Por João Américo Monteiro
Entre vozes abafadas e sorrisos ocultados por máscaras, peça obrigatória do nosso vestuário, podemos enxergar uma luz que aponta o fim da pandemia. A VACINA CHEGOU!
Mas no Brasil chegará mais tarde.
O Plano Nacional de Imunização, PNI, não foi discutido de forma articulada entre estados e municípios, e só foi apresentado ao país depois que partidos políticos (Rede Sustentabilidade, PSOL, Cidadania, PT, PSB e PCdoB) apresentaram ações perante o Supremo Tribunal Federal (STF), onde questionam o ato do presidente Jair Bolsonaro, que desautorizou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a comprar a vacina Coronavac, desenvolvida no Brasil pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. As ações também pedem ao Supremo que o governo a apresente, em até 30 dias, o plano de vacinação contra a Covid-19. O relator dos processos, Ministro Ricardo Lewandowski, pediu que o presidente da Corte, ministro Luiz Fux, suspenda o julgamento por conta da apresentação do plano pelo governo federal.
O plano de vacinação elaborado pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, chamado de Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, deveria ter sido apresentado ao povo, mas só veio à tona por conta das ações no Supremo. Um detalhe que faz toda diferença, é que não existe data de início para vacinação. Outro fator que pode retardar a vacinação brasileira é que nenhuma vacina deu entrada no registro e licenciamento na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Então podemos concluir que a vacinação está longe de chegar. O que existe é uma desorganização, nesse momento tão crucial de nossa sociedade. Especialistas apontam, ainda, que o plano é inconsistente e necessita urgentemente de reparos.
O Governo Federal – União -, possui a maior parcela de responsabilidade da gestão da saúde, sendo assim, cabe ao Ministério da Saúde e ao SUS liderarem o planejamento, aquisição, distribuição, compra de insumos, armazenamento e aplicação de vacina em todo país. Evidente que toda ação de aplicação de imunizante deve ser articulada com os Estados e Municípios.
Em um país continental como o nosso, com diferenças de clima, tempo, temperatura e pressão distintas, só uma ação , como a que já vem sendo feita há muitos anos em relação a outras vacinas, será capaz de imunizar, com eficiência, nossa população, e fazer com que possamos de vez nos livrar dos males da pandemia.
Do outro lado, a vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan virou cavalo de batalha de disputas políticas entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria. A produção, eficácia da vacina e sua distribuição ficaram em segundo plano, o mais importante é a definição de sua linha ideológica, e os efeitos políticos colhidos.
Com um Presidente negacionista, que renegou pessoalmente todas as recomendações médicas no trato da COVID-19, e não buscou sinalizar positivamente para a ciência, o resultado não poderia ser outro, atraso na vacinação. Bolsonaro não conduziu o Brasil com responsabilidade rumo ao caminho mais saudável no meio da pandemia, e, sempre que pode, emitiu sinais erráticos, não usando máscara, causando aglomeração, recomendando tratamento ineficaz (cloroquina), com postura insensível às vítimas da Covid. Bolsonaro, inimigo da saúde e da ciência, sabotador da medicina, no curso da pandemia cunhou frases como:
“E daí? Lamento, quer que eu faça o quê?”
“País de maricas”
“Vamos todos morrer um dia”
“Finalzinho da pandemia”
“Não sou coveiro, tá?”
O entorno do presidente respira da mesma toxidade irresponsável do seu chefe, onde não existe visão de Estado ou até mesmo de governo, só a embriaguez do poder que busca desconstruir os adversários com desinformação e mentiras (fake news).
A briga entre Bolsonaro e Dória produziu um descrédito significativo em relação às vacinas. Uma grande parcela da população diz que não irá tomar vacina, seja qual for sua origem, ao passo que, quando se trata da que é produzida ou possui insumos originados da China, quase 50% da população declara que não a tomará.
O que veremos nos próximos dias será uma repetição da briga Governadores versus Bolsonaro.
Enquanto isso, o povo, esperançoso, pergunta:
Cadê a VACINA?
João Américo Monteiro é advogado e comentarista político na Caruaru FM