Por João Américo de Freitas
A ciência e a tecnologia, apesar de promoverem os maiores avanços da humanidade em todas as áreas da vida, nunca foram valorizadas pelo Estado e pela sociedade brasileira. Nossa Constituição, porém, foi pródiga em estabelecer um capítulo especifico para a ciência (capítulo IV), sendo uma das primeiras no mundo a dar tratamento constitucional ao tema (ciência, tecnologia e inovação), estabelecendo que a pesquisa científica “receberá tratamento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o progresso da ciência, tecnologia e inovação” (Artigo 218, §1º da Constituição).
Mesmo estando em evidência nesses tempos de pandemia, e com a definição de tratamento constitucional claro, a ciência agoniza pela perseguição ideológica, sucateamento dos centros de pesquisas nas universidades federais, passando pelo corte de verbas públicas e por falta de apoio popular, social, político e empresarial.
Não podemos deixar de citar fatores históricos, estruturais e culturais que fazem com que a ciência brasileira não seja valorizada ou sequer conhecida pelo grande público. O Instituto Nacional de Tecnologia em Comunicação da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT) elaborou pesquisa em 2019 denominada: O QUE OS JOVENS BRASILEIROS PENSAM DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA? (http://www.coc.fiocruz.br/images/PDF/Resumo%20executivo%20survey%20jovens_FINAL.pdf) . O resultado é alarmante, demonstrando um nível baixíssimo de envolvimento, engajamento e conhecimento do mundo da ciência brasileira para o seu povo – 93% dos jovens entrevistados afirmaram não lembrar o nome de nenhum cientista brasileiro. Além disso, 87% dos entrevistados afirmaram não saber o nome de nenhuma instituição nacional de pesquisa.
Esse desconhecimento da ciência, dos cientistas, é um terreno fértil para que germinem as notícias falsas, as Fake News, teorias conspiratórias e terraplanistas. Ainda segundo a pesquisa, 68% dos jovens admitiram ter dificuldade de diferenciar notícias verdadeiras e falsas relacionadas a temas científicos. Outro dado importante destacado da pesquisa diz respeito à forma que os jovens acessam a informação relacionada à ciência e à tecnológica. A nossa juventude, basicamente, utiliza, como meio de informação, o Google e o YouTube, seguido pelo Whatsapp e Facebook. Em resumo, existe um nível muito baixo de acesso a informações dadas pela impressa e por sites ou canais especializados na divulgação científica.
No quesito verba pública direcionada para ciência no nosso país, o Brasil sofre com cortes que, segundo a Academia Brasileira de Ciência, comprometerá o futuro de nossas pesquisas ( http://www.abc.org.br/2021/01/05/ciencia-brasileira-sofre-com-cortes-de-verbas-e-encara-cenario-dramatico-para-pesquisas-em-2021/). No Brasil, a maior parte do trabalho cientifico é custeado pelo Governo, principalmente o Federal, que, como dito, vem diminuindo progressivamente o investimento em ciência nos últimos anos.
Uma face dramática dos cortes na ciência aparece no fato de que o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) só conseguirá pagar 13% das bolsas aprovadas para cientistas em 2021.
Precisamos de políticos que entendam que a ciência é feita, em grande medida, para as novas gerações, e não para as novas eleições, e que redefinam, nos termos constitucionais, a prioridade da ciência na vida de nossa sociedade, compreendendo o seu papel estratégico. Ciência não pode ser tratada de forma supérflua, ou como um bibelô do Ministério da Educação.
Não enxergar o papel da ciência para o país é fazer dele pequeno aos olhos da comunidade internacional, diminuir o seu papel de soberania, importância e, pior ainda, incapaz de promover, internamente, a melhoria da condição de vida de seu povo.
Fortalecer a ciência e o papel da educação científica é urgente em nosso país.
Ciência salva vidas.
João Américo de Freitas é advogado e comentarista político na Caruaru FM