ARTIGO: A ROLETA RUSSA DE BOLSONARO.

Por João Américo

Bolsonaro joga roleta russa com a democracia e a saúde do povo. Vamos arriscar que, a cada giro do tambor do tempo, o Presidente não tenha aspirações e ações antidemocráticas e que o governo vai nos proteger e criar as condições sanitárias para que as pessoas não sejam infectadas pelo Covid-19 e morram.

O único político Brasileiro de relevância nacional que rompeu as amarras do carcereiro invisível, coronavírus, foi o Presidente. Sem limites, e com a retórica dissociada da realidade, negando a ciência, criando tensões com outros poderes, governadores e prefeitos e congresso nacional, as atitudes erráticas do Presidente põem em risco a saúde e a democracia do país. Bolsonaro, a todo instante, cria divisões socias maniqueístas. No começo da crise do Covid-19 o alvo eram os Governadores, depois o Presidente da Câmara dos Deputados e, por fim, seus auxiliares e ministros mais próximos.

Na vida e, principalmente, na política, buscamos sempre símbolos que expressam nossa maneira de pensar, de ser, de sentir e, principalmente, agir. Ir a um evento pressupõem que concordamos com a sua finalidade. Na política ninguém sai de casa sem saber para onde vai e que mensagem quer transmitir. A ida do Presidente ao evento promovido por incautos amantes da barbárie, no dia do Exército, a uma manifestação em frente ao Quartel General do Exército, onde os manifestantes pediam a intervenção militar e fechamento de instituições democráticas tais como STF e Congresso Nacional, invocando o IA-5, representa um ato atentatório ao Estado Democrático de Direito. A atitude do Presidente ao ir ao evento, discursar e dizer à horda transloucada “eu acredito em vocês” gerou grande repercussão e uma onda de críticas que fizeram o Presidente recuar.

O Presidente pendular vai, da ida à manifestação de cunho antidemocrático e anticivilizatório e em desacordo com a nossa Constituição, para, no dia seguinte apresentar respeito à democracia e dizer que não irá fechar nada. Quem é o verdadeiro Bolsonaro?

Estamos jogando roleta russa com a democracia. Vamos apostar que o retrocesso e medidas autoritárias não serão praticadas por Bolsonaro. Apesar da fala do Presidente, seu governo apresenta clara vinculação aos anos de chumbo. No site do Ministério da Defesa existe uma louvação ao golpe de 1964, fato que foi reparado pela justiça; a juíza Moniky Mayara Costa Fonseca, da 5ª Vara Federal do Rio Grande do Norte, determinou que o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, retire do site do ministério a nota publicada no dia 30 de março em defesa do golpe de 1964. Consta da decisão que o ato “é nitidamente incompatível com os valores democráticos insertos na Constituição de 1988”.

Outro fator que tensiona o Governo Federal e os insufladores do caos é a saída de Ex-tudo Sérgio Moro, que, por nós, deverá ser melhor deglutida e depois de feita a correta digestão, para que, no futuro próximo, possamos abordar esse tema com a profundidade que lhe cabe, sem precipitações ou impressões, que podem ser modificadas ao sabor dos ventos imprevisíveis da política.

Voltando à roleta russa, agora no campo da saúde, Bolsonaro pede, faz tempo, que tudo volte ao normal. Vamos apostar que podemos voltar para as nossas atividades diárias – trabalho, compras, escola, viagem – sem o coronavírus representar uma ameaça para todos nós. Vamos mais além, nessa roleta russa, vamos apostar que o COVID-19 não vai nos matar.

Nosso Presidente, sem criar as condições de um sistema adequado de testes, rastreamento de infectados e expansão da rede de saúde, pede que a população que pegue o ônibus lotado, vá ao metrô, ao trabalho, use o elevador, frequente bancos, envie seus filhos para a escola. Em resumo, Bolsonaro pede que a população participe de uma roleta russa social
Se ao final você permanecer vivo, estará sujeito, todo dia, a uma nova rodada, que poderá atingir você e seus parentes e amigos.

A vida institucional do país e a sua vida são muito importantes para serem decididas na sorte.

João Américo é advogado e analista político

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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