa Natura Musical. Produzido por Alê Siqueira e Eduardo Brechó, o disco traz o compromisso da banda não só com a ancestralidade e matrizes brasileiras, mas também com a necessidade do diálogo sobre a realidade cultural e social do país. Em 2016 lançou o Corpura em vinil e a música “Pera lá” fez parte da abertura das Olimpíadas. Em 2017 lançam “SP NÃO É SOPA, NA BEIRADA ESQUENTA”, produzido e dirigido por Eduardo Brechó, como um desdobramento de todo o trabalho realizado nos 6 anos de estrada. Ainda em 2017 Aláfia faz sua primeira turnê na Europa, apresentando-se em festivais e casas de shows de renome na Dinamarca, Finlândia, Portugal, França e Turquia.

Aláfia é formado por Eduardo Brechó (voz e guitarra), Xênia França (voz), Jairo Pereira (voz), Alysson Bruno (percussão), Pedro Bandera (percussão), Lucas Cirillo (gaita), Pipo Pegoraro (guitarra), Gabriel Catanzaro (baixo), Gil Duarte (trombone e flauta), Filipe Gomes (bateria), Fabio Leandro (teclado).

HISTÓRIA BRASIL-FRANÇA

Na história da música, os laços do Brasil com a França são notórios. Bem antes da MPB dos anos 1960, por exemplo, o maestro erudito Heitor Villa-Lobos morou em Paris e conviveu com compositores como Varèse e Honegger. E ele foi muito influenciado pela obra de Fauré e Debussy, pegando a cor da orquestração francesa. Podemos ver elementos dos franceses em diversos compositores brasileiros, como em Tom Jobim, que também mostrou-se influenciado pela estética de Debussy em algumas de suas obras, como a Sinfonia da Alvorada. O violonista Baden Powell também foi outro marcado pela cultura francesa por ter morado vários anos na França.

O próprio choro nasceu, no Rio, da mistura da música africana com a europeia (polca, valsas e schottish), que, com certeza, tem elementos da música francesa. Pixinguinha fez uma temporada de apresentações em Paris, em 1922, com os Oito Batutas, e trouxe o seu saxofone dessa lendária viagem.

A música francesa também sofreu influência da música popular do Brasil. Nos anos 1950 e 1960, Darius Milhaud trabalhou no consulado francês no Rio de Janeiro e escreveu a peça O Boi no Telhado, que teve uma compilação de vários trechos de choros da época para o espetáculo. Nos anos 1970, vários cantores da França usaram melodias da bossa nova com letras francesas, como Michel Fugain e Henry Salvador. Claude Nougaro tem parcerias com Baden Powell e compôs uma letra francesa para o clássico Berimbau. Michel Legrand também foi marcado pela trilha sonora do filme Orfeu Negro (1959), de Marcel Camus, composta por Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Esta edição do PercPan, portanto, pretende reafirmar e atualizar essas conexões musicais.

SOBRE O PERCPAN

Panorama Percussivo Mundial (Percpan) é um festival de música realizado anualmente em Salvador desde 1994, dedicado especialmente a músicos que exploram instrumentos de percussão. O evento, concebido pela antropóloga Beth Cayres, já na primeira edição conseguiu reunir no palco do Teatro Castro Alves, em Salvador, músicos do porte de Harmonites Internacional Steel Orchestra (Antigua), Karnataka (Índia) e os brasileiros Naná Vasconcelos, Carlinhos Brown e Olodum, sob a direção musical de Arrigo Barnabé.

No ano seguinte, Naná Vasconcelos assumiu a direção musical. Em 1996, Gilberto Gil se uniu a Cayres na organização do evento. Somente em 2001 o Percpan não foi realizado em Salvador. Naquele ano, as apresentações aconteceram no Marco Zero do Recife. Em algumas ocasiões, a capital baiana dividiu os shows com o Rio de Janeiro (cidade), São Paulo e Paris.

O PercPan já apresentou mais de 300 atrações de vários países, como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, Elza Soares, Dona Ivone Lara, Gilberto Gil, Hermeto Pascoal, Marisa Monte, Naná Vasconcelos, Milton Nascimento,  Egberto Gismonti, Jorge Ben Jor, Lenine, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Olodum, Ilê Aiyê,  Carlinhos Brown, Mano Brown, Sly and Robbie, Rita Marley, Beirut, Doudou N’Diaye Rose, Trilok Gurtu, Savion Glover, Dhol Foundation, Sayon Bamba, Leilía e Hypnotic Brass Ensemble.

O Panorama Percussivo Mundial (PercPan) firmou-se como irradiador de tendências da percussão mundial, reunindo expoentes do gênero em concertos idealizados especialmente para o festival e promovendo a universalidade da linguagem rítmica, em todas as suas nuances, e a aproximação de culturas distintas por meio da música. E mais: juntou percussionistas com cantores em espetáculos em teatros e ao ar livre, com reconhecimento do público e da crítica brasileira e internacional.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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