O Ministério Público Federal (MPF), por meio da Procuradoria da República em Brasília, acusou os principais amigos de Michel Temer (MDB) de atuar como arrecadadores de propina para o presidente. Apontados como membros do chamado “quadrilhão do PMDB”, na definição do próprio MPF, o advogado José Yunes, ex-assessor especial da Presidência da República, e José Baptista Lima Filho, coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo, viraram réus nesta segunda-feira (9) por decisão do juiz federal Marcus Vinicius Reis, da 12ª Vara da Justiça Federal, em Brasília.
Além dos amigos de Temer, que pode enfrentar uma terceira denúncia ainda neste ano (outras duas foram barradas pela Câmara), outros sete aliados do presidente estão entre os réus desta ação penal, que enquadra os suspeitos por organização criminosa. Segundo delatores, tanto Yunes como o coronel Lima operavam suborno para o presidente por meio de esquemas fraudulentos na administração pública, utilizando a estrutura de empresas e órgãos públicos para desviar recursos.
A partir das delações e dos demais elementos do conjunto probatório, procuradores acusam Yunes de ser o responsável, por mais de uma vez, pela receptação de dinheiro ilícito e posterior repasse para membros do MDB. Em uma dessas ocasiões, segundo relato de delação premiada, a Odebrecht entregou ao advogado um pacote de dinheiro fruto de pagamentos combinados em reunião, realizada com a devida antecedência com o próprio Temer, no Palácio do Jaburu (residência oficial da Vice-Presidência da República). A verba ilícita se prestou ao financiamento de campanhas em 2014, ainda segundo a acusação.
O próprio Yunes admitiu, em depoimento a procuradores e membros da Polícia Federal, ter recebido o pacote em seu escritório em São Paulo, mas sem saber o que havia em seu interior. O advogado disse também desconhecer o remetente e a destino da encomenda, e que a repassou a Lúcio Funaro. Apontado como operador do MDB em esquemas de corrupção, Funaro, que ficou preso entre junho de 2016 e dezembro de 2017, envolveu Temer não apenas nessa investigação, mas também naquela que o apura a acusação de propina para assinar o Decreto dos Portos.
Segundo Funaro, em delação premiada, de fato houve a operação relatada por Yunes. O operador do MDB também disse ter recebido a informação de que o deputado cassado Eduardo Cunha (MDB-RJ), preso em decorrência da Operação Lava Jato e também denunciado por envolvimento no “quadrilhão do PMDB”, determinou a um de seus assessores a que pagasse propina a Temer por meio de José Yunes.
O MPF explica que Yunes se valia da “condição de advogado de reputação aparentemente ilibada, acima de qualquer suspeita” para atuar na arrecadação de recursos ilícitos. Como “recebedor e distribuidor de propina”, acrescenta a acusação, o advogado adquiriu importância central na organização criminosa cuja chefia é atribuída a Temer. Ocultar a fonte do dinheiro desviado, dificultar possibilidades de rastreamento e viabilizar a partilha dos valores entre os demais integrantes da quadrilha, acrescentam os procuradores, eram algumas das funções do advogado, amigo de Temer há cerca de 50 anos.