Manchete dos principais jornais e tema de rodas de conversa, o novo coronavírus tem causado muito medo e alerta no mundo inteiro. Com o surto da nova doença, batizada de Covid-19, a corrida pelo desenvolvimento da cura tem mobilizado profissionais de saúde do mundo inteiro. Por outro lado, governos correm contra o tempo para tomar as medidas necessárias e conter a disseminação da epidemia. Alguns, inclusive, muito mais efetivamente do que o Brasil.
É possível tirar alguns ensinamentos de como os países estão lidando com a situação. A começar pela própria China, que deu, ao mesmo tempo, ótimos e péssimos exemplos de gestão de crise. O país, foco da doença, já teve mais de 60 mil casos confirmados e mais de 1,1 mil mortes decorrentes do Covid-19. Desde que o surto se alastrou e as autoridades perceberam a gravidade do problema, foram construídos dois hospitais na cidade de Wuhan. O primeiro, com mil leitos e 25 mil metros quadrados, foi entregue no impressionante prazo de dez dias. O segundo centro equipado para receber pacientes infectados com o coronavírus, com 1,6 mil leitos, foi construído ainda mais rápido, em sete dias. Isso com toda a estrutura de isolamento, área de exames e acomodações para médicos.
Pode soar impressionante a rapidez com que esses empreendimentos de grande porte foram construídos, mas, no fundo, o que sobressai é a eficiência do trabalho. No Brasil, obras muito menores demoram anis para serem concluídas. Inclua-se nisso um desperdício imenso de material e recursos e preços muito acima dos corretos. Tudo por conta da ineficiência e da corrupção que infelizmente ainda ronda alguns setores da gestão pública. Um sem número de obras públicas encontram-se paralisadas por motivos banais, enquanto a população, que paga por todo esse dinheiro jogado no lixo, aguarda os benefícios que elas poderiam trazer. Não precisamos ter uma estrada concluída em 15 dias, ou um local público reformado em um mês; mas, ao mesmo tempo, esses empreendimentos não deveriam demorar tanto – sempre mais que o prazo estabelecido inicialmente – a serem entregues.
Outro ponto sobre o coronavírus: o primeiro médico a identificar o surto da doença e alertar as autoridades morreu após contrair a infecção e ser desacreditado pelo governo chinês. Li Wenliang foi investigado pela polícia por “espalhar boatos” sobre a enfermidade. Até hoje, as autoridades chinesas sofrem com protestos e acusações de subestimar a gravidade da epidemia. A morte de Li agravou a insatisfação popular.
Um governo não pode omitir informações de sua população sobre um contágio que se dissemina a uma taxa tão grande. Quantas vidas poderiam ter sido salvas se as autoridades locais tivessem escutado o profissional e iniciado as medidas de contenção da epidemia mais cedo? O próprio Li poderia estar ainda vivo e, quem sabe, ajudando no desenvolvimento de um tratamento. Muitas vezes, pensa-se em não fazer alarde para não criar um estado de pânico na população, mas até onde essa tática é válida?
O Covid-19 continua se espalhando. A cada dia, novos casos e morte são noticiados. Situações como essa, de extrema dificuldade, acabam por trazer diversas lições. Que estas possam ser realmente aprendidas pelos governos de todo o mundo e aplicadas em suas realidades locais, não apenas quando houver um surto epidemiológico, mas na gestão do dia a dia. É preciso priorizar a população, sempre.
Janguiê Diniz – Fundador e Presidente do Conselho de Administração do grupo Ser Educacional