Artigo: A decadência da violência

Por João Américo de Freitas

Vivemos cercados pelos sinais da violência. Por vezes esses sinais não são percebidos e, em determinados momentos, são naturalizados e incorporados a nossa sociedade como herança cultural. Ao longo da história da humanidade, verificamos que o fenômeno da violência ocorre por ações puramente instintivas, passando por necessidades naturais, e até por realização de sacrifícios ditos religiosos. Desde que Caim se levantou contra Abel, seu irmão, e o matou, a violência em muitos gera repulsa, curiosidade e fascínio.

O processo civilizatório traz, entre outros pontos positivos, uma renúncia ao instinto, essa uma das fontes da violência, como assevera Sigmund Freud: “É impossível não notar quanto a civilização se constrói sobre a renúncia ao instinto”. O ponto positivo é que hoje nos encontramos em um processo social de pacificação. Em resumo, a maior parte da sociedade repudia a violência. Não dá para convier com a violência praticada contra uma criança, um delegado de polícia, um homem negro americano morto em ação policial.

Podemos afirmar que vivemos na chamada era da empatia. Existem trabalhos científicos ( The Empathic Civilization, – Civilização empática de Jeremy Rifkin) que demonstram que possuímos os chamados neurônios da empatia. Esses neurônios são responsáveis pela sensação de sentir, de experimentar a situação de um outro modo, como se fosse a sua própria. Assim, a evolução humana pode ser sentida não só pela expansão e poder tecnológico, político, mas pela empatia. Precisamos então dar um salto de consciência no processo empático.

Nesse sentido, dois julgamentos são importantes para que esse processo empático seja acelerado, um no Brasil e outro nos Estados Unidos. Nos Estados Unidos, em Minneapolis, chegará ao fim, essa semana, o julgamento do caso do americano negro que foi morto em abordagem policial, George Floyd. A morte de George Floyd foi alçada a um símbolo de mal procedimento e pode ser um divisor para uma atuação policial onde preservar a vida seja a atitude mais correta a ser feita. Já no Brasil, o Supremo Tribunal Federal promove audiência pública, na segunda-feira, dia 19, a fim de discutir estratégias de redução da letalidade policial no Estado do Rio de Janeiro. Os debates ocorrem no âmbito da ADPF 635, de relatoria do ministro Edson Fachin, que já realizou o primeiro ciclo de audiências públicas na sexta (16/4).

Queremos ter um estado forte, uma polícia altiva, combativa, mas que seja também empática, e, quando necessária, altruística. Precisamos proteger mais nossos polícias das intempéries da violência para que as vidas dos delegados e agentes de segurança não sejam levadas pela violência. Necessitamos criar mecanismos mais fortes de proteção integral da vida das crianças, treinar e conscientizar educadores, vizinhos, parentes para que percebam sinais de violência e possa proteger as crianças e ajudar o estado a punir os agressores de forma rápida e eficaz, preservando a vida.

Precisamos ampliar centelha da benevolência, amizade e empatia foram infundidas com mais vigor ao longo da pandemia. Para alguns, nasceu a necessidade de fazer florescer a imagem cristã da pomba da paz, e aniquilar o lodo e a serpente que permeiam o coração de alguns. O sentimento de generosidade não nos faz fracos, insuficientes. pelo contrário, é o ápice da humanidade, eliminando tudo que é pernicioso, cruel e perigoso.

João Américo de Freitas é advogado e comentarista da Caruaru FM

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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