A nova e tecnológica realidade do Direito

Vivemos uma revolução tecnológica, uma transformação profunda na forma que enxergamos o mundo, o mercado de trabalho e as relações pessoais. O uso da Inteligência Artificial, em muitas profissões, já é rotina e no Direito não é diferente. Automatização de decisões judiciais, análise e elaboração de contratos, plataformas para disputas on-line são o início de um caminho sem volta, aplicável em grande escala. Nesse cenário, os advogados do país estão se adaptando e a pandemia de Covid-19 veio para catalisar esse processo.

“Faz algum tempo que a profissão jurídica (advogados, juízes, promotores e outros) vem sendo forçada a se adaptar ao mundo digital. A internet das coisas (IOT), a informatização dos processos e mesmo o dia a dia nas redes e na nuvem, forçam uma nova visão de mundo. A Pandemia, na verdade, forçou a adesão daqueles que ainda tinham restrições ao modelo digital”, comenta o professor Adelgício Barros, do Curso de Direito do UniFavip.

Uma pesquisa realizada com a CESA e a AB2L(*), durante a pandemia, mostrou a realidade que os profissionais do Direito enfrentam nesse período. Em 94% dos escritórios analisados a demanda caiu entre 20% e 70%. A rotina mudou e todos tiveram que se adaptar. Advogados foram para o home office, clientes tinham que ser atendidos remotamente, audiências foram para o on-line, reuniões viraram videoconferências, marcas concretas de um movimento que transformou uma das profissões mais tradicionais do mercado.

“A marca do mundo digital já estava presente em centros como a União Europeia e os Estados Unidos faz algum tempo, para se ter noção, os métodos de resolução de conflitos online (ODR) já estão regulamentados desde 2013 pelo Parlamento Europeu, ou seja, as conciliações online já são realidade desde o começo da década. O que houve foi uma diminuição forçada do preconceito contra os métodos virtuais, inclusive o home office, onde se notou que presença física e produtividade não andam necessariamente juntos. Os clientes já utilizavam o WhatsApp como uma ferramenta bastante rápida para acessar os advogados de forma on-line, a diferença é que a pandemia tornou o contato virtual obrigatório”, destacou o docente.

Mesmo antes do mundo entrar em quarentena, a carreira dos advogados já estava sendo impactada pelas mudanças que ferramentas como Inteligência Artificial (IA), programática (que auxilia na automação de formulação de documentos, além de ampliar o mercado de atuação) e algoritmos (o big data é aplicado à análise de dados tanto de processos quanto de clientes) trouxeram para esse mercado.

Mesmo com esse novo mercado crescendo, apenas 22% dos escritórios ouvidos pela pesquisa da CESA e AB2L utilizam alguma solução tecnológica oferecida por lawtechs ou legaltechs, a exemplo das ferramentas de IA ou servidores em nuvem.

Os escritórios que já trabalhavam de forma mais virtual colheram frutos durante esse período, mas a maioria teve que acelerar mudanças e digitalizar as reuniões e atendimentos, realizar audiências on-line e disponibilizar seus arquivos e acessos na nuvem para que os funcionários pudessem ter acesso.

“Os escritórios estão mudando e se transformando em “lawtechs”, pois cada vez mais os clientes buscam soluções jurídicas e não o conhecido formato do advogado de terno e gravata. Isso muda o paradigma do Direito”, finalizou Barros, que também é doutorando em Doutorado em Direito Internacional na linha de novas tecnologias.

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