Humberto Costa critica cortes e volta a falar em golpe

Espantado com o tamanho do “pacote de misérias” já anunciado em tão pouco tempo pelos principais ministros do governo “golpista” de Michel Temer (PMDB), o líder do Governo Dilma no Senado, Humberto Costa (PT-PE), subiu à tribuna nesta terça-feira (17) para denunciar o que está sendo planejado pelo que chamou de “junta provisória usurpadora do poder”. 

Ponto por ponto, o senador disparou contra todos os planos já declarados pelo governo interino, classificados por ele como “nefastos”. Humberto chamou de absurda e contrária à Constituição Federal de 1988 a ideia, por exemplo, de reduzir o atendimento do Sistema Único de Saúde, conforme declaração dada hoje pelo ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP). 

Também considerou absurdo o corte de R$ 300 milhões para o Minha Casa, Minha Vida feito pelo ministro das Cidades, o pernambucano Bruno Araújo (PSDB), por meio da revogação de portaria que previa a construção de mais de 35 mil unidades habitacionais em 104 municípios de 20 Estados brasileiros.


Além disso, classificou como esdrúxula a intenção de eliminar até 30% dos beneficiários do Bolsa Família, como pretende o ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra (PMDB).

“É maldade atrás de maldade, que a gente toma conhecimento de manhã e que, logo à tarde, os próprios autores ou o chefe correm para tentar desmentir e desfazer o mal-estar. A gente até acha que é uma versão renovada de Os Trapalhões que anda sendo gravada, tão grande é o bate-cabeça dentro dessa junta provisória”, declarou. 

Humberto questionou que condescendência a população brasileira tem de ter com um governo que, em sendo interino, tem a proeza de, em menos de uma semana, cortar a presença de mulheres e negros nos ministérios; extinguir a Previdência Social, “jogando aposentados e pensionistas numa profunda incerteza”; acabar com o Ministério da Cultura; e colocar em risco os direitos dos índios e dos quilombolas. “Os golpistas que tomaram o Palácio do Planalto de assalto ainda querem cobrar mensalidade em universidades públicas; desmontar órgãos de controle, como a CGU; e propor a recriação da figura do engavetador-geral da República. Isso é inadmissível”, comentou. 

Para o líder do Governo Dilma, os primeiros atos do governo “golpista” de Temer se assemelham a um roteiro de filme de terror, indefensável até aos políticos que o apoiam no Senado. Ele perguntou por onde andam os defensores de Temer, que estão sumidos do plenário do Senado. “Querem o quê? Que nós silenciemos até que todas as políticas públicas que retiraram o Brasil de um atraso secular e de uma miséria desumana sejam destruídas por completo? Não, não vamos nos calar porque não haverá transigência com o desmonte do Estado que está sendo perpetrado por esse governo golpista nefasto”, disparou. 

Não à toa, de acordo com o senador, o Brasil, que chegou a uma grande dimensão mundial a partir do presidente Lula e a uma destacada atuação contra a corrupção reconhecida internacionalmente no governo da presidenta Dilma, vira agora motivo de ridicularia global. Ele destacou uma grande reportagem publicada hoje pelo jornal New York Times que chama o Congresso Nacional brasileiro de circo, onde se encontram suspeitos de homicídio, de narcotráfico e de pedofilia, e pontua que uma Casa nestas condições morais foi a responsável pela remoção de Dilma Rousseff da Presidência da República.

Humberto parabenizou, ainda, a equipe e o elenco do filme Aquarius, do pernambucano Kleber Mendonça Filho, “forte candidato a Palma de Ouro”, que denunciaram publicamente o golpe brasileiro ao mundo no Festival Internacional de Cinema de Cannes, na França

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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