Tumor cerebral: técnica cirúrgica com paciente acordado ajuda a preservar área cognitiva

“Sempre fui fã de Grey’s Anatomy, mas nunca imaginei passar por uma cirurgia acordada. Foi muita adrenalina”. Com bom humor, Camila Rodrigues, 25 anos, relata sua experiência para retirada de um tumor no cérebro, comparando o seu caso com a série norte-americana. O procedimento realizado no Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR), foi o segundo ao qual foi submetida a auxiliar administrativa que diz lembrar apenas de “alguns flashes” do que se passava no centro cirúrgico.

Camila descobriu o tumor no cérebro após uma convulsão, em 2017. Assustada, procurou vários especialistas até descobrir que o tratamento indicado era cirúrgico. “Quando fiquei sabendo que medicação não ajudava no meu caso, foi bem difícil. Passei então pelo procedimento tradicional, e precisei de quatro meses para voltar a falar normalmente. Este ano, durante consulta de acompanhamento, descobri que precisaria de nova cirurgia e foi assustador. Não queria aceitar, mas resolvi encará-la com otimismo para que o tumor não piorasse ainda mais”, conta.

O neurocirurgião Carlos Alberto Mattozo foi o cirurgião responsável pelos dois procedimentos da Camila. Ele explica que o complicador do tumor em casos como o da jovem é a posição, no lobo temporal esquerdo – responsável pela linguagem – por isso, a cirurgia acordada é a melhor opção.

Procedimento

Nesses casos, o paciente é sedado e dorme na primeira parte da cirurgia, enquanto é realizada a incisão e a abertura do osso do crânio. Após essa etapa, a medicação é diminuída e ele é despertado. “Estar acordado em casos assim é importante para preservarmos a parte cognitiva. São mostradas para o paciente algumas imagens usando um tablet, e feitas algumas perguntas relacionadas aos nomes dos objetos, ao mesmo tempo que fazemos estimulações elétricas para ver se existem implicações que possam causar algum tipo de sequela na função da linguagem”, explica o médico. “Quando a Camila realizou a cirurgia pela primeira vez, a gente ainda não tinha a tecnologia que dispomos hoje, que é fazer o procedimento com o paciente acordado. Já usei algumas vezes essa técnica e, embora possa parecer traumática, pacientes relatam que a experiência é tranquila”, complementa.

A cirurgia para retirada do tumor da auxiliar administrativa durou cerca de 6 horas e, em menos de uma semana, ela já estava se recuperando em casa. A jovem conta que lembra apenas de algumas imagens mostradas no centro cirúrgico. “Na primeira cirurgia, tive problemas com a fala e dessa vez foi bem mais tranquilo. Agora vou fazer radioterapia e quimioterapia para que esse tumor não volte mais”, conta. “Assim que passar essa fase, quero voltar a trabalhar e ter uma vida normal, como a de todo mundo”.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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