Por Marcelo Rodrigues
Pense naquela cidade onde você mora ou já visitou: as ruas arborizadas, os lixos que somem como mágica (ou não), a sensação de segurança ao caminhar à noite, a oferta de empregos que não exigem duas horas de deslocamento. Agora imagine se tudo isso pudesse ser traduzido em uma nota — não aquela de escola, que dá frio na barriga, mas uma espécie de termômetro que mostra se o lugar está evoluindo sem deixar ninguém (e nada) para trás. É mais ou menos assim que funciona o índice que mede o desenvolvimento sustentável das cidades – IDSC, uma ferramenta que vai muito além de rankings e planilhas.
A ideia é simples, mas genial: em vez de olhar só para o PIB ou números de crescimento econômico, esse índice mistura indicadores de educação, saúde, meio ambiente, igualdade e até acesso à cultura. É como se alguém finalmente tivesse dito: “Ei, uma cidade boa não é só aquela que tem shoppings gigantes, mas onde as pessoas respiram ar limpo, têm oportunidades reais e não precisam escolher entre trabalhar ou cuidar da saúde.” O resultado? Uma fotografia multidimensional que revela o que está funcionando — e onde o calo está apertando.
Ah, mas não para por aí. O grande trunfo está em como esses números viram ação. Imagine uma prefeitura descobrindo que, mesmo com ótimos índices de coleta de lixo, a reciclagem é quase zero. Ou um bairro que tem escolas de alto nível, mas os jovens ainda abandonam os estudos por falta de transporte acessível. O índice funciona como um GPS para políticas públicas: aponta o destino, mas também os buracos no caminho. E o melhor? Ele não é estático. Ano após ano, dá para ver se a cidade está melhorando de verdade ou só maquiando problemas.
Claro, números sozinhos não mudam realidade. O que faz a diferença é quando essa pontuação vira conversa nas praças, nos grupos de vizinhos, nas reuniões de condomínio. Porque desenvolvimento sustentável não é meta só de prefeito — é de quem planta uma árvore na calçada, de quem separa o lixo mesmo sem obrigação, de quem cobra ciclovias seguras ou mercados que valorizem produtores locais. É uma dança coletiva, onde cada passo conta.
E os exemplos? Já existem cidades usando esse índice como bússola. Lugares que descobriram que investir em parques não é “gasto”, mas economia futura (menos gastos com saúde, por exemplo). Ou que incluir moradores de periferias em decisões urbanas reduz desigualdade e, de quebra, impulsiona a economia. Não se trata de ser a cidade “perfeita”, mas daquela que reconhece suas falhas e corre atrás — com transparência.
No fim, o índice é como um espelho. Mostra o rosto real das cidades, sem filtros. E se a gente encarar de frente, ele vira ferramenta para construir lugares onde ninguém precise escolher entre viver bem hoje ou deixar um planeta habitável para as próximas gerações. Porque, no fundo, desenvolvimento sustentável é isso: garantir que o progresso de agora não seja a dívida impagável de amanhã.
Marcelo Augusto Rodrigues, é advogado especialista em direito ambiental e urbanístico, consultor técnico em sustentabilidade da Prefeitura Municipal de Caruaru, ex-Secretário de Meio Ambiente do Recife.