Por FRANCO BENITES
Do Jornal do Commercio
Paulo Câmara (PSB) completará dois meses de gestão à frente do Estado daqui a 15 dias, mas paira no ar uma espécie de “terceiro turno eleitoral” entre os aliados do governador e do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro (PTB). O petebista disputou com o socialista o posto de chefe do Executivo estadual em 2014.
A disputa entre socialistas e petebistas é natural devido à polaridade governo x oposição, mas foi intensificada este mês após uma entrevista de Armando Monteiro à Rádio Jornal. Na ocasião, o ministro afirmou que não recebeu nenhuma ligação de Paulo para tratar de assuntos ligados ao Estado e acusou a administração socialista de pecar na articulação política.
A declaração deu início a uma série de contra-ataques por parte dos governistas. O revide ocorre tanto abertamente quando nos bastidores. Na audiência pública realizada no último dia 10 para apresentar o relatório fiscal do Estado, os deputados Aluísio Lessa e Waldemar Borges, ambos do PSB, destacaram que Armando é que precisaria se articular mais.
Na ocasião, Aluísio Lessa iniciou o seu discurso de forma elogiosa, rotulando Armando de grande liderança pernambucana, mas arrematou a frase com críticas. “Pernambuco tem ministro, tem líder do governo no Senado, na Câmara dos Deputados. A gente precisa também puxar a orelha desse pessoal”, disse, incluindo o senador Humberto Costa (PT), ao se referir à ajuda que os aliados da presidente Dilma Rousseff (PT) poderiam dar ao Estado para superar a crise econômica.
As críticas a Armando por parte dos governistas são ainda maiores nos bastidores e não partem apenas de filiados do PSB. Apesar da gestão Paulo Câmara estar quase na metade do seu primeiro ano de governo, muitos aliados reclamam que o petebista nunca desarmou o palanque eleitoral. Uma das principais reclamações é sobre uma eventual falta de cortesia do ministro, que não teria telefonado para o socialista para parabenizá-lo pela vitória nas eleições. “Isso é algo elementar em qualquer sociedade que tenha um processo democrático estabelecido”, falou um integrante de um dos partidos da base de apoio a Paulo .
O fogo cerrado também parte dos aliados de Armando e é maior quando feito em reserva. Alguns oposicionistas se referem a Paulo como “governador-estagiário” devido ao fato do socialista estar em seu primeiro cargo político. As declarações em defesa do ministro também são para rebater a crítica de que ele não tem atuado em favor de Pernambuco no que diz respeito à crise econômica e, mais recentemente, à disputa para atrair o centro de conexões de voos nacionais e internacionais do grupo Latam, formado pela chilena LAN e pela brasileira TAM.
De acordo com os oposicionistas, Armando tem se movimentado para defender os interesses de Pernambuco, mas, devido ao papel de ministro, precisa ter cuidado para não criar problemas com outros Estados.
PAULO E ARMANDO “DESARMADOS”
O “terceiro turno eleitoral” envolvendo Paulo Câmara e Armando Monteiro pode até se estender por mais algum tempo, mas no que depender do governador e do ministro o clima deverá se tornar mais tranquilo ao menos publicamente.
Armando voltou a criticar o governo estadual nos microfones da Rádio Jornal na última sexta-feira, mas procurou moderar o tom ao falar especificamente do governador. O ministro, inclusive, agradeceu o convite de Paulo para participar de uma reunião suprapartidária no Palácio do Campo das Princesas amanhã para debater o empreendimento que a Latam pretende implantar no Nordeste.
“Só posso ver como positiva essa iniciativa do governador. O que eu puder fazer eu farei. Desde abril que mantenho contato com essas empresas. Mesmo não podendo estar presente na reunião de amanhã, estou à disposição do governador e de todas as forças de Pernambuco para nos somarmos nesse processo”, destacou Armando.
Paulo também deu provas de que não pretende alimentar qualquer polêmica em relação a Armando. Ele não ligou diretamente para o ministro para convidá-lo para a reunião de amanhã, mas tem ressaltado a importância do petebista no processo para tentar conquistar o centro de conexões da Latam.
O governador também garantiu que as declarações de Armando no dia 1º de junho, que motivaram as críticas dos governistas, não terão interferência na sua relação com o ministro. “Da minha parte, não há tensão”, resumiu.
A trégua foi dada. Pelo menos até que a proximidade das eleições de 2016 abra novos pontos de conflito.