* José Nivaldo Júnior
Otimista nato e hereditário, como dizia o grande Nelson Rodrigues, tomo emprestado uma expressão carnavalesca para clarear as incertezas que nos cercam nos dias de hoje. A humanidade evolui hoje no ritmo de uma escola de samba com um enredo de horrores. Mas qual o destino desse bloco? Para tentar entender um pouco o turbulento cenário mundial, resolvi reunir neste artigo algumas reflexões que tenho feito nas redes sociais, notadamente no Facebook .
Os Estados Unidos elegeram o presidente mais ” boko moko” de todos os tempos. Essa expressão é uma gíria do meu tempo de juventude. Para entender o significado, basta olhar a cabeleira do Zezé de Trump. Um personagem que parece fantasia de folião no Galo da Madrugada. Seria engraçado se fosse num filme de trapalhadas ou num sábado de Zé Pereira. Mas na vida real, não tem graça nenhuma.
A História mostra que os poderosos esdrúxulos são os de maior potencial ofensivo. Quem é desprovido do senso do ridículo é capaz de tudo. Não me deixam mentir Hitler, Mussoline e, no Brasil, Jânio Quadros. Personagens que pareciam de carros alegóricos, levaram seus países e até o mundo a grandes tragédias. Trump parece maluco. Antes fosse. Bastaria uma junta de psiquiatras para interditá-lo e estaria tudo resolvido.
Ele não tem nada de louco. É ridículo, fanático, radical de direita nacionalista, representante de fortes correntes do pensamento médio americano. E, principalmente, ocupa o cargo mais poderoso do mundo. Com direito a propor muros para separar países, defender a tortura, exercitar os sentimentos mais torpes, como a xenofobia, acanalhar a política externa mundial e, muito especialmente, ter ao seu alcance um certo botão que, apertado, pode destruir o planeta.
Bem, dizem alguns idiotas da objetividade ( tomando emprestado mais uma vez uma expressão de Nelson Rodrigues) o que nós brasileiros temos a ver com isso? Vamos nos preocupar com os nossos problemas que já são muitos. Os norte-americanos que pariram esse Mateus que o embalem. E como o carnaval está aí, vamos cair na folia.
Seria bom se fosse simples assim. Mas o buraco, neste caso, é mais em cima. Toda a extravagante política externa que (desculpem copiar a piada pronta) esse Pato Donald Trump está pondo em prática afeta profundamente a América Latina e o Brasil. Pode provocar no nosso continente verdadeiras convulsões econômicas. É aí que entra em cena o meu eu otimista.
Os publicitários estão cansados de repetir que onde os outros vêem problemas nós caçamos oportunidades. Os americanos atravessaram o samba. É hora, pois, do Brasil afinar o ritmo e aproveitar para rever a política externa praticada neste começo de milênio. Dançar agora de acordo com a música da nova realidade e das novas circunstâncias.
Noves fora a Lava Jato, o presidente Temer e especialmente o ministro Serra, responsável pela política externa, têm plenas condições e vivência para aproveitarem as oportunidades que se abrem e reposicionarem o Brasil no espetáculo da política internacional.
Se o grande país do norte ergue muros, que o grande país do Sul derrube fronteiras. Se Trump fecha portas, que o Brasil as abra.
Se os EUA discriminam, que o Brasil agregue. Se eles impõem o monólogo, dialoguemos.
Quem sabe se o recuo da bateria que os Estados Unidos estão dando não represente, finalmente, a oportunidade da nossa grande e harmoniosa evolução rumo ao futuro? Com política, métodos, atitudes modernas e generosas, somados com investimentos e parcerias sintonizados com o amanhã e não com o passado? Cabe aos nossos políticos aproveitarem a chance de deixarem o mela-mela para trás e se redimirem definitivamente aos olhos do país e do mundo. Talvez tenha chegado a nossa hora de dizer: Mr Trump, abra alas que eu quero passar
* Publicitário e integrante da Academia Pernambucana de Letras.