Jardins Botânicos da Caatinga: Conhecimento e Conservação em Tempos de Mudanças Climáticas

A construção de jardins botânicos dedicados à caatinga nas cidades nordestinas é uma iniciativa que pode e deve proporcionar uma compreensão significativa na preservação da biodiversidade, da integralidade ecológica e na influência da educação ambiental sobre nosso bioma. Ante à mudança do clima e das ameaças ambientais enfrentadas pela caatinga em todo seu território, torna-se premente a valorização do nosso ecossistema, porque nosso bioma se constitui como nosso único, originário e exclusivo patrimônio natural do país, e alberga aproximadamente 10% do território nacional.

E para isso, faz-se importante enfrentar a desertificação e as mudanças climáticas no semiárido, uma vez que são questões interconectadas globalmente que necessitam ser tratadas de uma maneira integrada para buscar soluções capazes de mitigação e de adaptação. Dessa maneira, uma das ações voltadas para a prevenção é criar condições para educar as presentes gerações, e aí reside um dos aspectos primordiais dos jardins botânicos, uma vez que a caatinga possui uma biodiversidade rica em condições adversas, retratando um verdadeiro tesouro de resiliência ecológica e cultural.

A criação e manutenção de jardins botânicos focados na caatinga nas cidades nordestinas teria como foco um espaço dedicado para educação ambiental, bem como para a pesquisa científica. Desta forma, seriam capazes de abrigar coleções vivas de plantas nativas, possibilitando que a população em geral tenha conhecimento direto com espécies de flora que, por via de regra, estão em risco de extinção. Essa proximidade com nosso bioma iria contribuir para desmistificar o retrato da caatinga como uma paisagem morta e sem vida, e destacaria sua relevância ecológica, promovendo a conservação e o respeito pelas paisagens naturais. Ademais, os jardins botânicos têm o potencial de se tornar laboratórios ao céu aberto na realização de estudos sobre a adaptação das plantas à seca e ao calor, atributos que podem fornecer lições valiosas no cenário da mudança climática.

Outra situação importante a ser salientada quanto aos jardins botânicos da nossa caatinga é que teriam serventia nas práticas culturais e no saber popular, no que se refere ao uso das plantas, sobretudo, com a potencialidade de serem documentadas e transmitidas para as presentes e futuras gerações. Por isso, fazer o resgate cultural é de extrema relevância, uma vez que muitas plantas de nosso ecossistema possuem usos tradicionais em medicina, alimentação e artesanato, saberes que foram sendo transmitidos por gerações e que, de modo geral, estão em risco de não mais existir. Destarte, a construção de jardins botânicos asseguraria um ambiente inclusivo entre o conhecimento científico e o saber local, reverenciando as pesquisas, as tradições regionais e a educação ambiental.

Por outro lado, a valorização da educação e da ciência nos jardins botânicos temáticos da caatinga poderia impulsionar o ecoturismo e a economia local com empregos verdes. É sabido da crescente procura das pessoas por vivências no turismo sustentável e o contato direto com a natureza. Nesse diapasão, a vinda de turistas e estudantes de várias partes do Brasil e do mundo traria destaque para a importância do bioma, incentivando uma nova geração a abraçar sua preservação.

Por fim, a criação e implementação de jardins botânicos da caatinga nas cidades nordestinas é uma maneira de proporcionar o orgulho e o sentimento de pertencimento no que diz respeito ao nosso bioma. Em vez de vê-lo como um cenário sem importância e desprezível, haveria o reconhecimento de que o único ecossistema 100% natural do Brasil é fundamental e deve ser preservado com sua identidade. O momento em que vivemos exige desafios ambientais e novas formas de se relacionar com o meio ambiente, e esses espaços de conservação e estudo são um símbolo de que a preservação de nossa biota única começa na aceitação de seu valor e na ação coletiva para garantir sua continuidade.

Marcelo Augusto Rodrigues, é advogado especialista em direito ambiental e urbanístico, ex-Secretário de Meio Ambiente do Recife, e sócio proprietário do escritório de advocacia Marcelo Rodrigues Advogados.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.