Pesquisa revele as diferenças da sensação de dor orofacial entre os gêneros

A preocupação com a dor crônica e suas implicações na qualidade de vida dos pacientes é crescente. Dentro desse contexto, a Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED) lançou um estudo inovador. O trabalho, realizado pelo Comitê de Dor Orofacial da SBED, aborda os “Aspectos Hormonais e Biopsicossociais da Abordagem do Gênero da Dor Orofacial” e foi publicado na edição de julho a setembro de 2024 do Jornal dos Comitês.

Segundo o cirurgião-dentista Pedro Miranda, membro do Comitê, a dor crônica representa um desafio significativo na saúde pública global: “A necessidade de novas estratégias para o tratamento e a prevenção da dor é uma prioridade, especialmente em um ano dedicado à reflexão sobre as disparidades de sexo e gênero”. O profissional destaca ainda que a dor deve ser compreendida através de uma abordagem interdisciplinar: “Deve-se considerar não apenas os aspectos biomédicos, mas também os contextos socioambientais e psicológicos dos pacientes”.

O estudo revela que, embora a frequência de dor seja semelhante entre os sexos, as respostas emocionais e psicológicas diferem consideravelmente. “As mulheres tendem a comparar as dores que sentem a eventos traumáticos das próprias vidas, enquanto os homens por vezes afirmam que ‘nada se compara’ à dor que sentem. Essa diferença de percepção é fundamental para entender o impacto da dor na vida dos pacientes”, detalha o odontologista, conforme o disposto na publicação.

A pesquisa também ressalta a importância de considerar os fatores hormonais. “As mulheres, especialmente durante períodos de flutuação hormonal, relatam mais queixas de dor orofacial. O estrogênio, por exemplo, é identificado como um modulador da sensibilidade à dor, enquanto a progesterona pode ter um efeito calmante. A redução dos níveis de estrogênio após a menopausa está associada a uma diminuição na prevalência dos sintomas de dor orofacial”, explica ainda o cirurgião-dentista.

O odontologista acrescenta que o estudo indica que as flutuações hormonais têm um impacto mais significativo na dor orofacial das mulheres do que nas mudanças hormonais dos homens. A complexidade reforça a necessidade de uma abordagem que leve em conta as variáveis hormonais e de gênero no tratamento da dor. “O estudo sugere que a medicina de precisão, que considera as características individuais de sexo e gênero, pode aprimorar os resultados terapêuticos. O entendimento das influências psicossociais e epigenéticas nas experiências de dor é crucial para o desenvolvimento de novas condutas terapêuticas”, considera o membro do Comitê de Dor Orofacial da SBED.

Por fim, o profissional afirma que, com a crescente complexidade das identidades de gênero na sociedade contemporânea, é fundamental que os profissionais de saúde adotem uma abordagem holística, considerando não apenas a dor, mas também o estado biopsicossocial do paciente. “O reconhecimento dessas nuances pode ser um passo importante para melhorar o manejo da dor orofacial e a qualidade de vida dos pacientes”, finaliza Pedro Miranda.

Pedro Miranda – O cirurgião dentista, formado, há 27 anos, é especialista em DTM (Disfunção Temporomandibular) e Dor Orofacial, além de em Ortodontia (aparelho fixo, aparelho estético – porcelana e alinhadores – Invisalign e Uniclin). É professor de Ortodontia, DTM e Dor Orofacial e tem vasta experiência em Odontologia do Sono (Ronco e Apneia) e Bruxismo. É membro do Comitê de Dor Orofacial da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED) e da Comissão de Odontologia do Sono do Conselho Regional de Odontologia de Pernambuco (CRO – PE) junto com as profissionais Sandra Jordão, Ana Regina da Matta, Eleonora Burgos, Renata Grinfeld e Vânia Cristina.