“Com acordos de cúpula, PSDB se especializou em perder”
Folha de S.Paulo – Thais Bilenki
O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, diz que não abrirá mão de disputar prévias com o governador Geraldo Alckmin para ser o candidato do PSDB à Presidência. Ele se disse “violentado por manobras” como o acordo que deve levar o paulista a presidir o partido.
“O PSDB está especializado em perder por causa de acordos de cúpula”, criticou.
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*Folha – Por que o sr. seria melhor candidato que Alckmin
Arthur Virgílio – Fico feliz que ele já esteja assimilando coisas que eu digo, que não dá para votar a reforma da Previdência pela metade. Esse é o papel do PSDB, nada de flacidamente abrir questão.
Como avalia a gestão de Alckmin no governo de São Paulo?
Não moro em São Paulo, mas ouço falar que é uma pessoa equilibrada, não é irresponsável fiscalmente. Mas sinto que ele não é bastante para vencer em função do discurso tímido, em função do hábito de não ir ao povo.
Defende privatização geral ou com alguma restrição?
Banco do Brasil e Caixa não vejo necessidade. Petrobras com certeza. Temos 150 estatais, 85 delas podem ser liminarmente privatizadas.
O sr. tem um grupo de apoio?
Meu problema é que as pessoas têm dificuldade de entender um pouco isso. O PSDB está especializado em perder por causa de acordos de cúpula. O É tetravice-campeão em eleições, perdendo no segundo turno, e com certeza perde mais uma se não mudar seus rumos. Não peço apoio, peço que me deixem falar. Peço ao partido a lista de 1,2 milhão de militantes.
Eles negam?
Não dizem não, mas não me deram. Estou com muita esperança de que isso melhore, porque, com Geraldo Alckmin presidente do partido, uma figura isenta. Vou dizer: Geraldo, me passe a lista. Você pode ficar com todo presidente de diretório, secretário-geral, a turma todinha do ar condicionado. Agora, me deixe chegar ao povo.
O sr. é contra alianças do PSDB com quais partidos?
Tem um monte, o PMDB, o PP. O espírito é sairmos da escravidão de vender a alma por causa de tempo de TV.
Mas o senhor se aliou ao PMDB no seu Estado.
Já, já me aliei. Não deu certo. Eleitoralmente, a gente ia ganhar mesmo. O que a gente propõe é mudar e melhorar.
Como o PSDB conseguirá enfrentar críticas de fisiologismo e corrupção, sobretudo com Aécio no olho do furacão?
O senador Aécio Neves está começando a ficar impertinente com essa tentativa insistente de protagonizar a cena no partido, ele que não tem a fazer mais do que mergulhar e apresentar sua defesa e, se Deus quiser, mostrar razões que o absolvam.
Como vai defender o PSDB na eleição de 2018?
Primeiro, lembrar o passado do partido, o Plano Real.
E em relação ao presente?
Não tem o que defender. Tem que punir internamente, inclusive para poder ser crítico externamente.
O sr. mesmo foi citado na delação da Odebrecht por supostos R$ 300 mil em caixa dois.
Aquela coisa é tão mentirosa que serve para desmoralizar a lista e beneficiar os culpados que misturaram a mixórdia toda. Meu advogado, que já dá o assunto como resolvido, acha que esse cidadão deve ter se apropriado de um dinheiro dizendo que era para se aproximar de parlamentar influente.
O sr. apoiou Tasso para presidente do PSDB, que desistiu por Alckmin. Decepcionou-se?
Sinceramente, não, não tenho mais direito de me decepcionar com nada. Só não entendo não sermos capazes de dar a volta por cima e vencermos uma eleição com candidatos fraquíssimos, um pré-condenado pela Justiça [Lula], uma figura folclórica que é o Ciro Gomes, um homofóbico fascista como Jair Bolsonaro. Temos uma bela pessoa humana, Marina, mas que a gente não percebe na melhor forma.
Por que Marina Silva não parece na melhor forma?
Não percebo o elã que ela tinha. Tenho a impressão de que ela demonstrou sua sensibilidade de mulher, de pessoa humana, enfim, entre tantas coisas que estão acontecendo, senti um impacto talvez maior do que fosse permitido a alguém que disputa o poder. Teve um debate em que ela foi às lágrimas, não revelou estar tão à altura do desafio de ser presidente. Ela que é uma grande pessoa pública.
Defende outro nome fora Alckmin para presidir o PSDB?
O PSDB está tão absurdo que até a mim sondaram. Não tenho a menor vontade.
Sua alternativa é o Senado?
Não. É ficar na prefeitura de Manaus. Pretendo a Presidência da República porque acho que há um espaço.
Abandonar a prefeitura não seria trair o seu eleitorado?
Não. O Doria, por exemplo, ia fazer isso, largar a prefeitura com meses de mandato. Eu largaria com quase cinco anos e meio, com amplo apoio de Manaus. Deixei de ser governador, porque não quis largar nem em 1990, nem em 2014. Então, não faria agora. Meu destino é ficar na prefeitura.
Ficar ou ser candidato?
Meu destino é ficar na prefeitura caso não consiga derrotar Alckmin nas prévias.
Essa movimentação é para dar visibilidade?
Não haveria necessidade. Estou tentando apresentar um projeto de Brasil. Eu me sinto um pouco violentado na medida em que eu vejo essas manobras, que só fazem enfear um processo que me dá mais força para competir.