Cidades-Esponjas: A Nova Fronteira da Sustentabilidade Urbana

A humanidade desde os seus primórdios sempre lidou com enchentes, mas as mudanças climáticas acentuaram esses fenômenos, tornando-os mais extremos e frequentes. Nos últimos anos, metrópoles e cidades em todo o mundo têm enfrentado inundações devastadoras. Em 2012, por exemplo, Pequim sofreu uma enchente que causou mortes e destruição generalizada. No entanto, um dos poucos lugares na cidade que não ocorreu nenhuma espécie de dano foi a Cidade Proibida, graças a um sistema de drenagem projetado há séculos. Esse acontecimento chamou a atenção das autoridades chinesas para a necessidade de novas abordagens na gestão das águas pluviais, conduzindo ao desenvolvimento das chamadas cidades-esponjas.

As cidades-esponjas são planejadas para absorver e reutilizar a água da chuva por intermédio de sistemas de drenagem sustentáveis. Ao invés das soluções tradicionais baseadas em sistemas de esgoto e bocas de lobo, as cidades-esponjas procuram integrar a infraestrutura verde nas áreas urbanas. Isso abrangem criar ambientes inovadores que imitam os processos naturais de absorção e filtragem da água, como ocorre em ecossistemas saudáveis, como florestas, por exemplo.

A infraestrutura verde de uma cidade-esponja compreende vários elementos que aumentam a permeabilidade do solo e ajudam no gerenciamento das águas pluviais. Assim sendo, algumas técnicas estão sendo empregadas pelo mundo afora como: os parques alagáveis que são áreas projetadas para armazenar água momentaneamente durante chuvas intensas. Esses parques possibilitam que a água seja absorvida vagarosamente, limitando o risco de enchentes e melhorando a qualidade da água que porventura escoa para os corpos d’água. Já os telhados verdes são coberturas de vegetação que ajudam a absorver a água da chuva, reduzindo o escoamento superficial. Ademais, eles proporcionam isolamento térmico e melhoram a qualidade do ar. Noutro ponto, os calçamentos permeáveis fazem a total diferença dos pavimentos habituais, que são impermeáveis, uma vez que os calçamentos permeáveis permitem que a água da chuva infiltre no solo, diminuindo a quantidade de água que vai para os sistemas de drenagem e diminuindo o risco de alagamentos. Por fim, as praças-piscina que funcionam como áreas de retenção de água durante períodos de chuvas intensas, transformando em áreas de lazer ou jardins durante períodos secos, aumentando a funcionalidade urbana.

Ao adotar o conceito de cidades-esponjas, os municípios oferecem vários benefícios significativos a todos os munícipes, uma vez que, as medidas urbanísticas permitem absorver e armazenar a água da chuva, reduzem a sobrecarga nos sistemas de drenagem e diminuem o risco de alagamentos e enchentes. Assim a água da chuva que é absorvida e filtrada por áreas verdes e sistemas de drenagem sustentáveis que geralmente são mais limpos, contribuindo para a saúde dos corpos d’água, porque, infiltrada nas áreas permeáveis contribui para a recarga dos aquíferos subterrâneos, melhorando a disponibilidade de água para as cidades, e por fim, ao aumentar as áreas verdes e criar espaços de lazer como parques alagáveis e telhados verdes contribui para o bem-estar dos moradores, melhora o microclima e combate as ilhas de calor criadas pela construção de empreendimentos.

Embora a ideia de cidades-esponjas seja alvissareira, a concretização efetiva requer uma estratégia cuidadosa e uma abordagem integrada, sendo necessário um planejamento de médio a longo prazo e uma aplicação de capital com expectativa de um benefício futuro para implementar e manter a infraestrutura verde. Isso inclui pesquisa e reflexão de forma detalhada sobre a bacia hidrográfica, o solo e as condições climáticas locais.

A integração das cidades-esponjas em uma estratégia urbana eficaz exige políticas públicas que promovam a resiliência e a sustentabilidade, incluindo a preservação e o aumento de áreas verdes e a melhoria dos sistemas de drenagem existentes nas cidades, pois cada urbe possui características únicas que devem ser consideradas, e as soluções devem ser adaptadas às necessidades e condições específicas de cada local, levando em conta aspectos geográficos, climáticos e socioeconômicos.

As cidades-esponjas representam uma abordagem inovadora e sustentável para enfrentar os desafios das mudanças climáticas e enchentes. Ao imitar os processos naturais de absorção e filtragem da água, essas cidades podem não apenas reduzir os riscos de inundações com a morte de pessoas e prejuízos materiais, mas também melhorar a qualidade de vida urbana e promover um ambiente mais saudável e equilibrado. Com a combinação de tecnologias de infraestrutura verde e um planejamento estratégico, é possível transformar áreas urbanas em cidades resilientes e adaptáveis às mudanças do clima.

Marcelo Augusto Rodrigues, é advogado especialista em direito ambiental e urbanístico, ex-Secretário de Meio Ambiente do Recife, proprietário do escritório de advocacia Marcelo Rodrigues Advogados.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.