Ainda sem funcionar, pátio do Hospital São Sebastião virou local de infratores

Pedro Augusto

A não reabertura urgente do Hospital São Sebastião, no Bairro Maurício de Nassau, em Caruaru, não vem causando dificuldades à população apenas por não oferecer serviços de saúde. De acordo com moradores, comerciantes e trabalhadores que, respectivamente, residem ou atuam no seu entorno, a falta de operacionalidade no hospital também vem proporcionando vários transtornos a todos que são obrigados a circular pelo local. Bastaram apenas alguns minutos presente na tarde da última terça-feira (3), para a reportagem VANGUARDA registrar diversas irregularidades cometidas na área territorial do HSS. Sem exceção, os populares ouvidos pelo semanário creditaram o alto volume de delitos praticados ao não funcionamento da unidade.

Doméstica há mais de 20 anos numa casa que fica localizada na Rua Pedro Jordão, Marivalda da Silva criticou a ausência de atividades no São Sebastião. “Sou da época em que ele funcionava, inclusive, a minha avó já ficou internada em um dos seus leitos. É lamentável essa demora que está sendo para a reabertura do hospital. Além de milhares de pessoas estarem deixando de ser atendidas, estamos tendo de conviver com a marginalidade que vem tomando conta da sua estrutura. Existe até a presença de um segurança vigiando na área da frente da unidade, ou seja, na parte da Avenida Agamenon Magalhães, mas ele sozinho não tem dado conta de tanto bandido. Eles (criminosos) estão aproveitando a falta de atividades para fazerem o que querem”, disse.

O depoimento de Marivalda se encaixou perfeitamente com a cena lamentável que a equipe de reportagem VANGUARDA registrou através da sua câmera fotográfica. À luz do dia e sem se importarem com a circulação de transeuntes, dois adolescentes utilizaram o espaço externo do antigo pronto-socorro da unidade para consumirem crack. De acordo com o balconista João Paulo, que necessita trafegar pelo local todos os dias, o uso de drogas nesse espaço específico tem sido uma constante. “Acredito que se o Hospital São Sebastião já estivesse operando, esses dependentes químicos ficariam inibidos e não estariam mais por aqui, haja vista que haveria a presença de mais seguranças. Além do consumo de drogas, já cheguei a flagrar sexo explícito por aqui. Um verdadeiro absurdo!”, lamentou.

Um trabalhador que atua no entorno da unidade, mais precisamente na Rua Teófilo Dias, também responsabilizou a não reabertura do HSS à elevada prática de delitos que vem ocorrendo naquele trecho territorial. “Se não bastasse o nosso setor de saúde que está sendo prejudicado, o não funcionamento do São Sebastião também vem contribuindo para com o acréscimo da criminalidade no Bairro Maurício de Nassau. Isso porque os bandidos vêm aproveitando que o local ainda se encontra em situação de abandono para cometer furtos, assaltos e até sexo explícito. Trabalho com medo, porque as autoridades parecem que fecharam os olhos quanto aos problemas daqui. Não aguentamos mais essa falta de segurança”, questionou.

Se não bastassem os crimes que vêm ocorrendo no seu entorno, a não operacionalidade do HSS ainda tem servido para a prática de diversas irregularidades. “Por exemplo, no jogo do Náutico contra o Internacional, isso há duas semanas, a área externa do São Sebastião, simplesmente se transformou em um estacionamento. Pode isso? Sem falar no acúmulo de lixo que está sendo gerado pelos mal-educados que jogam diariamente todo tipo de objeto na entrada do antigo pronto-socorro. Esgoto estourado, pixações nas paredes, calçadas danificadas também estão fazendo parte do pacote de problemas provocados pela falta de atividades do hospital”, descreveu o comerciante Paulo Silva.

Para a professora Maria do Carmo Souza, o grande culpado pela atual realidade do espaço é o Governo do Estado. “Por causa da picuinha política, o governador Paulo Câmara não deixou a prefeita Raquel Lyra assumir o comando do hospital e a população é quem está pagando o pato. Claro, porque, se o município tivesse assumido o HSS, ele poderia já estar funcionando e prestando serviços aos caruaruenses. Consequentemente, esses problemas externos também iriam diminuir. Nem sei quando é que ele irá reabrir, se é que isso irá acontecer mesmo. Enquanto isso, Deus nos ajude, porque se formos depender da frequência de viaturas da PM circulando por este trecho, estamos fritos!”, criticou.

Em reposta à suposta falta de segurança na área externa do Hospital São Sebastião, o capitão da Polícia Militar, Farias Junior, afirmou que a corporação irá intensificar as rondas no entorno do local. “Novas viaturas foram disponibilizadas esta semana para o nosso batalhão e informamos que iremos aumentar o número de rondas realizadas na área citada. Os populares que quiserem contribuir para com o trabalho da PM podem repassar informações pelos telefones 3719-9116 e 3719-4545 (Disque-Denúncia Agreste).”

SECRETARIA DE SAÚDE

Em relação ao não funcionamento ainda do Hospital São Sebastião, o Governo do Estado, através da Secretaria Estadual de Saúde, ressaltou que “atualmente as obras da unidade estão com 99% do serviço concluído, em acabamento final e energização. Ao todo, as obras físicas custaram mais de R$ 7,9 milhões. O trabalho englobou o centro de imagens e diagnósticos do hospital. Quando inaugurado, o HSS, que possui cerca de 60 leitos, atuará como retaguarda do Hospital Regional do Agreste (HRA), maior emergência da região, beneficiando, portanto, a população de Caruaru e de diversos municípios do Agreste.

Todas as medidas para concluir a obra e equipar a unidade já vêm sendo tomadas e a previsão é reabrir o HSS até o final deste ano. Para isso, o Estado lançará, nos próximos dias, o edital de seleção de uma Organização Social (OS) para assumir a gestão. É importante frisar, ainda, que a reabertura do HSS como retaguarda não foi uma ação isolada no desenho da rede de assistência do Agreste. A região recebeu, nos últimos anos, o maior aporte de investimentos em saúde da história. Caruaru, polo e referência para as outras cidades do Agreste, recebeu, dentro do planejamento dessa rede, a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), inaugurada em 2010; a Unidade Pernambucana de Atenção Especializada (UPAE), em 2013; e o Hospital Mestre Vitalino, a maior e mais moderna unidade de saúde do Interior, inaugurado em 2014”, finalizou o texto. Quanto ao abandono do local, o Estado não se pronunciou.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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